Em um universo de 2 mil usuários de telefonia móvel no Brasil, mais de um terço sente necessidade de conferir constantemente o telefone e 42% precisam fazer esforço para limitar o uso do aparelho. Os números são apontados por uma pesquisa realizada pela empresa de auditoria e consultoria Deloitte e revela uma situação que já leva algumas pessoas a buscar atendimento psicológico: o uso excessivo de aparelhos celulares.
Coordenador do curso de psicologia da Universidade da Amazônia (Unama), o psicólogo Alessandro Melo Bacchini explica que a condição de vício ou dependência do uso do aparelho depende muito de cada pessoa e da forma como a relação com o aparelho a está afetando. “Na psicologia a gente sempre trabalha com o que o próprio sujeito sente”.
Justamente por isso, pode ser complicado apontar uma lista fechada de sintomas ou sinais de que uma pessoa possa estar se tornando dependente do uso do celular, mas, em alguns casos, o psicólogo aponta que o indivíduo pode passar a sentir dificuldade de concentração, perda de sono e até mesmo ansiedade. O ideal é que cada pessoa observe e analise a forma como vem lidando com a tecnologia.
“Hoje em dia é costumeiro sair para encontrar as pessoas e ficar no celular, não que isso seja um problema a priori”, aponta o psicólogo. “O problema é quando a pessoa não consegue viver de outra maneira, quando a única forma possível de se relacionar com o outro é a partir desse instrumento”.
Alessandro reforça que o problema não está no celular, mas sim no uso que se faz dele. O cenário ideal seria que as pessoas conseguissem compreender que a comunicação através do smartphone é bem diferente da comunicação ao vivo, a fim de evitar confusões que, muitas vezes, podem levar o indivíduo a uma condição de sofrimento.
MENSAGENS
“O volume de mensagens ou de pessoas falando não é limitado no WhatsApp e, dependendo da forma como se utiliza, a chegada de informações acaba se tornando excessiva e, quando a gente tem um excesso, pode entrar em um ponto psicopatológico”, aponta. “É uma quantidade grande de conteúdos que a gente precisa ter tempo para digerir”.
Quando se trata de aplicativos de mensagens, o psicólogo aponta que o tempo de resposta parece ser encurtado. A tolerância diante da espera, ainda que pequena, por uma resposta pode ser muito menor do que em uma conversa presencial. Da mesma forma, a não possibilidade de identificar a entonação utilizada pelo emissor da mensagem, por se tratar de uma mensagem de texto, também pode gerar falhas de interpretação.
“Como a gente não tem esse elemento da entonação, quem recebe a informação tende a ter uma resposta afetiva em relação aquele conteúdo de acordo com o que ela está sentindo naquele momento”, considera. “Muitos dos adoecimentos relacionados ao celular têm a ver com esses elementos: alguns casos de ansiedade, pessoas que não conseguem ficar longe do celular, pessoas que não conseguem dormir bem por conta disso”.
PESQUISA
– Realizada com 2 mil usuários de telefonia móvel no Brasil
– Entre os usuários que indicaram utilizar muito o smartphone, 42% fazem um esforço para limitar o uso do equipamento
– Um terço, porém, tenta limitar a utilização do dispositivo, mas sem sucesso
– Mais de um terço dos entrevistados sentem a necessidade de conferir constantemente o telefone, enquanto 30% responderam que não conseguem dormir no horário pretendido ou se distraem com o smartphone ao concluir uma tarefa
Fonte: Pesquisa Global Mobile Consumer Survey 2018, da empresa de auditoria e consultoria Deloitte.