Trabalhadores do Pará que estão na faixa etária de 50 anos ou mais perderam espaço no mercado profissional em grau significativo em 2021, segundo aponta uma pesquisa do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos do Pará (Dieese-PA), com base em dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério do Trabalho e Previdência (MPT). Os números não levam em consideração as ocupações informais. O levantamento mostra que, entre janeiro e dezembro do ano passado, foram feitas 22.257 admissões, contra 23.878 desligamentos, na faixa etária citada, o que gerou um saldo negativo de 1.621 postos de trabalhos formais.
Considerando somente pessoas de 50 a 64 anos, foram admitidos 21.696 trabalhadores, e demitidos 22.449, o que representou saldo negativo de -753 vagas. Já na faixa etária de 65 anos ou mais, foram contratados 561 e desligados 1.429, gerando saldo negativo de – 868.
O estudo do Dieese também mostra que no ano passado, levando em consideração a questão de gênero entre trabalhadores com 50 anos ou mais de idade, no comparativo entre admitidos e desligados, a maior perda de postos de trabalhos ocorreu entre pessoas do gênero feminino, com saldo negativo de 1.093 postos de trabalhos fechados. O resultado equivalente a 67,4% do saldo total de postos perdidos. Já a perda de postos de trabalhos do gênero masculino alcançou o saldo negativo de 528 postos de trabalhos, o que significa 32,6% do saldo total.
Entre os setores econômicos, apenas a Construção Civil teve um resultado animador para as pessoas de 50 anos ou mais, com o saldo positivo de 614 postos de trabalho criados. “A grande maioria dos setores apresentou saldo negativo, com destaque para o de Serviços, com a perda de 1.440 ocupações, seguido da Indústria em Geral, com o fechamento de 516 postos de trabalhos; do Comércio, com a exclusão de 243 empregos e da Agropecuária, com o encerramento de 36 oportunidades de trabalho”, aponta a análise do Dieese.
EXPERIÊNCIA
Ainda de acordo com o Dieese-PA, a experiência profissional sempre cobrada como um dos requisitos fortes para conquistar uma vaga no mercado de trabalho, não necessariamente foi determinante para que mais de 1.600 trabalhadores com 50 anos ou mais de idade mantivessem seus empregos no ano passado, no Pará. “Trabalhador experiente, acrescido da qualificação ou requalificação profissional, combinadas com investimentos em políticas públicas de geração de emprego e renda, podem ser boas alternativas para a volta ou mesmo a permanência destes trabalhadores com condições mais justas no mercado de trabalho”, completa o Dieese.
O pedagogo Milton do Socorro Alves de Sousa ainda não completou 50 anos, mas já sabe a dificuldade que é encontrar um emprego quando a faixa etária começa a se aproximar das cinco décadas de vida. Aos 48 anos, relata que passou por um período muito difícil após ser desligado do local onde trabalhou por dez anos, como auxiliar pedagógico. “Fui demitido em 2019. Depois, veio a pandemia, o que acabou resultando em um período longo que fiquei sem trabalho. Para quem é pai de família a situação é ainda mais complicada, porque você acabando caindo no SPC. Consegui negociar recentemente uma dívida de R$ 13 mil, com um banco”, afirma.
Mesmo com experiências profissionais diversas, de árbitro de futebol a auxiliar pedagógico de uma tradicional escola privada de Belém, Milton Sousa não encontrou oportunidades com remunerações compatíveis com a qualificação e vivência apresentadas por ele. “Quando a pessoa passa dos 40 anos é mais difícil conseguir alguma coisa justa. E, nos últimos anos, as coisas estão ainda mais difíceis, pois o governo federal não investiu em ações para aumentar o índice de emprego e a renda da população”, critica.
Desde 2021, Milton Sousa trabalha como auxiliar administrativo de um curso de Redação. “Eu também faço trabalho voluntário em Comunidades Eclesiais de Base, por isso sei bem como as coisas estão difíceis”, completa.
Fonte: O Liberal