Prefeitos de sete municípios da região do Xingu, vereadores, pecuaristas, produtores rurais e representantes de sindicatos se reuniram na manhã desta segunda-feira (20 jan. 2025), na sede da Associação dos Municípios do Consórcio Belo Monte (ACBM), em Altamira, para debater e buscar soluções para os conflitos agrários e os crimes ambientais que vêm ocorrendo na região da Transamazônica, no sudoeste do Pará.
O encontro contou com a presença do comandante do 16º Batalhão da Polícia Militar e do delegado da Delegacia Especializada em Conflitos Agrários (Deca).
Durante a reunião, produtores rurais expressaram preocupação com as invasões de propriedades na zona rural de Uruará. Segundo relatos, muitos invasores já possuem terras em outras localidades. Alguns seriam comerciantes, enquanto outros são acusados de agir de má-fé, com o objetivo de invadir as áreas para revendê-las.

Foto: Wilson Soares – A Voz do Xingu
“Estamos enfrentando um problema de invasões em toda a região, e, neste momento, o caso mais grave está em Uruará”, destacou Bruno Vale, presidente do Sindicato dos Produtores Rurais de Uruará.
Relatos de crimes ambientais
O agrônomo Adriano Camargo, administrador da Fazenda Junqueira, localizada no travessão do km 140 Sul, foi convidado a detalhar aos presentes sobre as invasões que vêm ocorrendo na propriedade. A Fazenda Junqueira gera hoje mais de 40 empregos diretos, todos com carteira assinada, e atua no cultivo de cacau e na criação de gado de corte. Desde 2021, os proprietários têm enfrentado constantes invasões, que, segundo Adriano, só se agravaram ao longo do tempo. Durante esse período, os invasores já desmataram e queimaram mais de 800 hectares de área de reserva legal. Nos últimos dias, as ações criminosas se intensificaram, com cercas cortadas, porteiras arrancadas e ameaças direcionadas aos responsáveis pela fazenda.

Todas essas ações criminosas cometidas pelos invasores têm sido denunciadas às autoridades competentes, como a Polícia Civil, a Secretaria de Meio Ambiente e Sustentabilidade (Semas) e o Ibama. Esses órgãos já estiveram na área, aplicaram multas a uma associação apontada como responsável pelas destruições e embargaram a área invadida. No entanto, mesmo com as sanções, os invasores seguem desrespeitando as leis.

Foto: Wilson Soares – A Voz do Xingu
De acordo com relatos de moradores próximos às áreas invadidas, os acusados seguem desmatando, inclusive árvores protegidas, como a castanheira. Recentemente, iniciaram o plantio de cacau, prática que infringe as restrições impostas pelo embargo do Ibama. Esses crimes ambientais foram confirmados por uma perícia realizada na propriedade pela Polícia Científica do Pará em 2024.
Investigações e responsabilizações
O delegado Michael Andrey de Souza Oliveira, da Deca de Altamira, afirmou que várias operações nas áreas invadidas da Fazenda Junqueira foram realizadas com o apoio da Semas e que um inquérito, com o indiciamento de quatro pessoas, já está pronto para ser encaminhado à Justiça.

Delegado da Deca – Michael Andrey de Souza Oliveira / Foto: Wilson Soares
“As investigações relacionadas a essas áreas já foram concluídas. Identificamos quatro pessoas que serão indiciadas, e agora os inquéritos serão enviados à Justiça e ao Ministério Público para que sejam tomadas as devidas decisões”, declarou a autoridade policial durante seu pronunciamento.
Propostas e mobilização
Mais de 60 pessoas participaram da reunião, que também contou com a presença remota do deputado estadual Aveilton Souza. O parlamentar reforçou que tem cobrado ações do Governo do Estado diante da gravidade da situação.
Ao final do encontro, foi formulada uma pauta de reivindicações que será apresentada ao governador Helder Barbalho. Entre as demandas estão: zerar o número de invasões de terra na região da Transamazônica, intensificar as fiscalizações por meio da Operação Curupira, promover a regularização fundiária junto ao Incra e fortalecer a patrulha rural, desenvolvida pela Polícia Militar.
“Decidimos que precisamos nos unir. Vamos levar essas demandas ao governador para fortalecer o policiamento e proteger a região”, afirmou Bruno Vale.
Os proprietários da Fazenda Junqueira já protocolaram o pedido de reintegração de posse e agora aguardam um parecer da Justiça.

Alfredo Bertunes, assessor jurídico do Sindicato dos Produtores Rurais de Altamira (Siralta).
“O que esperamos do Poder Judiciário é que essas decisões possam ser tomadas o mais rapidamente possível, pois quanto mais o tempo passa, essas invasões se consolidam, mais difícil se torna a retirada desses invasores”, disse Alfredo Bertunes, assessor jurídico do Sindicato dos Produtores Rurais de Altamira (Siralta).
Por Wilson Soares – A Voz do Xingu