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Naufrágio no Pará: família de menina desaparecida enfrenta tristeza e fake news: ‘Brincam com os sentimentos da gente’

Equipes estão no 8º dia de buscas a criança de 4 anos, última desaparecida após naufrágio de barco que ia do Marajó para Belém. Foram confirmadas 22 mortes e 66 sobreviventes.

Foto: reprodução redes sociais
Foto: reprodução redes sociais
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Equipes de mergulhadores estão no oitavo dia de buscas a desaparecidos do naufrágio em Belém e procuram pela menina Sophia Loren Andrade dos Santos, de 4 anos, nesta quinta-feira (15). Aflita por informações, a família reclama da demora da retirada do barco de dentro da água, de fake news, além da tristeza pelo ocorrido.

“Esse é o 8º dia e a gente está aqui com sentimento de dor e tristeza. E a quase todo momento a gente recebe muita fake news, que encontraram e encontraram. A gente vai atrás para checar, e é tudo fake. Tem pessoas que brincam com os sentimentos da gente. A gente fica muito chateado com essa situação”, afirmou Neres Campelo do Amaral Filho, tio da menina Sofia.

No naufrágio na quinta-feira passada (8), 22 pessoas morreram (13 mulheres, seis homens e três crianças), sendo que 15 delas tiveram os corpos levados ao Arquipélago de Marajó, onde foram sepultadas, segundo a Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social (Segup). A missa se sétimo delas foi realizada na noite de quarta (14) com homenagens em Salvaterra.

Outras 66 pessoas sobreviveram, ainda conforme a Segup. O barco navegava sem autorização e não tinha lista oficial de passageiros. As autoridades não divulgaram os nomes das vítimas e sobrevivente.

Mergulhadores com apoio de embarcações de órgãos de segurança e Marinha fazem as buscas no local onde o barco está naufragado. A área de tem baixa visibilidade e forte correnteza que dificultam os trabalhos. Até o início da tarde desta quinta, a menina não foi localizada, segundo as autoridades do Pará

Centenas de pessoas participam de missa do 7º dia às vítimas do naufrágio no Marajó, no PA

Segundo o tio da menina, só na quarta-feira (14) uma assistente social esteve na casa da família, em Salvaterra, pela primeira vez, acompanhada de psicólogo, para prestar algum tipo de apoio.

“Ela [mãe da menina] está sofrendo muito. Ela e toda a família”, diz.

O tio diz ainda que a a família fica à espera de informações oficiais sobre as buscas. A Segup alega que tem prestado assistência à família.

“A Segup lamenta o ocorrido, solidarizando-se com os familiares das vítimas. A Segup reitera que desde o início das ações após o acidente, está prestando apoio integral, biopsicossocial a família da Sophia Loren, que continua desaparecida, com contatos diários com os pais que estão em Belém, inclusive com visita domiciliar, emissão de RG e assistência de saúde e bem estar. Ressaltamos ainda que, as buscas continuam para que a criança seja localizada”, diz a nota.

Ainda segundo o tio, a família também reclama da demora para retirada do barco de dentro da água. Eles acreditam que a menina pode estar na embarcação ou mesmo haver mais vítimas que não foram reclamadas às autoridades.

“Um descaso público com nossa família em relação à Sofia. Se fossem querer realmente acabar com este sofrimento, teriam feito algo maior, por exemplo retirar a lancha do fundo do mar. Fazer uma averiguação completa da lancha, verificar se há vitimas dentro”, diz o tio.

Segundo a Segup, a dona do barco, mãe do condutor preso, “alegou não ter condições de arcar com os custos de reflutuação” do barco e a Marinha também informou que não deve fazer o procedimento. Por isso, o governo deve retirar o barco afundado, mas não informou previsão de data.

“O Estado está realizando os trâmites legais de licenças e licitação para que o içamento seja realizado”, disse a Segup em nota na quarta-feira. Em nova nota nesta quinta sobre a retirada do barco, informou apenas: “‘a Segup reitera que, em depoimento, a proprietária da embarcação alegou não ter condições de arcar com os custos de reflutuação”.

