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Garimpeiros em rio na Amazônia falam em tocaia contra a polícia; A ideia é “largar bala”

Para os garimpeiros, a repressão policial não teria condições de enfrentá-los

Foto: Bruno Kelly / Greenpeace
Foto: Bruno Kelly / Greenpeace
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Garimpeiros que estão há dias ancorados com balsas ilegais no trecho do Rio Madeira em frente à Vila de Rosarinho, uma comunidade de Autazes (AM), não só trocaram informações sobre a mobilização da operação para combater suas ações criminosas, como têm combinado reações, conforme a abordagem que enfrentarem

Os garimpeiros no local trocaram ontem áudios, obtidos pelo Estadão, que mostram que parte do grupo defende que alguns deles façam tocaias na floresta para surpreender agentes de fiscalização em caso de abordagem. A ideia é “largar bala” na polícia.

“Meu amigo, se você for contar, tem mais garimpeiro que polícia em todo canto, entendeu? Se vocês ficarem entocados dentro de uma mata dessa aí, um lá na ponta, outro aqui. Se eles começarem, vocês largam bala, entendeu? Deixa a balsa bem pertinho da beira e larga bala”, diz um deles.

Em outra mensagem, um garimpeiro concorda. “É verdade. Se nós juntarmos todo o mundo, nós combatemos.”

‘IR PARA CIMA’

Para os garimpeiros, a repressão policial não teria condições de enfrentá-los. “Meu parceiro, o tanto de garimpeiro que tem, mano .. Pode vir o comboio, pode vir o c* pra cima, que não dá conta, não. Nós temos que fazer é juntar os garimpeiros de todas as comunidades e ir para cima.”

Como adiantou o Estadão, foi montada uma grande força-tarefa entre a Polícia Federal e agentes das Forças Armadas e do Ibama para se deslocar à região. Ontem, o vice-presidente Hamilton Mourão disse que há indícios de que o grupo de garimpeiros tem ligações com o narcotráfico, que há anos utiliza rotas do Norte do País para o escoamento de drogas.

“Nós temos tido vários informes de que o narcotráfico, essas quadrilhas, na ordem de proteger suas rotas, subiram para lá. Uma das formas de se manterem é apoiando ações dessa natureza (garimpo). Até porque, se o ouro é extraído ilegalmente, é um ativo que eles podem trocar por droga”, disse Mourão. O vice-presidente comentou que a PF, a Marinha e o Ibama já estão se preparando para agir. “A Marinha tem de verificar quem tem embarcação legal. O pessoal que está na ilegalidade vai ter a embarcação apreendida”, disse.

Natural de Humaitá (AM), município cortado pelo Rio Madeira, Mourão reconheceu que, há décadas, há aglomeração de balsas de garimpo ilegal na região. “Isso ocorre todos os anos. Normalmente, eles ficam ali na região de Humaitá. Esse ano deve ter aparecido ouro mais para cima, lá perto de Autazes. E eles se concentraram lá”, comentou.

Em outra mensagem de áudio obtida pela reportagem, um homem fala em montar um “paredão” de balsas, com pessoas ao redor dos equipamentos, para reagir a qualquer tipo de abordagem para fiscalização. “Vocês que têm muita balsa aí, (tem que) fazer um paredão mesmo daqueles e esperar todo mundo aí na frente da balsa. Um atrás, um na frente e ver o que é que dá. Eles vão respeitar, entendeu?”, afirma.

Ainda não há números precisos sobre a quantidade de balsas que estão na região. No início, falava-se em cerca de 600 balsas. Imagens aéreas permitem contabilizar pelo menos 300 embarcações clandestinas paradas no mesmo ponto.

Há apreensão sobre a forma como se dará a abordagem dos garimpeiros que estão na região. Por lei, trata-se de embarcações clandestinas, sem licença para operar e que devem ser apreendidas. Cada equipamento é avaliado em cerca de R$ 50 mil, mas esse valor oscila conforme o custo de todo o sistema embarcado para sugar o leito do rio em busca de ouro e fazer a sua separação.

SUPRIMENTOS

Ao Estadão, o delegado da Polícia Federal Alexandre Saraiva, que atuou por dez anos à frente da PF na região amazônica, disse que a melhor estratégia para impedir o avanço das centenas de balsas de garimpo ilegal seria o corte de suprimentos usados pelos equipamentos.

Saraiva disse que já viveu situações parecidas em apreensões de balsas e que a medida mais efetiva, nestes casos, é acabar com a logística. “Quando você acaba com o combustível, com a chegada de peças de reposição, você paralisa a atividade. Tem de deixar passar só água e alimento, para ninguém morrer de fome. Fora isso, não pode entrar nada”, disse.

Fonte: Agência Estado

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