Diálogo e acolhimento são essenciais para a prevenção ao suicídio, tema abordado com mais frequência durante a campanha nacional Setembro Amarelo, especialmente no Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio, que será celebrado nesta sexta-feira, 10 de setembro. Quem sinalizou essa necessidade foi a psicóloga Rosana Lemos Faraon, mestre em Psicologia e especialista em saúde mental, de Belém.
O assunto precisa ser tratado com mais seriedade, cuidado e responsabilidade. Segundo a especialista, nos últimos anos, o suicídio tem aumentado entre jovens de 15 a 29 anos. Dentre os fatores: bullying; maus tratos; ausência de pai e mãe; negligência; privação emocional (falta de afetividade em casa); conflitos familiares; abuso sexual; sensação de abandono; uso e abuso de álcool e outras drogas; e excesso de tempo desperdiçado em mídias sociais, que pode levar à depressão.
Muito tempo em redes sociais pode ser um mecanismo de fuga da realidade; pode ser um sintoma de que algo não está bem. O excesso pode fazer a pessoa deixar de viver emoções, interações humanas enriquecedoras. É por meio das relações humanas presenciais que as pessoas são realmente nutridas emocionalmente.
“Sem falar que os jovens costumam comparar suas vidas com a vida que as pessoas postam nas redes sociais e se sentem inferiores achando que sua vida é sem graça. Nem imaginam que isso pode ser somente uma aparência de falsa alegria. Isso contribui muito para desenvolver uma baixa autoestima. Especialmente em jovens. Além de que tempo em excesso em redes sociais pode prejudicar o desenvolvimento em outras áreas da vida. É importante que as pessoas estabeleçam um tempo de ficar em redes sociais”, orientou.
Números e sinais de alerta
Anualmente, cerca de 800 mil pessoas morrem por suicídio no mundo, segundo a Organização Mundial da Saúde. Só no Brasil, são 12 mil, de acordo com o Ministério da Saúde. Entre os sinais de alerta sobre o comportamento suicida: isolamento, diminuição do autocuidado, perda de interesses nas atividades que gostava, desânimo, automutilação e o desejo de sumir. Entre as principais causas: transtorno mental não identificado e não tratado, como a depressão.
“A associação entre suicídio e depressão é inequívoca. Mas pode haver outros transtornos envolvidos também. Além disso, a podemos citar o sentimento de desamparo e desesperança presente em todos os casos que envolvem o suicídio. A pessoa não deseja se matar na verdade, apenas aliviar a dor que sente. Mas não consegue ver outro meio”, explicou Rosana Lemos Faraon.
Os gatilhos mentais são pensamentos de menos valia, como “não tenho valor”, “minha vida é sem graça”, “as pessoas não se importam comigo” e “quero sumir”. Com o tratamento especializado, por meio da psicoeducação, são identificados os pensamentos disfuncionais que se transformam em gatilhos. São ensinadas as técnicas sobre o manejo dos conflitos internos ou externos, bem como habilidades sociais para viver de forma saudável. Em todo o processo é fundamental o apoio de familiares e amigos.
A abordagem do tema necessita de diálogo claro e sincero, conforme destacou a psicóloga. Cada um pode fazer a sua parte, cumprindo bem o papel na dinâmica do relacionamento. “Quem for pai, cumpra bem o seu papel de pai; quem for mãe, cumpra seu papel; quem é amigo, também. No mais, a sociedade precisa ser mais acolhedora com os problemas das pessoas, saber ouvir sem julgar ou aconselhar de forma inadequada”, detalhou.
Na sociedade pós-moderna, existe uma valorização enorme da felicidade, do sucesso e da beleza perfeita, mas isso é totalmente “fake”, conforme avaliou Rosana. “Porque todos nós, seres humanos, passamos por dificuldades e fases difíceis. Precisamos acolher mais as pessoas. É incrível que as pessoas adoecem sem saber o que realmente tem”, concluiu.
Fonte: O Liberal