Câmeras especiais capturam o andar imponente de uma jaguatirica. Há poucos quilômetros dali uma onça parda passeia calmamente pela região, enquanto uma onça pintada, que tem excelente visão noturna, vasculha o local atrás de presas. Esses flagrantes recentes da vida selvagem dos três maiores felinos das Américas foram feitos no Médio Xingu, região amazônica, no Pará. Os registros fazem parte do monitoramento de animais que a Norte Energia, concessionária da Usina Hidrelétrica Belo Monte, conduz na área de influência direta do empreendimento, e indicam a saúde dos ecossistemas das florestas, dos rios e igarapés da região.
Jaguatirica
O território corresponde a 515 mil hectares, equivalente a 477 mil campos de futebol, e a biodiversidade impressiona. Desde 2012, durante a etapa de implantação da usina, a companhia faz esse trabalho que, até o momento, registrou 825 espécies, em 24 campanhas de campo para monitorar anfíbios, répteis, aves e mamíferos de médio e grande porte e morcegos. A última campanha aconteceu em abril e maio desse ano. Além dos felinos, entre os animais mapeados pelos técnicos, destacam-se o cachorro vinagre, o queixada, o tamanduá-bandeira, o tatu-canastra, o jupará, o quatipuru e o macaco-aranha.
Roberto Silva – gerente dos meios físico e biótico da Norte Energia
“A presença destes animais nas áreas monitoradas representa um importante bioindicador da saúde dos ecossistemas florestais e hídricos. No âmbito do licenciamento, a Norte Energia lança mão de diversas tecnologias para fazer a observação dos animais e das plantas, em parceria com moradores locais e especialistas de instituições de ensino e de pesquisa. Esses dados são de extrema relevância para trabalharmos a conservação das espécies. Ficamos entusiasmados em observar algumas espécies ameaçadas nas áreas de preservação ambiental da usina, pois isso comprova que estão tendo suas necessidades de vida atendidas”, avalia Roberto Silva, gerente dos meios físico e biótico da Norte Energia.
De acordo com o biólogo e mestre em Ecologia e Evolução, Átilla Ferregueti, trata-se de um dos maiores levantamentos do país e com descrição de novas espécies. “Esse trabalho vem possibilitando, inclusive, a elaboração de teses, dissertações e artigos científicos. Como pesquisador, acredito que essa atividade aproxima a população, muda a percepção da comunidade para a relevância dos animais e contribui para a redução do consumo predatório”, avalia Átilla, que é coordenador geral do monitoramento e responsável pela análise dos dados coletados.
Entre os registros ao longo dos últimos 12 anos, o biólogo e coordenador técnico dos trabalhos de campo, Ismael Martins, destaca o momento em que observaram o macaco aranha, um flagrante raro de se conseguir. “No monitoramento que acabamos de fazer detectamos um macaco aranha com filhote. Essa cena comprova como o nosso trabalho está dando certo.”, comemora o biólogo.
Ele explicou que o tempo de gestação de um macaco-aranha é de cerca de 7 meses e meio, nascendo apenas uma cria por ninhada, fatores que dificultam o aumento da população da espécie. Após o nascimento, a mãe ainda cuida do filhote por um período de 3 a 4 anos. A espécie merece atenção e consta nas listas de conservação do Ministério de Meio Ambiente (MMA) e da International Union for Conservation of Nature (IUCN).
Câmeras são camufladas para fazer os flagrantes
Para conseguir observar os animais sem interferir em seus hábitos, a equipe da Norte Energia camufla os equipamentos, chamados de câmeras trap, que são acionados pelos movimentos dos animais e conseguem registrar as interações sociais e padrões comportamentais das espécies. Cada ponto onde a câmera é instalada é mapeado. Por exemplo, é necessário identificar, um corredor ecológico, onde esses animais vão ter acesso à água, em geral, um local mais propício para serem flagrados.
Todo o processo de monitoramento envolve 72 profissionais, entre biólogos e pilotos fluviais e conta com a participação de moradores de comunidades locais. O conhecimento dos povos da região amazônica é fundamental nesse processo e contribui com os biólogos na identificação de rastros dos animais e de vestígios da floresta durante as atividades de campo.
“Nosso trabalho é bem complexo. Cada atividade é diferente. Datas, horários, nível do rio, cada detalhe vai afetar o método, logística, tipos de equipamentos. Por exemplo, a equipe de aves desenvolve duas metodologias. Uma é o avistamento, registrado com fotografia. Na segunda, eles vão para pontos de escuta pré-definidos, porque os animais são bem pequenos, e utilizamos a microfonia. Eles vão ouvindo e identificando. Quando há dúvida, utilizam playback. Com isso, a ave lá no meio da floresta vai responder, então temos a certeza de que estamos tratando da espécie identificada”, explica Ismael.
Além das câmeras trap, são utilizados lanternas, binóculos, gravadores de ultrassons específicos para monitorar morcegos, gravadores digitais com microfones unidirecionais para captar o som de aves e balanças, paquímetros e fitas métricas utilizadas na biometria dos animais analisados. Também são utilizadas abordagens inovadoras, como os estudos genéticos com DNA ambiental, para detectar as espécies no meio ambiente, sem a necessidade de capturá-las. A metodologia é revolucionária e tem sido utilizada de forma complementar em diversos países.