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Cacau paraense rompe fronteiras com qualidade e aumento da produção

Foto: Wilson Soares - A Voz do Xingu
Foto: Wilson Soares - A Voz do Xingu
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No Dia Mundial do Chocolate, comemorado neste 7 de julho, o Pará não tem a comemorar somente o fato de ser, atualmente, o maior produtor de cacau do país, mas principalmente a qualidade do fruto cultivado, que coloca o Brasil em igual patamar de comparação com outros países mundialmente famosos por esse tipo de exportação. Em 2019, a produção cresceu mais de 17% e chegou a quase 129 mil toneladas de amêndoas, o que representou mais de 51% de toda a produção nacional, deixando a Bahia em segundo lugar.

Para estimular esse cenário, a Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Pará (Emater) tem atuado junto a produtores do Estado oferecendo orientação, organização social e crédito rural. Também oferece treinamentos e faz visitas técnicas às propriedades, com foco no aumento da produção e da produtividade, visando o melhor preço final da amêndoa produzida.

“Nessa interação entre a Emater e o produtor, são tratados de assuntos como a poda do cacaueiro no período de entressafra, adubação e controle fitossanitário com atenção especial a pragas que causam prejuízos às lavouras, além de orientações sobre colheita com atenção para a maturação do fruto e transporte até o local da quebra, e pós-colheita, quando ocorrem os processos de fermentação e secagem das amêndoas, cujo impacto é fundamental para a qualidade do chocolate produzido”, explica o diretor técnico, Rosival Possidônio.

Com uso dos recursos do Fundo de Apoio à Cacauicultura do Estado (Funcacau), em parceria com a Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira (Ceplac) e a Secretaria de Estado de Desenvolvimento Agropecuário e da Pesca (Sedap), a Emater desenvolve o projeto Assistência Técnica e Extensão Rural Integral para a promoção da sustentabilidade de Unidades de Produção Familiar na Cadeia Produtiva do Cacau, que, inicialmente, deve beneficiar 2,6 mil agricultores em 26 municípios paraenses nos próximos quatro anos.

“Por ser uma cultura trabalhada em terrenos familiares, a maioria (70%) menor que dez hectares, porém de grande importância para a cadeia produtiva, a Emater Pará vem aperfeiçoando as ações para esse público, de modo especial nas regiões onde as lavouras de cacau apresentam baixa produtividade, como é o caso da região do Baixo Tocantins, com o cacau de várzea”, detalha Possidônio.

Mercado – Essa atuação leva em consideração também o fato de tratar-se de um mercado competitivo, dominado por grandes empresas, e que os melhores preços dependem fundamentalmente da qualidade do produto que sai das lavouras. “Temos várias razões para apostar no plantio de cacau em nosso Estado: é um cultivo tipicamente amazônico, que contribui para recuperação de áreas alteradas, gerador de empregos, com potencial de expansão e demanda crescente de matéria prima”, justifica o diretor técnico.

Segundo a Sedap, essa cadeia hoje significa emprego e renda para quase 26 mil produtores, 90% deles oriundos da agricultura familiar. A região do Xingu concentra 82% desse total. Só o município de Medicilândia produziu mais de 44 mil toneladas de amêndoas, correspondente a 34,7% de toda a cultura em um único ano. Todo o processo de produção do cacau gera em torno de 64 mil empregos diretos e outros 255 mil indiretos, movimentando cerca de R$ 1,1 bilhão.

“O cacau hoje é grande vetor de desenvolvimento do agronegócio no Pará. Precisamos investir cada vez mais em assistência e tecnologia, isso tudo alinhado à assistência técnica pró-ativa, trabalhando diretamente no campo, onde pretendemos aumentar tanto a área plantada como a quantidade produzida no Estado”, avalia o titular da pasta, Hugo Suenaga.

Resultados – Exemplo da aposta do secretário são os números positivos do 6º Festival Internacional do Chocolate e Flor Pará, que ocorreu em setembro do ano passado, no Hangar Convenções e Feiras da Amazônia. A rodada de negócios resultou na participação de onze empresas, com três compradores internacionais, e negócios futuros acordados de quase R$ 7,7 milhões em apenas três horas de evento.

“Há no Pará 12 empresas que processam chocolate de origem, e a cada dia a gente ouve falar de uma nova. Então é possível que tenha mais do que isso”, estima Suenaga, confirmando que a pandemia também gerou impactos negativos nessa rotina produtiva. “Houve queda nos preços pagos pelas amêndoas secas nas regiões e Estados produtores, mas a comercialização vem se dando de forma mais branda. Em março, com a intensificação do isolamento, houve restrição no deslocamento de veículos, dificultando as entregas de amêndoas nas indústrias, mas esse problema já foi resolvido. O cultivo do fruto mantém o mesmo ritmo”, afirma.

Qualidade – O chef Fabio Sicilia confessa que estava cansado de ver tanta valorização do chocolate de outros países quando uma das melhores matérias-primas do mundo está em solo amazônico. Ele criou a Gaudens Chocolates, em 2012, com o objetivo de apresentar um novo conceito de experiências e sensações.

“O cacau é tão nosso quanto o cupuaçu, o açaí. Não é da Bahia, não estava na África, foi levado daqui para lá, ou de outros países onde também está a Amazônia. A qualidade é excepcional, em especial na Transamazônica, região de solo muito fértil. O de Medicilândia, por exemplo, é fenomenal, não tem condição igual. Acho absurdo se falar em chocolate belga quando temos a matéria-prima. Aprendi que o grande diferencial é saber trabalhar a técnica, mas a qualidade do cacau faz toda a diferença. E temos aqui, só que por incrível que pareça, ainda tem muita gente que não sabe”, atesta.

Segundo a coordenadora de Mercado da Diretoria de Desenvolvimento da Indústria, Comércio e Serviços da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econômico, Mineração e Energia (Sedeme), Luciana Centeno, um dos critérios para as empresas que desejam acessar incentivo fiscais é que o projeto seja sustentável. “Focamos nessa peculiaridade, já que o cacau é uma cultura mantenedora da floresta, mantém o homem no campo, e mais uma série de itens correlatos. A plantação é vinculada aos créditos de carbono, outro fator que também pode ser explorado”, esmiúça.

Dono da Cacauway, o produtor Ademir Venturim chegou ao Pará no meio da década de 1980, e em 1991, em Medicilândia, se envolveu com a cultura do fruto. Ele considera fundamental a participação do Estado em toda discussão que ajude a fortalecer um mercado que ainda tem muito a ser explorado. “Já participei de várias atividades promovidas pela Emater, Sedap e Ceplac de capacitação para produção e também de inovação tecnológica. Ajudamos a discutir o preço mínimo do cacau no Estado, considerando que o plantio tem a ver com a preservação do meio ambiente e representa 80% da economia do município. Inclusive o Funcacau tem origem nessa proposta de verticalizar para ajudar a economia. A gente parabeniza pelo envolvimento, pelo suporte, é uma parceria formidável”, elogia o empresário.

Agência Pará

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