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Belém é a terceira capital brasileira com maior número de pessoas vivendo com HIV/Aids

Único serviço especializado mantido pela Prefeitura tem apenas cinco médicos para atender 10 mil pacientes

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Belém é a terceira capital brasileira com o maior número de pessoas vivendo com HIV-Aids, aponta o Ministério da SaúdeE, no entanto, no único serviço especializado mantido pela Prefeitura de Belém, a Casa Dia, há apenas cinco médicos para atender dez mil pacientes. Esse número ganha relevância, em especial nesta quinta-feira (1º), quando transcorre o Dia Mundial de Luta Contra a Aids.

Há uma semana, e por causa dos inúmeros problemas que estão ocorrendo no âmbito da política de IST/Aids e Hepatites Virais no município de Belém, representantes do Fórum Paraense de ONGs/Aids, Redes+, Coletivos de Hepatites Virais e Tuberculose realizaram um protesto em frente ao Centro em Atenção em Doenças Infecciosas Adquiridas (Casa Dia), no bairro da Sacramenta.

A mobilização foi também contra a falta de atendimento médico para as pessoas vivendo com HIV/Aids atendidas no Casa Dia. Coordenador do Fórum Paraense de ONGs/Aids, Redes+, Coletivos de Hepatites Virais e Tuberculose (FOPAIDS), Cledson Sampaio disse nesta quarta-feira (30) que, passada uma semana, continua a mesma situação.

“A Sesma marcou uma reunião com o movimento social ontem, terça-feira (29), às 15 horas, no Grupo Paravidda. Mas desmarcou a reunião e não deu posicionamento nenhum”, disse.

Está na mesma situação, sendo que Belém recebeu mais de R$ 895 mil só este ano para a política de IST (Infecções Sexualmente Transmissíveis)/Aids e hepatites virais”, disse.

Falta de médicos e de medicamentos afasta pacientes do tratamento

Cledson explicou que há procedimentos na Casa Dia que só podem ser realizados pelos médicos. “Se o tratamento está falhando, quem vai fazer a reavaliação, inclusive com exame, é o médico”, afirmou. A falta de médicos e de medicamentos preventivos faz com que o usuário se afaste do serviço.

Como não tem o profissional para atender ele, não tem o profissional para avaliar, isso pode fazer com que ele abandone o tratamento e não vai ter a qualidade de vida que ele poderia ter se tivesse o atendimento de forma correta, recebesse o medicamento que era para receber e os exames que eram para ser feitos”, afirmou.

“Quando falta um profissional, um medicamento, isso abala diretamente a qualidade de vida desse usuário que está fazendo o tratamento correto”, completou.

Vice-presidente do Movimento LGBTQIA+ do Pará, Beto Paes: "Belém é a terceira capital do Brasil com o maior número de pessoas vivendo com HIV/Aids"

Vice-presidente do Movimento LGBTQIA+ do Pará, Beto Paes: “Belém é a terceira capital do Brasil com o maior número de pessoas vivendo com HIV/Aids” (Igor Mota/O Liberal)

Casa Dia recebe de 40 a 50 novos pacientes por mês e só tem cinco médicos

Cledson Sampaio disse que, por mês, entram de 40 a 50 novos pacientes no Casa Dia.  “Há um índice do Ministério da Saúde que reúne os 100 municípios com o maior índice composto. É aquele em que o município tem o maior número de óbitos por HIV, maior número de casos naquele período de novos casos, maior número de crianças expostas ao HIV, através da transmissão vertical. Belém é o segundo município entre os 100 com os piores índices composto”, afirmou.

É muito preocupante porque só tem, dentro da capital, um serviço, que é a Casa Dia, com 5 médicos para atender 10 mil pacientes ativos”, afirmou.

“Temos essa triste realidade de ter um grande número de novos casos de pessoas vivendo com HIV-Aids chegando no serviço e a gente não ter um médico de forma qualitativa para atender esse paciente”, disse.

Essa prefeitura que estar aí precisa rever, principalmente porque existe recurso vindo, quase R$ 1 milhão chegou no município de Belém. Então precisa assumir uma responsabilidade de gestão diante desses tantos que estão chegando e, principalmente, dos casos que já estão realizando tratamento no Casa Dia”, completou.

