O Pará e Mato Grosso são os estados que acumulam as maiores áreas queimadas na Amazônia nos últimos anos. Juntos, Pará (31%) e Mato Grosso (29%) correspondem por 60% das queimadas na região amazônica. No total do território brasileiro, o Pará ocupa a vice-liderança em área total queimada nos últimos 36 anos (215.715 km²), atrás apenas do Mato Grosso (389.014 km²). Nos dois estados o fogo afeta mais as áreas de vegetação nativa do que as áreas de uso do solo consolidadas. No Pará 40% da área queimada atingiu vegetação nativa, principalmente as áreas de formação campestre. Em relação ao fogo em área antropizada, aquela em que há a presença do homem, as pastagens registraram maior área queimada no Estado com 60% em relação às áreas de agricultura, sendo que 73% das áreas queimadas na Amazônia ocorreram nos meses de agosto (17%) setembro (34%) e outubro (22%).
Esses resultados fazem parte do MapBiomas, uma plataforma multi-institucional, que envolve a parceria de universidades, ONGs e empresas de tecnologia, focadas em monitorar as transformações na cobertura e no uso da terra no Brasil. É considerada a mais atualizada e detalhada base de dados espaciais de uso da terra em um país disponível entre as demais plataformas no mundo.
O Mapbiomas faz hoje o lançamento de uma nova série de mapeamentos históricos das cicatrizes do fogo no Brasil. São dados inéditos, e preocupantes, coletados entre 1985 e 2020 para entender o impacto do fogo sobre o território nacional. Nesses 36 anos, segundo o trabalho desenvolvido pela plataforma, o Brasil queimou uma área maior que a Inglaterra. Foram 150.957 km² por ano.
Os especialistas definem as queimadas na Amazônia comparando com uma casa que pegasse fogo todos os anos sem que nenhuma providência fosse tomada para evitar os incêndios. “Uma casa que pega fogo todos os anos: esse é o retrato do Brasil – e da Amazônia – obtido pelo MapBiomas após analisar imagens de satélite entre 1985 e 2020 para entender o impacto do fogo sobre o território nacional”, revela o estudo divulgado hoje.
No mês passado, ao divulgar o relatório anual de desmatamento referente ao ano de 2020, o pesquisador Antônio Fonseca, do Imazon (Instituto do Homem e do Meio Ambiente da Amazônia), mostrou que um dos destaques do referido relatório foi exatamente o aumento no número de alertas na região. “Foram 54.974 alertas detectados, um aumento de 23% comparado com os dados de 2019”, informou.
Outro dado importante trazido por Fonseca foi a liderança do Estado do Pará no ranking dos que mais desmataram, com aproximadamente 48% do total da área de perda de floresta. Segundo o relatório, 49% da área desmatada no Brasil se concentrou em 50 municípios, 15 deles no Pará em 2020.
Todos os alertas feitos não apenas pelo Imazon, mas pelos demais órgãos como Inpe, entre outros, já mostravam, ano a ano, que o fogo na Amazônia prenunciava uma tragédia. Mais de dois terços do fogo na Amazônia ocorreu mais de uma vez no período e em 48% dos casos, nos mesmos locais, sendo que alguns chegaram a queimar mais de três vezes. Outros 39% das queimadas ocorreram em áreas naturais.
“Analisar as cicatrizes do fogo ao longo do tempo permite entender as mudanças no seu regime de fogo e seu avanço sobre o território brasileiro. Saímos de menos de 200 mil km² de área queimada em 1985 para chegar perto de dois milhões de quilômetros quadrados em 2020 em uma escalada constante e ininterrupta”, explica Ane Alencar, coordenadora do MapBiomas/Fogo. “Outro dado preocupante é que cerca de 61% das áreas afetadas pelo fogo entre 1985 e 2020 foram queimadas duas vezes ou mais, ou seja, não estamos falando de eventos isolados”.
Embora os grandes picos de área queimada no Brasil tenham ocorrido principalmente em anos impactados por eventos de seca extrema (1987/1988/1993/1998 /1999/2007/2010/2017), altas taxas de desmatamento, principalmente antes de 2005 e depois de 2019, tiveram um grande impacto no aumento da área queimada nesses períodos. A estação seca, entre julho e outubro, concentra 83% da ocorrência de eventos de fogo.
Fonte: DOL