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Câncer infanto-juvenil: diagnóstico precoce é primordial para tratamento e cura

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O câncer infanto-juvenil é um dos graves problemas da saúde pública no Brasil. Segundo o Instituto Nacional de Câncer (Inca), a expectativa é de que a cada ano do triênio 2020-2022 sejam diagnosticados no país 8.460 novos casos de câncer infanto-juvenis (4.310 em homens e 4.150 em mulheres). Já no Pará, de acordo com a Secretaria de Estado de Saúde Pública (Sespa), somente no primeiro semestre de 2020, foram registrados 202 casos da doença.

Como não há exames preventivos para crianças e adolescentes que podem ser acometidos pelo câncer, como ocorre com os adultos na prevenção do câncer de próstata ou de mama, por exemplo, o diagnóstico precoce se torna parte essencial do tratamento. Segundo a oncologista pediátrica Renata Barra, o diagnóstico na infância e adolescência é diferente do adulto. Em pessoas de mais idade, é possível saber a faixa etária em que a doença está mais propensa a aparecer, mas com os pequenos isso não acontece.

“Não é a mesma coisa. No adulto, há prevenção por conta dos fatores de risco, como sedentarismo, má alimentação, bebida e cigarro. Fazemos, então, o que chamamos de prevenção primária, que é a mamografia, para câncer de mama; Antígeno Prostático Específico (PSA), para o de próstata; Papanicolau, para o de colo de útero; entre outros. Não há essa prevenção na oncopediatria. O que temos é a prevenção secundária, que são os diagnósticos precoces, a partir de sinais e sintomas que a criança pode ter. Entre eles está a febre persistente, mesmo depois da criança ter afastado qualquer infecção e que não melhora com nada, dor de cabeça persistente acompanhada de vômito, quando a criança começa a cair sem trauma associado, manchas pelo corpo, sangramento, palidez, tudo que foge do normal. Qualquer alteração de hemograma de rotina deve ser levada a um profissional”, orienta a médica.

Renata Barra atua no Hospital Oncológico Infantil, especializado neste tipo de tratamento. A especialista explica que existem alguns cânceres que acometem mais as crianças e adolescentes. São eles a leucemia, que é um câncer hematológico, ou seja, no sangue; os que atingem o sistema nervoso central; e os tumores abdominais. Em seguida aparecem os tumores mais raros, como os ósseos. Já a idade compreendida no termo “infanto-juvenil” é de zero a 19 anos. Segundo a oncologista, nos casos de crianças que têm menos de um ano e nas que têm acima de 10, o risco é considerado alto. Entre um e nove anos, por outro lado, a resposta ao tratamento é melhor e não há tanta recaída.

O fator hereditário não tem tanta relevância no aparecimento da doença em pessoas mais jovens, explica Renata. “Existem algumas síndromes relacionadas ao surgimento do câncer na infância. Mas, de forma geral, qualquer pessoa pode ter câncer, inclusive hoje a estatística é de que a cada cinco pessoas adultas quatro terão a doença no Brasil. A criança, diferentemente, não tem os fatores de risco, não fumam, não bebem, não têm hábitos ruins. E aí tem a questão do gene, da biologia molecular, que causa mutações genéticas e leva ao câncer, como uma célula que se prolifera de forma desordenada. Não existe comprovação de que pais podem influenciar no aparecimento de câncer em seus filhos”, comenta.

O lado positivo é que, diferente do adulto, a criança tem uma excelente resposta ao tratamento, diz a médica, a exemplo da quimioterapia. Já a agressividade da doença é a mesma de um adulto. A diferença, segundo Renata, é a falta do diagnóstico precoce. Ela afirma que as crianças paraenses são, muitas vezes, desnutridas, vêm de longe para a capital, têm pouco acesso a saúde de qualidade e, em muitos casos, já chegam ao hospital com estágio avançado, o que compromete o tratamento.