Coordenador do Fórum Paraense de ONGs/Aids, Redes+, Coletivos de Hepatites Virais e Tuberculose (FOPAIDS), Cledson Sampaio, disse que a Casa Dia conta com apenas cinco médicos para atender 10 mil pacientes

Coordenador do Fórum Paraense de ONGs/Aids, Redes+, Coletivos de Hepatites Virais e Tuberculose (FOPAIDS), Cledson Sampaio, disse que a Casa Dia conta com apenas cinco médicos para atender 10 mil pacientes (Ivan Duarte/O Liberal)

HIV/Aids não têm nada a ver com orientação sexual e identidade de gênero

Vice-presidente do Movimento LGBTQIA+ do Pará, Beto Paes  destacou  a  importância da data. “O 1º de dezembro é um dia muito simbólico para nós da comunidade LGBTQIA+ porque, historicamente, quando surgiu essa epidemia, a nossa população foi a população mais atingida, sobretudo gays e travestis. Então a gente passou por um processo de estigmatização muito grande a partir da epidemia da Aids e resolvemos lutar contra isso”, disse.

Ela observou que, hoje, a Aids não está mais ligada à orientação sexual e à identidade de gênero das pessoas. Ou seja: qualquer pessoa pode ser atingida pelo vírus do HIV. “Porém, hoje a falta de campanhas orientando a prevenção, orientando o diagnóstico precoce faz com que hoje realmente a gente esteja enfrentando um novo momento difícil do HIV/Aids, que é, na realidade, o aumento do número de casos”, disse.

Beto Paes disse que Belém é a terceira capital do Brasil com o maior número de pessoas vivendo com HIV/Aids. “Então é um problema muito sério que a gente já acha que está faltando mais determinação dos nossos gestores públicos para que, de fato, a gente possa fazer um trabalho sobretudo no campo da prevenção e do diagnóstico”, disse.

Prevenir gera menos custo e internações

Beto Paes afirmou que prevenir sempre é o melhor remédio: gera menos custo, menos internações e menos compras de remédio. “Trabalhar a prevenção, e trabalhar essa prevenção em parceria com o movimento social, é fundamental para o enfrentamento às ISTs/Aids”, afirmou.

Ele também falou do preconceito que, ainda hoje, é um grande problema e faz com que muitas pessoas não façam adesão ao tratamento. “A falta de adesão ao tratamento faz com que essas pessoas adoeçam e possam inclusive de alguma forma não usando preservativo, por exemplo, passar esse vírus para outras pessoas. Então a adesão ela é fundamental“, disse.

Quando a pessoa faz o tratamento contínuo, e ininterrupto, isso proporciona a essa pessoa uma carga viral indetectável – ela não mais transmite esse vírus para outra pessoa.

Movimento LGBTQIA+ do Pará realizará oficina neste sábado (3)

Para fazer o enfrentamento dessa problemática, o Movimento LGBTQIA+ do Pará e suas afiliadas vão realizar, neste sábado (3), de 8 às 18 horas, uma oficina para as lideranças, inclusive as do interior do Estado, para que se possa construir um planejamento de enfrentamento às ISTs/Aids com foco em populações LGBTQIA+ mais”.

Beto disse que, atualmente, as pessoas que mais se infectam com HIV são as heterossexuais. “Porém a gente acha que também é importante a gente continuar fazendo esse trabalho de prevenção para que todo tempo a gente consiga frisar a importância do enfrentamento à epidemia de HIV/AIDS e às outras ISTs”, disse.

“Então é importante que a gente possa fortalecer essa luta pela prevenção às infecções sexualmente transmissíveis e pelo enfrentamento também ao estigma e o preconceito das pessoas que vivem com HIV/Aids”, afirmou.

Artista vive com HIV há cinco anos e leva uma vida normal

A artista Mayara Maia, 29, vive com HIV há cinco anos e leva uma vida normal. Ela tem um filho de três anos, que vive sem HIV, a sigla em inglês para a infecção do Vírus da Imunodeficiência Humana que causa a Aids.

