O número de consumidores que fazem uso da energia solar no Pará cresceu 87,77% em 2023, na comparação com o ano passado, como apontam dados de dezembro da Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Absolar), passando de 45 mil para 84,5 mil pessoas. A tecnologia já alcança 143 das 144 cidades paraenses – no ano passado, de acordo com a mesma entidade, eram 142 municípios com energia solar, o que representa uma alta de 0,7% no número de locais abrangidos.
Em relação à quantidade de conexões operacionais da fonte fotovoltaica em telhados, fachadas e pequenos terrenos, o percentual de reajuste ficou bem próximo, na casa dos 83,66%, já que o número cresceu de 35,5 mil em 2022 para 65,2 mil em 2023. O coordenador da Absolar no Pará, Daniel Sobrinho, explica que as conexões são os imóveis onde estão instalados os sistemas de energia solar, enquanto os consumidores são aquelas pessoas beneficiadas com o crédito – este último é maior porque a legislação permite que, com a mesma instalação, outros imóveis sejam alcançados, desde que as contas estejam no mesmo nome.
A potência instalada de energia solar para geração própria também cresceu no Pará, segundo a Absolar. Em 2022, o Estado possuía 419 megawatts (MW) em operação nas residências, comércios, indústrias, propriedades rurais e prédios públicos, passando para 742,6 MW em 2023, o que corresponde a um reajuste de 77,23%. Nos dois anos, o Pará manteve a 13ª posição no ranking nacional da Absolar no que diz respeito à potência instalada.
A quantidade de conexões operacionais da fonte fotovoltaica em telhados, fachadas e pequenos terrenos cresceu de 35,5 mil em 2022 para 65,2 mil em 2023 (Igor Mota / O Liberal)
Na comparação com 2021, a variação é ainda maior no Estado: de 366,85% no número de consumidores; de 352,77% na quantidade de conexões; e de 351,42% na potência de megawatts. Os dados são da Absolar.
Qual a consequência da popularização da energia solar?
Como explica Daniel Sobrinho, o crescimento do uso da energia solar começou a se popularizar a partir de 2012, com a Resolução 428 da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), que instituiu a política dos créditos. Isso significa que uma pessoa pode injetar energia na rede e se creditar no horário que não tem sol, ou seja, durante a noite.
O desempenho de 2023, segundo ele, é justificado por essa popularização do mercado. “Antes, as pessoas ainda ficavam muito céticas em relação à energia solar, se realmente a sua conta ia cair, se a concessionária ia realmente fazer esse crédito, e hoje elas vêem que isso é uma realidade. Realmente, as contas baixam bastante e, se a pessoa fizer o investimento necessário para atender o seu consumo, ela passa a pagar apenas a taxa de exclusividade para a concessionária, semelhante aos casos em que uma casa fica fechada durante um período e é preciso pagar a taxa mínima”, detalha.
Outro fator que contribuiu para que o setor alcançasse mais clientes em 2023 foi o crescimento da oferta de financiamentos. Hoje, de acordo com Sobrinho, existem créditos tanto em bancos públicos quanto nos privados. Localmente, por exemplo, o Banco do Estado do Pará (Banpará), ligado à gestão estadual, já está financiando instalações de energia solar, assim como o Banco da Amazônia (Basa), de acordo com ele.
E a escalada também tem contribuição da redução de custos no setor. “Se a gente comparar 2016 ou 2017 com esse ano, o custo para as pessoas terem uma energia fotovoltaica na sua residência, no seu comércio, na sua indústria caiu pela metade. Isso é uma coisa que tem incentivado bastante. A nossa tarifa é uma das mais altas do Brasil, e com esse calor que está aqui o uso de ar condicionado, que é o carro-chefe no consumo de energia, tem elevado bastante as contas. Então a procura tem sido grande”, pontua o coordenador da Absolar.
