Fazer compras se tornou uma tarefa difícil para a população paraense diante do aumento de preços que os alimentos têm sofrido mês após mês. Ultimamente, o consumidor volta para casa levando menos alimentos e pagando bem mais caro. E por mais que se tente encontrar uma estratégia para economizar na hora de encher o carrinho, o valor final permanece pesado no bolso. Comprar o “básico”, que antes seria adquirir o que é apenas necessário, tornou-se, hoje, sinônimo de levar para casa somente o indispensável.
Se analisados os preços de cada item da cesta básica, constata-se que o preço de alguns dos alimentos mais que dobrou neste período. É o caso, por exemplo, do óleo de cozinha que custava R$ 4,29 (dezembro/2019) e depois era vendido a R$ 8,92 (dez/2020). Um aumento de 107,92%. Atualmente, o consumidor chega a pagar até R$ 11,20 em uma garrafa de óleo de 900 ml – dependendo da marca do produto.
A bibliotecária Letícia Andrade, 38 anos, tem sentido bastante os sucessivos reajustes nos preço dos alimentos. “Os aumentos acontecem a cada 15 dias”, afirmou. No início deste mês ela abasteceu a despensa de sua casa e pagou aproximadamente R$ 600 nas compras que fez. No último dia 23, ela voltou ao supermercado para completar a despensa e ficou assustada com a soma da compra que fez. “Vai dar quase R$ 200 e é por coisas básicas. O pão de forma que comprei por R$ 3,95 no início de fevereiro custa agora R$ 7. O óleo que comprei por R$ 9,95 está sendo vendido por R$ 11,20”, listou.
“É um exercício sobre o que é essencial comprar, o que temos de comprar, porque chegamos num momento em que o nosso salário fica quase todo no supermercado’’, desabafou Letícia.
Técnico do Dieese/PA, Everson Costa ressaltou que atualmente o preço da cesta básica dos paraenses custa em torno de R$ 507, ou seja, o equivalente a 46,09% de um salário mínimo (que hoje é de R$ 1.100). “É importante lembrar que 1/3 dos assalariados no Pará recebem até um salário mínimo”.
Questionado sobre o que tem contribuído para que o paraense pague mais caro na hora de colocar comida na mesa e o porquê de tantos reajustes, Everson traça um panorama sobre o mercado. “Muita gente acha que isto acontece por causa da pandemia, mas a gente já vinha percebendo que mesmo antes da pandemia os preços dos alimentos vinham sofrendo constantes reajustes”, disse.
“Precisamos ver que estamos distantes dos grandes centros produtores de alimentos. O feijão, o tomate, o óleo de soja que a gente consome vem de outros estados. Chegam aqui, no Pará, como preço de fora. Entra a questão do período de entressafra, a sazonalidade, o frete’, citou Everson.
Quando destaca o frete no transporte de alimentos, o técnico do Dieese/PA ressalta que o combustível (gasolina e óleo diesel) também está mais caro. Somente este ano foram quatro reajustes no preço e isso influencia no valor dos fretes de transporte de alimentos.
“Claro que a pandemia influenciou. No mundo todo houve uma procura maior por alimentos e os produtores locais, até os nacionais, optaram por exportar. Até porque podem vender em dólar e lucrar bem mais. O que a gente está produzindo no país, está atendendo mais o mercado externo”, atentou.
“Seria um bom momento para valorizar a agricultura familiar”, sugeriu Everson, diante do cenário em que grandes produtores e empresários estão mais preocupados em exportar. “Se não houver um equilíbrio entre quem produz, quem oferta, quem compra, quem consome, nenhum trabalhador assalariado encontrará uma saída para comprar uma cesta básica”, afirma.
O empreendedor Otávio Augusto Santos, 38, trabalha em um restaurante em Belém que é especializado em caldos. Apesar de ser um cardápio aparentemente simples, precisa ser preparado com alimentos de boa qualidade e frescos. Otávio ainda não tem fornecedores próprios e precisa ir ao supermercado diariamente para fazer compras. “Não tem como substituir alguns ingredientes. O jeito é comprar e tem dias que pesa muito no orçamento porque a gente compra mais caro, mas os nossos pratos não subiram de preço”, pontuou.
“Em um ano já perdi as contas de quantos reajustes tivemos que encarar, principalmente nas carnes. Em casa, tentamos substituir a carne vermelha pela de frango, mas até o frango congelado está caro. Para o restaurante preciso levar também a carne”, disse.
O aposentado Benvindo Santos, 65, não tem o hábito de ir ao supermercado, mas durante a semana precisou ir para comprar frutas. “Como eu não venho, não tenho ideia do preço de cada alimento, só sei que no final tenho pagado bem mais caro nesses últimos tempos”, ressaltou.
Fonte: Diário do Pará