A alimentação e a energia elétrica estão entre os itens que mais pesaram no bolso dos consumidores paraenses na pandemia, segundo apontam especialistas, com base no Indicador Ipea de Inflação por Faixa de Renda. Os dados foram divulgados esta semana, pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), e mostram aceleração inflacionária para todas as classes de renda em julho deste ano, pelo segundo mês consecutivo.
A situação é pior para as famílias com renda até R$ 1.534,55/mês, com alta mensal de 0,38%. Para os mais ricos, com renda familiar acima de R$ 15.345,53, a inflação foi de 0,27%. O impacto foi sentido no Pará, assim como em todo o País, no entanto, os setores de comércio e serviço foram os que mais tiveram significativos abalos financeiros, por fazer parte do grupo de trabalhadores sem renda fixa.
Ao passar o período mais severo das medidas de isolamento social, em função da pandemia do novo coronavírus, não era esperado um aumento inflacionário para o setor do comércio. O presidente Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL), Álvaro Cordoval, no entanto, garante que esse acréscimo foi sentido. “Percebeu-se um aumento, no entanto, não era esperado e nem tampouco desejado, sobretudo neste período em que estamos tentando nos estabilizar no mercado”, disse.
Apesar da elevação, o segmento garante que ele não teve grandes impactos econômicos. “Foi sentido levemente essa inflação, mas ela não gerou índices muito baixos no setor. Em relação aos aluguéis dos pontos comerciais, não se tem falado em reajustes, e sim, na volta do valor contratual que foi revisto durante os últimos meses por conta da pandemia. Esse valor deve voltar ao normal, com as atividades flexibilizadas e gradual”, observou.
Habitação
No estudo, as despesas com habitação foram as que mais pesaram no bolso dos mais pobres em julho, devido aos reajustes de 2,6% na tarifa de energia elétrica e de 0,53% nos aluguéis. Os itens responderam por 50% da variação total da inflação do segmento de menor renda. As famílias de menor poder aquisitivo também sofreram com alguma pressão vinda dos alimentos no domicílio, especialmente carnes (3,7%) e leites e derivados (3,8%). Ainda que em menor escala, a alta do grupo transportes – com aumento dos combustíveis (3,1%) e das tarifas de metrô (0,94%) – também ajuda a explicar este quadro inflacionário para a faixa de renda mais baixa.
Diante à pandemia, a cabelereira Tânia Lopes, de 46 anos, teve de fechar o salão no bairro da Pedreira. Com a volta das atividades, ela já procura outro ponto, porém, teme não conseguir arcar com as despesas, sobretudo de aluguel e da energia elétrica.
“Para quem presta serviço, não tem carteira assinada ou mesmo uma renda certa no final do mês, qualquer aumento é significativo. Passei a atender os clientes em casa e o combustível teve aumento. Tivemos de passar esses valores aos clientes, e isso não gosto de fazer. Porém, é necessário para eu ir até eles. Já estou procurando um novo ponto, mas com os valores aumentando, nosso medo é de não dar conta das despesas e ter de fechar novamente”, observou.
O economista Nélio Bordalo explicou que o estudo aponta a aceleração da inflação puxada, sobretudo, pela energia elétrica e os alimentos. “As pessoas de baixa ou de alta renda são afetados com o aumento da inflação. Porém, os de baixo poder aquisitivo são os mais impactados por ter uma renda menor, o que faz ter uma redução de consumo. Já quem ganha acima de R$ 15 mil, pode usar outras ferramentas para amenizar essas altas, como cartão de crédito, assim, ele tem uma maior flexibilidade de pagar as despesas ou mesmo de parcelar”, explicou.
Nélio também observa que a alimentação gerou um impacto significativo na renda dos mais pobres. “No supermercado, o consumo não é mais o mesmo. As pessoas estão tendo de escolher o que levar para driblar a inflação. Em função da pandemia, essas famílias ficaram mais em casa e, consequentemente, tiveram maior consumo com a comida, energia elétrica. Os trabalhadores informais perderam renda, tudo isso, impactou diretamente na vida da população mais pobre”, afirmou.
Para a classe de renda mais alta, o peso dos combustíveis fez com que o grupo transporte explicasse quase 65% de toda a inflação registrada em julho. Essa contribuição foi aliviada pela queda nos preços das passagens aéreas (-4,2%) e no transporte por aplicativo (-8,2%). As famílias mais ricas também se beneficiaram com as deflações dos itens empregada doméstica (-0,52%), clube (-1,46%) e hospedagem (-0,95%).
No acumulado do ano, a inflação continua mais amena para as classes mais altas (0,03%), comparativamente aos segmentos de renda mais baixa (1,2%). Nos últimos 12 meses, a inflação dos mais pobres foi de 2,9%, acima do índice de 1,7% que atingiu as famílias de maior poder aquisitivo.
O Indicador Ipea de Inflação por Faixa de Renda é calculado mensalmente, com base nas variações de preços de bens e serviços disponibilizados pelo Sistema Nacional de Índice de Preços ao Consumidor (SNIPC), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Fonte: O Liberal