Lancha Dona Lourdes que naufragou próximo à Cotijuba, na travessia do Marajó a Belém. — Foto: Reprodução / TV Liberal

Lancha Dona Lourdes que naufragou próximo à Cotijuba, na travessia do Marajó a Belém. — Foto: Reprodução / TV Liberal

Os moradores da Ilha do Marajó cobram mais fiscalização e segurança nas embarcações existentes para travessia entre Marajó e Belém. Cerca de 500 moradores bloquearam o principal porto de Salvaterra, no Marajó por alguns dias. Após os protestos, o governo anunciou novas embarcações, que começaram a fazer a travessia; as antigas empresas estão suspensas.

O levantamento de pessoas desaparecidas é feito a partir da reclamação de familiares, que podem procurar o Grupamento Fluvial, na avenida Arthur Bernardes, nº1000, em Belém, onde são atendidos por equipe multidisciplinar que fornece informações, serviços essenciais, assistência pisco-social ou qualquer outra necessidade urgente. Um número A também número da Defesa Civil para informações: (91) 98899-6323.

Mergulhadores realizam buscas após naufrágio no Pará  — Foto: Governo do Pará/Divulgação

Mergulhadores realizam buscas após naufrágio no Pará — Foto: Governo do Pará/Divulgação

Investigação

A Polícia Civil, Marinha e o Ministério Público do Estado do Pará investigam o caso. O homem apontado como responsável e condutor da embarcação Dona Lourdes II foi preso na tarde de terça-feira (13). Marcos de Souza Oliveira, de 34 anos, estava na casa do cunhado em Ananindeua, região metropolitana de Belém.

“O Marcos é o principal responsável pelo que ocorreu. E o pior, no momento de desespero ele não se preocupou em salvar vidas e alertar as pessoas”, afirmou o delegado geral da Polícia Civil, Walter Rezende. A defesa de Marcos diz que ele não se omitiu e procurou ligar para pessoas que pudessem ajudar e distribuir salva-vidas – veja mais abaixo.

Marcus de Souza Oliveira, responsável pela embarcação D. Lourdes II, preso nesta terça-feira, 13, em Ananindeua — Foto: Divulgação/Polícia Civil do Pará

Marcus de Souza Oliveira, responsável pela embarcação D. Lourdes II, preso nesta terça-feira, 13, em Ananindeua — Foto: Divulgação/Polícia Civil do Pará

Entre os relatos dos sobreviventes está o fato de que o condutor da embarcação teria demorado a chamar socorro quando o barco começou a afundar, além de não orientar os ocupantes e não distribuir os coletes salva-vidas. Sobreviventes apontaram que os salva-vidas não teriam condições de uso.

Segundo o delegado Walter Rezende, o comandante da embarcação deve ser indiciado por homicídio doloso. A polícia não descarta que mais familiares do suspeito sejam responsabilizados. “A gente está tomando depoimento e juntando às diligências realizadas para avaliar a extensão da responsabilidade criminal”, disse o delegado geral da Polícia Civil do Pará.

Segundo a defesa, o suspeito estaria sofrendo ameaçadas e, por isso, não teria se apresentado à polícia de forma voluntária, conforme relatou o advogado Dorivaldo Belém. Questionada sobre a responsabilização do comandante do barco por transportar pessoas sem colete salva-vidas, o advogado disse que a “responsabilidade é compartilhada”: E a responsabilidade de quem entra no barco e não coloca o colete?”, indagou o advogado, sem responder a questionamentos sobre as irregularidades no barco, apontadas pelas autoridades.

Desde o dia do naufrágio, bombeiros e Marinha realizam buscas próximo à ilha de Cotijuba em Belém — Foto: Governo do Pará/Divulgação

Desde o dia do naufrágio, bombeiros e Marinha realizam buscas próximo à ilha de Cotijuba em Belém — Foto: Governo do Pará/Divulgação

A lancha carregada de passageiros, incluindo crianças e idosos, naufragou na manhã de quinta-feira (8) em frente à Ilha de Cotijuba em Belém. A embarcação saiu de Cachoeira do Arari, no arquipélago de Marajó, com destino à Belém .

Essa embarcação não possuía autorização para transporte intermunicipal de passageiros e saiu de um porto clandestino, segundo a Agência de Regulação e Controle dos Serviços Públicos do Estado do Estado do Pará (Arcon-Pa), que havia notificado a empresa três vezes.

Força tarefa segue buscas por vítimas de naufrágio no Pará. — Foto: Reprodução / Agência Pará

Força tarefa segue buscas por vítimas de naufrágio no Pará. — Foto: Reprodução / Agência Pará

Fonte: G1 Pará

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