“Existe um tabu gigante quando se fala de HIV, quando se fala de Aids, por ser uma infecção sexualmente transmissível. As pessoas não querem muito falar sobre isso”, disse. Ela acrescentou que a maioria das pessoas que vive com HIV esconde o seu diagnóstico. “Então é uma pauta silenciosa. É um tema que é velado”, afirmou ela, que é muralista (pintura mural) e ilustradora.

Segundo ela, o maior problema no Brasil hoje ainda é a falta dos diagnósticos das pessoas que vivem com Aids e não sabem que vivem com o vírus. “Às vezes, são pessoas casadas e pessoas que nem esperam que estejam expostas ao risco”, disse.

Por isso, a importância da data comemorada nesta sexta-feira para tirar esse tema das sombras. “Trazer para luz um tema que é que é muito velado”, disse.

Eu estou indetectável há pouco mais de quatro anos e fiquei indetectável com sete meses de tratamento”, afirmou Mayara Maia. Indetectável quer dizer que a quantidade de vírus é tão baixa que o exame de sangue não consegue identificar.

Ela afirmou que o tratamento foi rápido porque ela descobriu rápido a presença do vírus em seu organismo.

“Eu estava sentindo umas coisas estranhas”, contou artista

A artista descobriu durante um exame de rotina. “Eu já estava sentindo umas coisas estranhas. Estava sentindo fraqueza, adoecendo muito. Aí a minha garganta inflamou de um jeito que nunca tinha inflamado antes. O meu cabelo começou a cair e eu percebi que eu estava com a imunidade baixa, mas eu não imaginava que fosse Aids, até porque não tinha nem um ano que eu tinha feito o exame e tinha dado negativo”, contou.

Ela foi à infectologista e, durante uma bateria de exames, descobriu estar com HIV. Mayara afirmou que foi contaminada por um homem com quem se relacionava e que, inclusive, se recusou a fazer o teste.

“Os parceiros com quem eu me envolvi aceitaram fazer o teste, menos essa pessoa, e eu achei isso muito suspeito. E aí eu comecei a falar com as meninas com quem ele tinha ficado. E aí as meninas começaram a fazer os exames e também estavam com HIV”, contou. “Então foi assim que a gente descobriu que era ele o agente infectante”, disse.

Mayara afirmou que leva uma vida normal, mas que todo dia, à noite, precisa tomar seu medicamento. “O maior problema de viver com HIV hoje no Brasil é o preconceito. É muito mais o preconceito do que o tratamento. O tratamento é bem tranquilo sim”, contou. 

Sesma esclarece

A Secretaria Municipal de Saúde de Belém (Sesma) informa que o município de Belém recebe recursos federais destinados à manutenção das ações de vigilância, prevenção e controle das IST/HIV/AIDS e Hepatites Virais. Essas ações vêm ocorrendo no município de Belém tendo como resultados: a ampliação das salas de testagem para as IST, ampliação do número de pessoas em Profilaxia Pré-Exposição ao HIV (PREP) e na diminuição de internações por agravos da Aids em leitos de longa permanência, mesmo com restrições orçamentárias após o pico da pandemia da covid-19, situação vivenciada por diversos municípios.

A Sesma reforça que a Profilaxia Pré-Exposição está disponível, normalmente, todos os dias da semana no Casa Dia, localizado na Av. Pedro Álvares Cabral, e no Centro de Testagem e Aconselhamento (CTA). Basta ir ao local agendar o atendimento que está aberto a quem precisar.

“O Casa Dia tem registrados 15.500 pacientes e os que estão com tratamento ativo e não tiveram qualquer interrupção em seu tratamento. Há déficit de profissionais, mas a recomposição é gradual, especialmente pelo fato de o município, desde agosto, estar sob vigência de decreto com restrições orçamentárias. A Sesma ressalta, ainda, que a vida de cada pessoa e o seu direito ao tratamento está assegurado a toda pessoa residente de Belém que precisar do tratamento e que somente com o tratamento realizado corretamente é possível controlar o HIV e seguir a vida em frente”, comunica a Secretaria.

Fonte: O Liberal

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