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Covid-19 oferece maior risco em crianças cardiopatas

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A cardiopatia congênita é a segunda maior causa de morte de crianças em todo o Brasil, perdeno apenas para a má formação cerebral. Uma em cada 100 crianças nascidas no Brasil apresenta um quadro de cardiopatia congênita: uma má formação no coração. Os dados do Ministério da Saúde mostram que a doença afeta cerca de 29 mil crianças a cada ano e a maioria precisa de cirurgia já no primeiro ano de vida.

A Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC) vai além e afirma que os dados sobre a doença no país são subestimados devido à falta de diagnóstico nos hospitais brasileiros. Em tempos da pandemia da covid-19, especialista alerta que o novo coronavírus apresenta maior risco às crianças cardiopatas operadas ou não.

Nesta sexta-feira (12) é celebrado o Dia Nacional de Conscientização da Cardiopatia Congênita. Um dos principais problemas apontados por um grupo de mães organizadas na Comunidade Cardiopatia Congênita no Brasil é que nem todos os estados brasileiros, inclusive o Pará, oferecem exames e tratamento adequado. E, muitas vezes, precisam recorrer à Justiça para garantir o atendimento e o diagnóstico é emitido somente após o óbito. As ações já iniciaram desde o último dia 5 e apresentam diversas bandeiras de lutas. A campanha se dá principalmente pelas redes sociais.

“Queremos ajudar a conscientizar e alertar a sociedade para o problema. O principal deles é garantir o protocolo do exame ecofetal para ser obrigatório, feito aos sete meses de gravidez, que pode mudar a vida de muitas crianças. Hoje, no Pará, é feita somente a ultrassonografia morfológica. O ecofetal é somente feito pelo SUS e no Hospital das Clínicas. Queremos que as grávidas solicitem a realização para o médico, que precisam se sensibilizar”, afirma a advogada Valena Jacob, mãe do pequeno Davi Jacob Mesquita. Ele tem dois anos e três meses e já se submeteu a duas cirurgias corretivas do coração e fará outra em 2021, em São Paulo.

Segundo Valena, há casos em que, mesmo fazendo a morfológica, o problema não é verificado e a criança nasce com a cardiopatia congênita, como ocorreu com ela. Além disso, as mães objetivam que os planos de saúde garantam o ecofetal e a estrutura à realização de cirurgias no Estado, pois ainda hoje é preciso fazer em São Paulo. “Esses direitos quando são garantidos se dão somente ao recorremos na Justiça”.

Cardiopatia congênita

Josélia Mansour, cardiopediatra e ecocardiografista infantil e fetal, explica que cardiopatias congênitas são malformações na estrutura e função do coração, e ocorrem na fase de formação deste órgão, durante a gestação. “O coração é o primeiro órgão a ser formado, sendo que geralmente com oito semanas de gestação ele já pode ser ouvido nos exames de ultrassom”.

Em relação à prevenção, a médica esclarece que as cardiopatias congênitas são doenças que ocorrem por interação de fatores genéticos e ambientais, sendo que alguns fatores podem aumentar o risco de cardiopatia fetal, como idade da gestante (acima de 35 anos), histórico de filho anterior cardiopata e infecções durante a gestação.

“As gestantes devem ter uma alimentação balanceada, evitando os excessos (especialmente de açúcar), evitar uso de algumas medicações (lítio, anti-inflamatórios, anti convulsivos e ácido retinóico), assim como a exposição à radiação. É importante as doenças pré-existentes estarem controladas (como diabetes, doenças reumatológicas, hipotireoidismo ), sempre orientadas pelo especialista e pelo obstetra”, frisa a cardiopediatra.

Para a médica, o diagnóstico antes do nascimento é de grande importância para as malformações cardíacas complexas (graves), que precisarão ser tratadas com cirurgia logo após o nascimento. “O diagnóstico é suspeitado pelo quadro clínico do bebê, como a presença de cansaço ao repouso ou às mamadas, cianose (cor arroxeada, principalmente ao redor dos lábios), sudorese, palidez, dificuldade em ganhar peso e infecções pulmonares de repetição”, alerta.

Contudo, o diagnóstico da cardiopatia é confirmado pelo ecocardiograma, que pode ser realizado desde o período fetal (ecocardiograma fetal), proporcionando diagnóstico e tratamento precoce, o que pode salvar vidas. “Após nascimento, deve ser feito através do ecocardiograma transtorácico (diretamente no tórax do bebê), que é um exame indolor, de grande importância”, ressalta a médica.

Ela explica ainda que a maioria das cardiopatias congênitas tem resolução espontânea com o avançar da idade, necessitando apenas de tratamento com medicações por um período de tempo. “Uma pequena parte das crianças necessitará de intervenção, através de cateterismo cardíaco ou cirurgia cardíaca, cujo momento da realização será determinado conforme evolução do quadro da criança e resposta aos medicamentos, conforme acompanhamento com cardiopediatra”.

Josélia Mansour atua em unidades privadas e na coordenação da clínica pediátrica cardiológica do Hospital de Clínicas Gaspar Vianna – único hospital referência em cardiopatia congênita no Estado.

Covid-19

Além disso, em tempos da pandemia, mães de crianças com cardiopatia congênita estão preocupadas e aflitas, já que a covid-19 apresenta maior risco para esse público. “Ficamos presos, em isolamento, em casa com medo da doença, porque a saturação do David já é baixa, em média de 75 a 85. Fazemos oxigênio e todos os cuidados em casa”, conta Valena Jacob.

Segundo a cardiopediatra Josélia Mansour, o novo coronavírus apresenta maior risco para crianças cardiopatas que ainda não foram operadas e que apresentam repercussão clínica, ou crianças operadas com lesão residual, assim como naquelas com cardiopatia grave, mesmo que operadas. “Nesses pacientes, que apresentam uma doença crônica como comorbidade, o vírus pode causar um quadro mais severo, com comprometimento de vários órgãos e sistemas”, alerta.

A médica orienta alguns cuidados dos pacientes cardiopatas devem ter em relação à covid-19. Um deles é o isolamento social, em especial para as crianças abaixo de dois anos, onde não é indicado o uso de máscaras e manter alimentação saudável e hidratação adequada (conforme tipo de cardiopatia). Além de manter acompanhando cardiológico e uso de medicações prescritas pelo cardiopediatra e o calendário vacinal atualizado.

Em casos de sinais de alerta, aconselha procurar atendimento médico na criança cardiopata em caso de síndrome gripal: febre alta persistente, com tosse persistente, cansaço, cianose, comprometimento do estado geral, recusa alimentar, vômitos, sintomas neurológicos.

Nota 

A Secretaria de Estado de Saúde Pública (Sespa) informa que a Fundação Hospital de Clínicas Gaspar Vianna é a referência para o tratamento de cardiopatia congênita. O hospital dispõe de exames de Ecocardiograma fetal e transtorácico, além de realizar cateterismo cardíaco e cirurgia cardíaca de crianças recém nascidas até os 13 anos. O HC possui oito leitos de UTI Neonatal e oito leitos de UTI pediátrica, além de 21 leitos clínicos. Cerca de oito cirurgias cardíacas infantis são realizadas por semana e seis cateterismos cardíacos infantis.

A Sespa informa ainda que o pré-natal de alto risco é feito nos serviços especializados do Estado, que orientam o encaminhamento tanto da mãe cardiopata, como da mãe com bebê suspeito da doença. Sobre o teste do coraçãozinho, a Secretaria orienta que todas as maternidades realizem o procedimento de acordo com uma portaria que incluiu o procedimento nos exames de triagens neonatais.

Fonte: O Liberal

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