Na quarta-feira (28 de março), a Comissão Pastoral da Terra (CPT) no Pará divulgou uma nota afirmando que a prisão preventiva da liderança rural Padre Amaro “é uma medida que busca satisfazer aos interesses dos latifundiários” da região do sudoeste do estado. A nota alega que a decisão não teria se baseado em fatos concretos, mas em depoimentos de fazendeiros e de outras pessoas contrárias ao trabalho do padre.
José Amaro Lopes de Sousa foi preso na terça-feira (27 de março) na cidade de Anapu, onde atuava como pároco. O religioso era considerado braço direito da missionária Dorothy Stang, assassinada em 2005 na mesma cidade e deu continuidade ao trabalho da religiosa em Anapu, sudoeste do Pará, defendendo os direitos humanos, os assentamentos de sem-terra e as reformas fundiária e agrária.
A CPT disse ainda que, até o momento, não teve acesso ao inquérito policial que deu origem ao mandado de prisão e questiona os argumentos que sustentaram a decisão. De acordo com a nota, a prisão teria como objetivo desmoralizar os que lutam pelos menos favorecidos.
Na terça (27/03), a Polícia do Pará prendeu a liderança rural, após determinação do juiz de Anapu. O padre é investigado por envolvimento nos crimes de associação criminosa, ameaça, esbulho possessório, extorsão, assédio sexual, importunação ofensiva ao pudor, constrangimento ilegal e lavagem de dinheiro.
Segundo a decisão da Justiça, “a medida se justifica para colheita de documentos, objetos e/ou quaisquer outros elementos de prova”. Ainda de acordo com o documento, são apontados como elementos de prova contra o padre a existência de peças informativas, termos de declarações prestados na polícia, vídeos, conversas de whatsapp, reportagens da mídia e outros.
O padre já ingressou no Centro de Recuperação Regional de Altamira. De acordo com a Superintendência Executiva do Sistema Penitenciário do Pará (Susipe), o presído é o mesmo cumpre pena de 30 anos o fazendeiro condenado pela Justiça por ser mandante do assassinato de Stang.
A defesa do padre informou que o padre negou as acusações em depoimento à polícia e que deverá pedir a revogação da prisão.
“Vítima de difamação”, afirma prelazia
A Prelazia do Xingu, onde o religioso era pároco, também divulgou nota nesta quarta (28) lamentando a prisão. O documento assinado pelos bispos Dom João Muniz Alves e Dom Erwin Kräutler, afirma que “há anos alvo de ameças, Padre Amaro agora é vítima de difamação para deslegitimar todo o seu empenho em favor dos menos favorecidos”.
Os bispos também disseram, na nota, que estão acompanhando apreensivos a investigação e elucidação dos fatos e insistem “que a verdade seja apurada com justiça total e total transparência”.