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Pra que compartilhar a foto de uma criança covardemente assassinada?

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Numa quarta-feira de setembro de 2015, circulou pelo mundo inteiro a imagem chocante do menino sírio morto numa praia da Turquia e que revelava a gravidade da crise migratória naquele ano. A foto foi um dos assuntos mais comentados nas redes sociais.
Inclusive, em 2017, depois do trágico naufrágio no Rio Xingu, em Porto de Moz, lembrei do pequeno Alan (Recordação de tragédia anunciada)
A imagem de uma criança morta assombra qualquer pessoa de bom senso, coração e boa índole. Não precisa ser pai, mãe, avô, padrinho etc. É a inocência de uma vida finalizada de maneira abrupta.
Numa quarta-feira de abril de 2019, já aqui em Altamira, a polícia resolveu o mistério do sumiço de mãe e filha na zona rural do município, que haviam desaparecido no dia anterior.
Ambas foram encontradas enterradas numa cova, covardemente assassinadas, há cerca de 10 quilômetros do centro da cidade.
Hoje, dia 25 de abril, a fotografia do corpo da pequena menina de cinco anos, com as mãos atadas e coberta por terra, estava publicada em vários grupos de um aplicativo de troca de mensagens.
No Brasil, há um ano e uma semana, no dia 17 de abril de 2018, a Comissão de Constituição e Justiça da Câmara Federal aprovou a proposta que pune, com prisão, quem reproduz imagens desonrosas de cadáver na internet e em outras mídias. A pena, inclusive, aumenta em 1/3 se quem divulgou teve acesso às imagens por meio de sua profissão.
O objetivo seria preservar a imagem e a memória dos falecidos, bem como preservar a família dos envolvidos, para que isso não afetasse de forma negativa às boas lembranças de seus entes queridos.
Entretanto, 371 dias depois, a proposta, assim como tantas outras, ainda aguarda a análise do Plenário.
O semiólogo Roland Barthes (1915-1980) escreveu em seu livro A Câmara clara que “no fundo a Fotografia é subversiva, não quando aterroriza, perturba ou mesmo estigmatiza, mas quando é pensativa”.
Não é o caso dessa foto que hoje circulou entre os altamirenses.
Em nada há de se pensar, além de considerarmos desnecessária a divulgação para somente alimentar a curiosidade mórbida de algumas pessoas.
Sebastião Salgado, considerado um dos maiores fotógrafos mundial, disse uma vez que “fotografia são símbolos. Ou você tem uma fotografia que ela sozinha conta a história sem legenda, sem nada, ou você não tem a fotografia”.
A pequena Maria já tinha uma história.
Terá sempre uma história a ser lembrada por quem a conheceu.
Essa fotografia não precisávamos. Nem nós, nem seus parentes e amigos.

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