Custo de aquisição cai
Na empresa de Ronald Cruz, o crescimento observado nos últimos doze meses ficou na mesma média do restante do Estado: 85% nas vendas de kits residenciais de energia solar e 45% na instalação de equipamentos em empresas. Ele é sócio e coordenador do Grupo Evolut, no mercado há seis anos e que atua no segmento com a Solar Evolut e na área de construção civil com a Evolut Construções. A empresa tem sede em Belém e possui mais filiais pelos estados do Pará, Tocantins e Maranhão, sendo que há previsão de abrir novos espaços em 2024.
“Esse expressivo aumento na demanda por energia solar pode ser atribuído à significativa redução nos custos de aquisição dos equipamentos, aliada à crescente conscientização da população em relação à autossuficiência na geração de energia”, opina o empresário. Com o setor aquecido, Ronald declara que tem “grandes expectativas para 2024 e 2025”, aproveitando o gancho que a cidade terá com os preparativos para a COP 30. Atualmente com 65 colaboradores, a empresa pretende chegar a 15 filiais até o final de 2025. A atuação se dá em projetos residenciais, industriais, rurais e usinas solo de grande porte.
Embora o investimento em energia solar seja alto, a taxa de retorno é de, aproximadamente, três anos e meio, destaca a Absolar. O chamado “payback” representa o tempo necessário para que o custo de instalação se pague e, a partir de então, comece a dar lucro para o proprietário. O período é curto, na opinião do coordenador da entidade no Pará, Daniel Sobrinho, considerando que o produto será usado por cerca de 25 anos.
“Em relação às taxas, nós temos aqui bancos com financiamentos de até 84 parcelas, e muitos fazem uma carência de três meses. Da hora que a pessoa adquire o seu sistema e que a concessionária de energia faz a ligação com a troca do medidor bidirecional, a pessoa só começa a pagar o financiamento depois que já está com seu sistema de energia solar instalado. Os cálculos que nós temos é de que, se a pessoa fizer um financiamento em torno de 48 vezes, até 36 vezes, praticamente trocaria a conta de energia que ele pagava antes pelo valor do financiamento. E após esses três, quatro anos já estaria com o financiamento quitado e teria só o benefício do seu sistema na sua conta”, afirma.
Estado também atrai investimentos com a modalidade
Os benefícios gerados pela energia solar não são apenas para os consumidores – o Estado também ganha muito com o sistema. A Absolar aponta que, desde 2012 até 2023, a modalidade já proporcionou ao Pará a atração de mais de R$ 3,6 bilhões em investimentos, geração de mais de 22,2 mil empregos e a arrecadação de mais de R$ 800 milhões aos cofres públicos.
“Os investimentos que a gente fala não são só os das próprias pessoas físicas e jurídicas de menor porte, que são aqueles casos que a pessoa faz para si própria, nesse valor a gente cita também a compra de equipamento e a geração de bastante emprego”, declara. No poder público, o setor também tem crescido. Daniel Sobrinho diz que se reuniu em março com o governador Helder Barbalho e a vice-governadora Hana Ghassan e, a partir desse encontro, foi criado um esboço do Programa Estadual de Energia Solar, para beneficiar prédios públicos com a modalidade.
Na avaliação do coordenador, todos esses incentivos devem resultar em um aumento do mercado no Pará, o que pode, no final das contas, baratear os custos aos consumidores finais. Ele prevê que, no futuro, “qualquer cidadão” poderá aderir aos financiamentos de longo prazo da energai solar no Estado.
Geração de energia solar no Pará
Número de consumidores:
– 2023: 84,5 mil
– 2022: 45 mil
– 2021: 18,1 mil
– Variação 22/23: 87,77%
– Variação 21/23: 366,85%
Conexões operacionais:
– 2023: 65,2 mil
– 2022: 35,5 mil
– 2021: 14,4 mil
– Variação 22/23: 83,66%
– Variação 21/23: 352,77%
Número de cidades:
– 2023: 143
– 2022: 142
– 2021: 135
– Variação 22/23: 0,7%
– Variação 21/23: 5,92%
Potência em megawatts (MW):
– 2023: 742,6
– 2022: 419
– 2021: 164,5
– Variação 22/23: 77,23%
– Variação 21/23: 351,42%
Fonte: Absolar