Altamira, cidade paraense com mais de 126 mil habitantes, ostenta um cenário natural de tirar o fôlego. Com o Rio Xingu como protagonista, oferece praias, cachoeiras e um potencial imenso para o turismo de aventura e ecológico. No entanto, as belezas naturais convivem com uma triste realidade: o abandono, a falta de infraestrutura básica e a violência crescente.
No último domingo (08 dez. 2024), um assassinato em plena Orla da Cidade, às 16h, chocou a população e colocou em xeque os esforços de empreendedores que ainda acreditam no turismo como fonte de desenvolvimento econômico. “Como atrair visitantes quando não conseguimos oferecer nem o básico para os moradores?”, questionam os empresários do ramo.
Uma cidade de contrastes
A Orla de Altamira, considerada o cartão-postal da cidade e um espaço onde as pessoas deveriam se orgulhar de passear, sofre com o acúmulo de lixo nos finais de semana e a degradação de seus espaços públicos. O único banheiro construído no local, por exemplo, está totalmente depredado e nunca foi inaugurado ou disponibilizado para uso. Nas margens do Rio Xingu, o cenário é marcado por lixo e entulho descartados pela população, que só são retirados durante campanhas promovidas por voluntários. Essa realidade evidencia a falta de uma atuação mais efetiva por parte da gestão pública.
Como se não bastasse, a cidade enfrenta problemas ambientais sérios. Nos últimos dias, Altamira foi tomada pela fumaça de queimadas, um problema recorrente que afeta tanto a saúde pública quanto a imagem de um destino que deveria ser símbolo de preservação ambiental.
Segurança: o maior desafio
A violência é um dos principais obstáculos para o desenvolvimento do turismo na cidade. O assassinato recente é apenas mais um episódio que evidencia a necessidade urgente de investimentos em segurança pública. Sem uma estrutura que garanta a tranquilidade de moradores e visitantes, qualquer tentativa de atrair turistas se torna inviável.
Os órgãos de segurança enfrentam dificuldades devido à falta de apoio e recursos. Policiais e guardas municipais, sobrecarregados e mal equipados, enfrentam limitações para agir de forma eficaz, o que deixa a população vulnerável e desmotiva os empreendedores.
Eventos milionários: uma solução ilusória
Nos últimos anos, eventos culturais e festivos têm sido realizados em Altamira como estratégia para fomentar o turismo local. No entanto, o alto custo dessas iniciativas contrasta com os problemas estruturais que permanecem sem solução. “Promover eventos com despesas milionárias, como o Festival Internacional do Chocolate, não é suficiente para convencer o turista a voltar, especialmente quando ele se depara com uma cidade insegura e sem infraestrutura”, avaliam especialistas.
Por onde começar?
O turismo em Altamira só será sustentável se os problemas estruturais e sociais forem enfrentados com seriedade. Algumas medidas urgentes incluem:
Incentivo ao empreendedorismo: Linhas de crédito e capacitação para pequenos negócios turísticos, promovendo a economia local.
Reforço da segurança pública: Ampliação do efetivo de agentes de segurança, incluindo policiais e guardas municipais, além de investimentos em equipamentos e a implantação de monitoramento nas áreas de maior circulação turística.
Revitalização da Orla: Realização de limpeza constante das margens do rio e recuperação dos espaços públicos. Onde está a execução do projeto de reconstrução e ampliação da orla, prometido em 2016 pelo então Ministro da Integração, Helder Barbalho, e que até hoje não saiu do papel?
Conscientização ambiental: Combate urgente às queimadas e ao descarte irregular de lixo, aliado a campanhas de educação ambiental. Quando necessário, deve-se aplicar multas a infratores que desrespeitem as leis ambientais, reforçando a importância do cumprimento das normas.
Planejamento estratégico: A criação de um plano de turismo integrado, que envolva o poder público, a iniciativa privada e a comunidade, é essencial para guiar ações a longo prazo.
Altamira tem tudo para ser um destino turístico de destaque, mas precisa superar desafios que vão além das belezas naturais. A insegurança, o abandono e a falta de planejamento estratégico afastam turistas e desmotivam investidores. Sem ações concretas, as promessas de desenvolvimento pelo turismo continuarão sendo apenas isso: promessas. Enquanto isso, os empreendedores que ainda insistem na cidade seguem lutando contra um sistema que parece não reconhecer o valor de suas riquezas.
Escrito por Wilson Soares – Jornalista e membro do Conselho Municipal de Turismo.