Entre os desafios para o futuro, a oncologista pediátrica destaca o rastreamento mais eficiente da doença em crianças e adolescentes. “Assim como os adultos, os mais jovens precisam saber que devem ter bons hábitos alimentares, praticar atividade física, dormir bem, ter uma vida tranquila, fazer consulta periódica. Isso é primordial. Temos um programa de diagnóstico precoce no hospital, em que saímos para as Unidades Básicas de Saúde (UBS) e escolas, orientamos professores e agentes de saúde para que eles sejam nossos olhos e saibam identificar um sintoma e sinalizar”, enfatiza a especialista.

O Hospital Oncológico Infantil Octávio Lobo foi inaugurado em 2015. Até então, os pacientes de câncer infanto-juvenil eram atendidos no Hospital Ophir Loyola – também referência em tratamento oncológico. Uma das pessoas que iniciou o tratamento no Ophir Loyola e depois foi transferido ao Octávio Lobo foi Cristian do Amaral Menezes, hoje com 20 anos de idade. Ele teve uma leucemia detectada 10 anos atrás, e agora está curado da doença.

A mãe, a funcionária pública Claudete Francisca do Amaral Menezes, de 45 anos, conta que, na época, o filho pegou catapora, ficou curado, mas a febre e a dor nos ossos não passavam. Todas as noites Cristian tinha uma crise. Então, a família começou a investigar, levando a criança ao médico.

“Moramos em Canaã dos Carajás, levei nos médicos de lá, ele ainda ficou uns 15 dias internado no hospital municipal, e aí o médico desconfiou que ele tava com leucemia e mandou a gente para Belém. Ele fez os exames e na data marcada de retorno recebemos a bomba. Ele já estava com 96% do sangue comprometido”, lembra Claudete.

Para ela, o momento é descrito hoje como “devastador”. A mãe precisou parar de trabalhar durante dois anos e meio para cuidar do filho. Os dois se mudaram para Belém, onde permaneceram durante dois anos, longe do irmão de Cristian e do marido de Claudete, que visitava a família uma vez ao mês na capital. Quando o paciente entrou na fase de “manutenção”, em que precisava estar em Belém a cada duas semanas, a mãe e o filho voltaram para o interior e só vinham à capital na data marcada para o tratamento.

“Quase enlouqueci, toda a família. Foi um baque muito grande, que mudou a vida de todos nós, principalmente a minha. Desde o início, a médica é a mesma. Ela não deu muita chance de sobrevivência a ele, disse que o tipo de câncer era muito difícil de tratar. De imediato ficamos desesperados, mas começamos a ter fé em Deus e eu falei para ela na consulta que a última palavra vinha lá de cima”, relata Claudete.

De acordo com ela, o tratamento foi muito difícil tanto para Cristian quanto para a família que o cercava. Logo no início, o paciente começou a fazer quimioterapia, tratamento que utiliza medicamentos para destruir as células doentes. Primeiro, isso era feito todos os dias; depois passou a ser quinzenal; e depois mensal. Após um ano, Cristian já não apresentava muitos sinais da doença, mas manteve o tratamento durante quatro anos e meio. Nesse período, a mãe conta que ele não podia sair de casa, ficar em ambientes lotados, tomar banho de piscina ou de rio. Como a imunidade era baixa, ele ficava apenas em casa, praticamente.

Após isso, Cristian voltou a ter uma vida normal, suspendeu os remédios e a quimioterapia e ficou fazendo apenas acompanhamento de rotina. Ele voltou para a escola quando terminou o tratamento e hoje trabalha como Jovem Aprendiz na empresa Vale, seu primeiro emprego. Para o futuro, o jovem de 20 anos pensa em ser médico e ajudar outras pessoas que enfrentam a mesma situação pela qual ele passou.

Nesta quarta-feira (10), o paciente voltou ao hospital onde foi tratado para tocar o “sino da vitória”, projeto da instituição em que um sino é tocado por quem concluiu o tratamento contra o câncer. Além do sino fixo na recepção, o projeto conta também com um sino móvel para que os usuários possam tocá-lo pelos corredores do hospital, compartilhando a vitória com outros colaboradores e crianças internadas.

“O sino significa a cura, nem sei explicar a emoção que foi ver ele tocando. É um alívio, muito gratificante, uma superação enorme. Os médicos não acreditam em milagre, mas sei que isso foi um milagre de Deus na vida do meu filho”, comemora a mãe Claudete.

Fonte: O Liberal

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