A Secretaria de Meio Ambiente e Sustentabilidade do Pará (Semas), juntamente com Secretaria de Estado de Desenvolvimento Agropecuário, da Pesca (Sedap) e Secretaria Estadual de Desenvolvimento Econômico, Mineração e Energia (Sedeme) promoveram, na manhã desta quinta-feira (02), a primeira oficina da cadeia produtiva de cacau, de modo virtual. O encontro teve participação das cooperativas e associações de produtores, com o objetivo de criar uma política pública estadual para desenvolver e beneficiar esta cadeia produtiva no Pará, para que ela possa alcançar seu pleno potencial de mercado.
O encontro faz parte do Projeto “Bioeconomia Pé no Chão”, criado a partir de demanda do governo do estado para atender, facilitar e potencializar a produção do cacau, pimenta e castanha no Estado. Entre os principais aspectos levantados na reunião que podem beneficiar o setor estão o investimento em tecnologia para o desenvolvimento genético da qualidade das amêndoas produzidas no estado e o apoio aos produtores com capacitação técnica e subsídios para exportação do produto, certificação de origem orgânica e rastreabilidade ambiental do cacau paraense. Entre os produtores, o consenso é o de que os gargalos tecnológicos e operacional são atualmente os principais entraves do setor. O Projeto “Bioeconomia Pé no Chão” nasceu a partir de estudo realizado por Salo Coslovsky, professor da Universidade de Nova Iorque (NYU), que identificou que, apesar do seu grande potencial, a participação do Pará e da Amazônia neste biomercado ainda é muito pequena.
As diversas situações apresentadas durante a reunião por produtores de diferentes regiões do estado ajudam a traçar um panorama da situação do mercado paraense e a desenvolver um programa para beneficiar o setor. Raul Protázio Romão, Secretário Adjunto de Gestão de Recursos Hídricos e Clima da Semas, afirma que a articulação iniciada nesta oficina vai impulsionar esta cadeia produtiva. “Esta ação do estado parte de uma oportunidade vislumbrada por um estudo da universidade de Nova York (Amazônia 2030), que mostra baixa participação do estado do Pará no comércio mundial de produtos amazônicos. O Pará, como segundo maior estado amazônico, tem ínfima participação no mercado mundial de exportação de alguns produtos, como cacau, açaí, pimenta-do-reino, por exemplo. Nós decidimos então, a partir de orientação do governador, de que Semas, Sedap e Sedeme irão atuar em conjunto em ações de fortalecimento da produção estadual, para que ela possa atender ao padrão internacional de qualidade. É interessante como produtores e cooperativas de diferentes locais apresentam problemas completamente diferentes, mas abrangentes. E este mapeamento é de fundamental importância para a produção. Vamos incrementar a capacidade de articulação entre banco, produtor e governo do estado e alavancar a participação do Pará no acesso a este mercado internacional de cacau.”
A capacitação dos produtores é ponto fundamental para alavancar a produção do estado, como afirma Lucas Vieira, secretário adjunto da Sedap. “Vamos dialogar para que a gente possa melhorar cada vez mais a cadeia produtiva de cacau do Pará. Em nossos projetos tem a parte da internacionalização do cacau, para que possamos aumentar a exportação deste produto. A gente já tem avançado neste trabalho, precisamos capacitar cada vez mais, temos que fazer nosso dever de casa, capacitar nossos produtores e nos capacitarmos para que a gente possa valorizar cada vez mais e o mercado possa procurar cada vez mais a gente. Por isso, estamos capacitando cada vez mais nossos produtores ao mercado internacional, devido à importância desta cadeia produtiva para o Brasil. Temos previsto para os próximos meses uma capacitação dos produtores na internacionalização da cadeia produtiva do cacau. Vamos selecionar cooperativas e produtores para que gente possa desenvolver este projeto para divulgar nosso cacau em alguns países, como França, Holanda, uma ação que iniciamos em 2019. A nossa produção de cacau fino ainda não é tão grande, vamos começar de forma pequena para depois chegar a outros países.”
A atuação direta junto às cooperativas faz parte da estratégia elaborada pelos órgãos de estado para desenvolver o mercado e a produção, como afirma Rafaela Pimentel, diretora de Projetos Estratégicos da Sedeme. “A Sedeme está realizando trabalho junto a cooperativas, vamos colocar à disposição nosso portfólio junto às cooperativas, temos ações de crédito junto a produtores. Em relação à exportação, estamos com um trabalho muito forte, realizado por intermédio da coordenação entre o mercado e o comércio exterior.”
A valorização do produto e apoio à comercialização são alguns dos pontos centrais para o desenvolvimento do setor, como afirmou o produtor rural Pedro Santos. “Quando a gente fala de qualidade e preço, a nossa grande dificuldade é a questão de valorizar este produto e apresentar um produto de alta qualidade. Quando o produtor tem o cacau seco, ele quer entregar e receber. A cooperativa não tem poder de investimento de pagar um cacau de qualidade, de receber e exportar, de fazer o destino final. E o produtor não consegue andar só, sem auxílio, o melhor caminho é o coletivo. Temos que criar um aporte financeiro para fazer este produto chegar lá na ponta. A bomba está quase para explodir e esta explosão é de qualidade para o nosso estado. Nós provamos que o nosso potencial é muito grande. Agora é pegar esta qualidade e valorizar para que este produto chegue na ponta. A nossa região, tanto na Transamazônica, quanto sudeste, sul e nordeste paraense têm potencial. Temos que organizar este nosso potencial para valorizar esta qualidade e o valorizar o trabalho do produtor.”
O estudo desenvolvido pelo professor Salo Coslovsky mostra que, apesar de possuir 30% das florestas tropicais do planeta, a Amazônia Legal tem apenas 0.17% de participação no mercado internacional da bioeconomia, considerando os produtos que já exporta. Um dos casos examinados pela pesquisa é o da Bolívia, o maior exportador mundial de castanhas-do-brasil. “O cacau do Pará é hoje o produto certo, no local certo. A impressão é de que se trata de fenômeno de potencial gigantesco. Queremos saber o que podemos fazer para apoiar, para que os produtores possam fazer mais e fazer melhor. Queremos saber quais instrumentos estão à disposição do governo, além dos que ele já dispõe, para desenvolver este potencial. A Amazônia exporta produtos da floresta, como castanha, cacau, que já proporcionam recursos razoáveis. No entanto, a região gera uma receita média de 300 milhões de dólares com a exportação de produtos da floresta, mas o mercado global destes produtos é de quase 200 bilhões de dólares”, afirmou Coslovsky.
Fonte: Agência Pará