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Campanha Fevereiro Roxo traz à tona debates sobre o mal de Alzheimer

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Os pacientes que possuem doenças crônicas têm sua qualidade de vida reduzida, e em muitos casos os familiares também sofrem com o quadro de saúde dos entes queridos acometidos por tais enfermidades. No caso do Alzheimer, que é o tipo mais frequente de demência, isso ocorre porque há a diminuição progressiva da capacidade cognitiva, alterações de comportamento e perda da funcionalidade. Conscientizar sobre este mal é um dos objetivos da campanha Fevereiro Roxo, que também traz à tona debates sobre o Lúpus e a Fibromialgia.

Dados divulgados à reportagem pela Secretaria de Estado de Saúde Pública (Sespa) apontam que, em 2020, foram feitos 1.742 atendimentos para 256 pacientes com Alzheimer cadastrados nas Unidades Dispensadoras de Medicamentos Especializados (UDME) do Estado para o tratamento da doença. A nível nacional, o Instituto Alzheimer Brasil (IAB) estimou, há alguns anos, que existiam mais de 45 milhões de pessoas vivendo com demências no mundo e que esse número irá dobrar a cada duas décadas. Apenas no Brasil, em 2019, quando havia mais de 29 milhões de pessoas acima dos 60 anos, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), acreditava-se que quase 2 milhões de pessoas tinham demências, sendo que entre 40 e 60% são Alzheimer.

O médico geriatra Karlo Moreira, que atua no Hospital Universitário Barros Barreto, vinculado à Universidade Federal do Pará (UFPA), explica que, teoricamente, a doença pode acometer qualquer pessoa a partir dos 40 anos de idade, mas não é muito comum em quem tem menos de 60. “Estatisticamente falando, menos de 1% das pessoas que têm menos de 60 anos são acometidas. Mas as chances vão aumentando com o avanço da idade. Em uma população de 80 anos, pelo menos 40% podem ter o Alzheimer”.

Segundo o especialista, ainda não se sabe por que a enfermidade surge e quais motivos levam a ela, mas é preciso estar atento para que os sintomas possam ser controlados. O Alzheimer é uma doença neurodegenerativa, em que os neurônios de áreas específicas começam a morrer. Quando isso acontece, o indivíduo tem sintomas relacionados à morte desses neurônios, que são os chamados déficits cognitivos, causando perda de memória, dificuldade na linguagem, perda de outras funções como orientação, planejamento e julgamento, entre outros.

“Os primeiros sintomas são os esquecimentos, é o que mais chama atenção da família. Claro que é normal idosos esquecerem, e existem vários motivos para isso, mas devemos nos preocupar quando se torna progressivo e frequente, ou seja, quando o idoso passa a esquecer cada vez mais. A função de detectar esse mal é da família, porque o paciente não percebe o esquecimento. Se ele esqueceu uma chave, por exemplo, ele pergunta quem pegou ou roubou o objeto”, comenta Karlo.

Por outro lado, o especialista afirma que os idosos tendem a valorizar mais seus lapsos de memória – quando acontece, dizem que estão ficando velhos ou doentes, porque sabem dos riscos de ter Alzheimer. A partir dessa preocupação e da noção de falhas de memória e outros sintomas, vem o diagnóstico. De acordo com o médico geriatra, não existe na atualidade um exame confirmatório, que indique totalmente a doença. O profissional, então, suspeita pelos sintomas.

“Para não ficar com muito achismo, além da avaliação clínica, fazemos testes de memórias, de orientação e linguagem, para perceber esses déficits. Também complementamos com outros exames, porque outras doenças também causam esquecimento, como problemas na tireoide, e precisamos eliminar outras causas. Isso é importante. Então os exames não confirmam que a pessoa tem Alzheimer, mas eliminam outras patologias. Daí surge também a importância de fazer exames periodicamente”, argumenta.

Além das doenças físicas, outro mal que também pode ser confundido com o Alzheimer, segundo Karlo, é a depressão. Alguns dos principais sintomas de quem sofre com a “doença do século” são a melancolia, tristeza, isolamento e solidão. O geriatra explica que, para se ter boa memória, é preciso ter atenção e concentração, duas características que são alteradas em pacientes com depressão. Neste caso, a pessoa é encaminhada ao tratamento psicológico ou psiquiátrico.

Com o diagnóstico em mãos, o tratamento precisa ser iniciado o mais rápido possível. Mesmo com os avanços no combate a esta doença, ainda não há cura para o Alzheimer. Por conta disso, o diagnóstico e tratamento precoces são fundamentais, para retardar o avanço da enfermidade. O médico geriatra Karlo Moreira ressalta que há vários fatores para tratar o mal: o primeiro inclui os remédios, que tentam estabilizar a doença, evitando a progressão da perda cognitiva, e melhorar os sintomas, já que os idosos com esse quadro costumam ficar mais agitados, deprimidos, agressivos e ter alucinações. “Se eu tenho Alzheimer leve e não faço nada, vou piorar, mas com o remédio fica estável durante algum tempo, progredindo bem lentamente”, diz.

