No Pará, 201 mulheres morreram após desenvolverem câncer do colo do útero (ou cervical) ao longo deste ano. Em 2020, foram 324 óbitos. Os dados são da Secretaria de Estado de Saúde Pública (Sespa). Esse é o terceiro tipo de câncer que mais mata no estado e pelo menos 90% dos casos poderiam ser prevenidos com a vacina contra o papiloma vírus humano (HPV), que está disponível na rede pública de saúde. Em todo o Brasil, a Agência Internacional de Pesquisa em Câncer (IRCA) aponta 311 mil casos no ano passado.
Apesar da vacinação contra a covid-19 estar alta no estado, a do HPV não está na meta estipulada. Em meninas, o menor percentual está na faixa etária de 9 anos, 8,59%, em meninos, chega até 26,78% entre os adolescentes de 14 anos, como aponta a Sespa. Esses baixos números também estão relacionados a fake news que atribuem o imunizante ao surgimento de câncer e até mesmo em agir como incentivo para que crianças e adolescentes possam iniciar a vida sexual, como observa o vice-presidente da Sociedade Brasileira de Cancerologia, o médico Luís Eduardo Werneck.
No Brasil, a vacina contra o HPV pode ser aplicada em meninas a partir dos 9 anos de idade e também é oferecida para meninos, a partir dos 11 anos. Eles fazem parte das estratégias de imunização porque podem agir como agentes transmissores e, além disso, a vacina pode proteger contra cânceres de colo de útero, pênis, ânus e de garganta.
Werneck acrescenta que o câncer de colo de útero é o único completamente evitável. Se fosse mais incentivado o uso da vacina, poderia impactar na questão econômica do estado. Para ele, a prevenção é bem simples: vacinação e relações sexuais com camisinha. Além disso, as famílias precisam ter um diálogo aberto sobre sexualidade. “Os diagnósticos desse tipo de câncer são alarmantes, crescentes e batem recordes nos ambulatórios do Pará. Falar sobre sexo ainda é um tabu no país. Quanto menor o nível econômico, maior é a desinformação. Essa é a grande barreira para a ampla adesão dessas crianças às campanhas e é necessário informação nas escolas para esclarecer a esse público e aos pais acerca dos benefícios do imunizantes”, ressalta.
Um estudo observacional foi publicado recentemente no jornal científico The Lancet mostrou os efeitos do programa nacional de vacinação contra o HPV na Inglaterra Os dados divulgados por cientistas da Universidade King’s College mostraram a eficácia da vacina contra o HPV ao ser aplicada em meninas de 12 a 13 anos, podendo reduzir em quase 90% os casos deste câncer. Durante anos, milhares de mulheres, com idade entre 20 e 64 anos, foram acompanhadas e quanto mais cedo a imunização, maior foi redução tanto em lesões pré-cancerígenas (índice de 97%), quanto em câncer cervical (87%).
Prevenção começa em casa
Falar sobre saúde nunca foi um problema para a Natália Seabra. A designer de interiores sempre teve um diálogo aberto com a filha, Alanna Seabra, e manter em dia a carteirinha de vacinação sempre foi uma prioridade para a família. “Não existem estigmas sobre vacinas na minha casa. Aprendemos desde a infância a função e benefícios dos imunizantes. Quando fiquei sabendo da possibilidade de proteger a minha filha contra esse vírus, fiquei muito feliz. Na minha época, ainda não existia essa proteção e perdi uma pessoa muito querida para o câncer de colo de útero. A vida sexual, um dia, vai fazer parte da vida das nossas crianças, então é bem melhor instruir para que eles possam se proteger”, ressalta.
Para a Alanna, de 14 anos, é um alívio saber que está protegida de uma doença tão cruel e que pode ser evitada com um ato tão simples, a vacinação. “Eu acho que é super importante sempre manter todas as vacinas em dia, elas são muito essenciais. Pessoas que são contra a vacinação não passam de ignorantes e irresponsáveis, porque com essa atitude, algumas vezes, podem até colocar em risco a saúde de outras pessoas. Já conversei com amigos sobre essa prevenção e conheço pessoas que não se vacinaram contra a covid-19. Infelizmente isso não é algo incomum”, pontua.
Atualmente, no Pará, 29 municípios possuem lugares referenciados para o atendimento do câncer de colo de útero, sendo 37 unidades hospitalares. Entre elas estão: Hospital Ophir Loyola, Santa Casa de Misericórdia, Hospital Regional Público da Transamazônica, Hospital Regional de Tucuruí e Hospital Regional Público Materno Infantil de Barcarena.
Fonte: O Liberal