Trinta famílias da Reserva Extrativista Verde para Sempre, localizada em Porto de Moz, na região do Xingu, tem na extração legal da madeira a fonte de sustento e a esperança de dias melhores. Equilíbrio entre o que vem da natureza e o manejo florestal madeireiro comunitário é a chave da atividade legalizada, que contou com a autorização do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio).
Para conseguir os recursos financeiros necessários aos custos da extração, o grupo buscou auxílio no Banco da Amazônia (Basa). Esta foi a primeira vez que Banco realizou o financiamento concedido no formato de crédito individual com autorização para uso coletivo, um arranjo financeiro único, especialmente concebido para atender as peculiaridades das famílias da Resex.
Após assinatura dos contratos, comunitários e cooperadas esperam melhoras nos negócios
A administração dos recursos é comunitária, feita pela Cooperativa Mista Agroextrativista Nossa Senhora do Perpétuo Socorro do Rio Arimum (Coonspra) e pela Associação Comunitária Agroextrativista do Rio Curuminim. O primeiro financiamento foi entregue em parcela única, com prazo de pagamento de até dois anos e juros a 3% ao ano, até então, a menor taxa de custeio do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf). Agora, a Cooperativa já está na primeira renovação do financiamento com prazo de finalização para 2022.
“A Cooperativa Mista Agroextrativista Nossa Senhora do Perpétuo Socorro do Rio Arimum (Coonspra) foi escolhida porque tinha o selo Verde FSC (sigla em inglês para a palavra Forest Stewardship Council). Já estavam operacionais e licenciados. Observamos que quem financiava a atividade era a própria indústria, os compradores de madeira. Assim, os extrativistas ficavam “amarrados” em um fornecedor apenas e não tinham poder de barganha. Eram obrigados a vender no preço que os fornecedores ofereciam, pagando cerca de 30% a 40% abaixo do preço comum de venda”, explica o gerente geral da Agência do Basa em Altamira, Plínio Neto, sobre a operação inédita conduzida pelo Banco.
Iniciativas como essa garantem mais autonomia aos extrativistas. Rosalina Ferreira, cooperada da Coonspra, conta que antes do financiamento, o grupo enfrentava dificuldades quanto à extração da madeira. Depois da adesão ao crédito rural, as perspectivas são as melhores para toda a comunidade.
“Foi uma iniciativa de caráter experimental e recomendo. A gente ficou independente, conseguiu fazer nosso trabalho. Agora somos só nós, de nenhuma forma ficamos na mão da empresa. Deu certo, estamos com dinheiro em caixa, sem dívidas na praça. A gente está trabalhando sem preocupação”, afirma Rosalina.
A extrativista Rosalina Ferreira comemora resultados positivos após o financiamento (Divulgação)
Apoio de diversas entidades facilita acesso ao crédito
O financiamento para a Resex Verde Para Sempre foi possível após um trabalho que começou em junho de 2018, quando 26 especialistas de cinco instituições diferentes elaboraram a primeira planilha de risco técnico agrícola para o custeio de Manejo Florestal Comunitário Familiar (MFCF). O instrumento é fundamental para cooperativas e associações extrativistas da Amazônia acessarem crédito junto ao sistema financeiro.
Uma das entidades apoiadoras é o Instituto Conexões Sustentáveis (Conexsus), agente de crédito rural do Banco da Amazônia. A parceria visa a expansão do acesso ao crédito rural pelos agricultores e produtores rurais familiares da Amazônia, conforme o que determina o Manual de Crédito Rural (MCR).
Por meio dos técnicos ativadores de crédito socioambiental da Conexsus, a comunidade conseguiu, entre outras ações, preencher os dados cadastrais e juntar a documentação comprobatória, de forma correta; e receber orientação sobre as normas do crédito rural, do seguro rural, do Programa de Garantia da Atividade Agropecuária (Proagro) e das especificidades relacionadas à linha de crédito.
Hoje já são 25 ativadores trabalhando em Portel, Curralinho, Novo Repartimento, Altamira, São Félix do Xingu, Anapu, Vitória do Xingu, Brasil Novo, Medicilândia e Uruará, no Estado do Pará, e no distrito de Nova California, em Porto Velho.
O coordenador do Núcleo de Crédito Rural da Conexsus, João Luiz Guadagnin, avalia o serviço de crédito socioambiental como “diferenciado, educativo, com responsabilidade e qualidade”.
Ele enumera os benefícios: “ampliação do número de unidades familiares de produção que acessam o crédito rural para atividades sustentáveis geradoras de renda, ampliação das oportunidades de trabalho e o melhor emprego da força de trabalho familiar com a melhoria da renda. Contribuímos para que as unidades familiares de produção preservem os recursos naturais e para a melhoria do processo produtivo”, destaca.
Coordenador da Conexsus, João Luiz Guadagnin, avalia o serviço de crédito socioambiental como “diferenciado, educativo, com responsabilidade e qualidade”
Outras instituições também contribuíram para que a comunidade pudesse fazer o manejo florestal sustentável. É o caso da Embrapa, que orienta as famílias de extrativistas a entender como funciona o crédito rural e a responsabilidade na aplicação dos recursos, para obter sucesso nos projetos.
“Os arranjos propostos para o manejo florestal comunitário em área pública de uso coletivo com o uso de crédito rural (Custeio e Investimento) só foi possível por conta de um esforço conjunto entre Empresas de Assistência Técnica e as organizações sociais locais que identificaram o público-alvo, suas necessidades de crédito, forma de aplicação e comercialização sempre com o diálogo com o Agente de Crédito, que contribuiu para o êxito dos financiamentos”, finaliza o coordenador da Emater em Porto de Moz, Jackson da Silva Lima.
Comunidade recebe orientações de entidades, entre elas, a Emater
Fonte: Roma News