Como o tratamento não se resume aos remédios, o outro fator são os estímulos. É indicado que, para forçar o retardo da enfermidade, o paciente pratique atividades físicas, tenha hobbies como dança de salão, exercícios de memória, tenha hábito de leitura, entre outas atividades.

“Mesmo em fase avançada, tentamos manter o que ainda está preservado. Nessas horas, o apoio familiar é fundamental. Muitos ficam perdidos e não sabem como lidar. Orientamos como dar banho, como agir caso o paciente esteja em casa e peça para ir embora, são várias situações”. Os ambientes em casa também precisam ser adaptados para evitar acidentes na cozinha, em escadas, no banheiro. Porém, Karlo destaca que o idoso só deve ser proibido de fazer alguma atividade se for perigoso – enquanto isso, é preciso estimular a mente.

Entre os desafios, hoje, Karlo destaca vencer o tabu “é da idade”. Para ele, é preciso saber reconhecer quando é apenas uma característica da idade e quando é doença, para haver diagnóstico precoce. “Outro tabu é que acham que Alzheimer não tem tratamento, mas muita coisa pode melhorar, o paciente pode ter mais qualidade de vida, durante muito tempo. Antes quem tinha a enfermidade viva de oito a 10 anos, hoje vivem de 17 até 20 anos. Dobramos a expectativa de vida”, declara.

O outro desafio é garantir um maior acesso aos serviços públicos e aos medicamentos, que são caros. Embora existam centros de distribuição, ainda há pouco acesso, com vagas demoradas, muita demanda e pouco acompanhamento. Também é preciso descentralizar o atendimento, já que os pacientes do interior do Estado precisam se consultar na capital. O médico afirma que a maioria deles chega em fase moderada ou avançada, e que raramente é leve.

A médica Thereza Christina Frade tem uma pessoa com Alzheimer dentro de casa: a mãe, Maria, de 88 anos, que sofre com a doença desde 2013, quando veio o diagnóstico, aos 80 anos de idade. “Começou a esquecer muito o local onde estava e não sabia mais determinadas coisas. Sou médica e achei estranho, então a levei no geriatra e no neurologista e começou o processo. Foram feitos vários testes e ela foi encaminhada a uma psicóloga especialista em Alzheimer, que deu o diagnóstico, em fevereiro de 2013, há oito anos”, lembra a filha.

Segundo Thereza, a mãe nunca teve esquecimento antes. Como pedagoga e orientadora educacional, trabalhou muito e, segundo sua filha, sempre teve uma mente “brilhante”. Além do esquecimento, a paciente sofreu de agitação e preocupação com seu dinheiro. “Ela dormia com a bolsa do lado. Sempre cuidou das contas dela, ia aos bancos, efetuava pagamentos, mas passou a perder dinheiro, pagar os empregados duas vezes. E aí eu assumi tudo em 2015. Sou a curadora dela”. Dos quatro filhos, Thereza conta que um ainda não aceitou a doença.

Para retardar o avanço do Alzheimer, Maria faz hoje fisioterapia, terapia cognitiva e toma remédios. Morando com a filha, a paciente passa a maior parte do dia sentada, joga dominó e faz desenhos, além de assistir televisão e ouvir música. Para que a rotina fosse melhor, Thereza precisou adaptar o banheiro para uma cadeira de banho e colocou barras de suporte. O quarto tem cama de hospital, e há um acompanhante para a semana e um para o final de semana.

ATENDIMENTO

– Segundo a Sespa, a atenção dada aos pacientes com Alzheimer, no Pará, inicia com o primeiro atendimento na Unidade Básica de Saúde (UBS). Caso haja evidências clínicas da doença, o paciente pode ser encaminhado para atendimento especializado em Belém, no Hospital Barros Barreto, vinculado ao governo federal, onde há o ambulatório de geriatria e gerontologia, com residência médica e multiprofissional.

– O encaminhamento também pode acontecer para o Hospital de Clínicas Gaspar Viana, para atendimento em especialidades referenciadas pelas unidades básicas de todo o Estado, como também para a Casa do Idoso, que atende os pacientes referenciados das unidades básicas residentes apenas em Belém. Nesses locais, o paciente recebe as devidas orientações para obter as medicações oferecidas pelo Sistema Único de Saúde (SUS).

– Pacientes da doença podem contar ainda com o apoio da Associação Brasileira de Alzheimer (Abraz), entidade sem fins lucrativos que oferece informações e orientações também para familiares e cuidadores. Contatos pelo e-mail [email protected].

Fonte: O Liberal

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