A Ford anunciou esta segunda-feira (11) que está de saída do Brasil, após mais de um século de parceria com o país.
O anúncio do encerramento das atividades da montadora repercutiu nacionalmente e esteve entre os assuntos mais comentados de hoje.
Aos paraenses, o fechamento lembrou a interessante história entre a Ford e o Pará no século passado, que também acabou encerrando-se de forma melancólica.
Na década de 20 o empresário norte-americano, um baluarte da indústria de automóveis mundial, apostou todas as fichas na criação de um distrito, praticamente uma minicidade, no município de Aveiro, em 1927, no sudoeste do Estado.
O governador da época, Dionísio Bentes, concedeu uma série de incentivos para atrair Ford para a floresta amazônica. O acordo significou esperança no desenvolvimento industrial amazônico.
As ambições eram muitas. Henry Ford queria tornar a ‘Fordlândia’ em um polo fornecedor de látex para todas as suas indústrias. Ao contrário da maioria das montadoras, Ford desejava investir nos seringais brasileiros, que estavam em decadência após a ascensão da borracha produzida na Malásia, país que fornecia para as mais importantes empresas na época.
Após conseguir a concessão do território, Ford investiu maciçamente em estrutura, mas a aventura foi por água abaixo após 18 anos. A falta de colaboração do governo brasileiro, assim como o clima amazônico e o temperamento quente dos trabalhadores paraenses, junto com os avanços científicos da produção da borracha a partir de derivados de petróleo e não mais do látex, fez com que o projeto ruísse em 1945. Ford, entristecido com o Brasil, abandonou todo o projeto, deixando para trás toda a milionária estrutura que havia criado. Ele foi indenizado pelo governo brasileiro comandado por Eurico Gaspar Dutra, que também arcou com as despesas trabalhistas dos empregados. Em troca, Ford mandou construir hospitais, portos, estações de tratamento de água e outras estruturas, algumas que até hoje permanecem de pé.
Após o abandono, o local ganhou fama de cidade fantasma, mesmo sendo gradativamente habitado até os dias atuais. Em 2010 o IBGE contabilizou cerca de 1 200 residentes somente na vila, números que somados ao território total do distrito chega a cerca de 2000 moradores em Fordlândia.
A história entre a Ford e o Pará é contada por diversos livros, alguns premiados internacionalmente. As ruínas da cidade sonhada por Henry Ford em 1945, de alguma forma, se aproximam deste 2021, ano em que a empresa desistiu do país e foi para a Argentina. Qualquer semelhança entre as histórias não é mera coincidência.
Fonte: DOL