As projeções para a retomada da economia na região Norte mostram que a renda média das famílias terão um impacto negativo de 7,3% em 2021, se comparado ao ano passado, segundo levantamento realizado pela Tendências Consultoria, com base em estudos elaborados, em conjunto, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e os Ministérios da Economia e da Cidadania.
O Norte aparece em segundo lugar no ranking das regiões que mais tiveram as rendas impactadas durante a pandemia do novo coronavírus, ficando atrás apenas do Nordeste que apresentou desempenho negativo de 8,6%. As regiões Sudeste, Centro-Oeste e Sul, apresentaram viés de baixa de 1,8%, 1,1% e 0,1%, respectivamente.
Os dados apontam que as classes mais afetadas em 2021 serão as mesma que, antagonicamente, apresentaram maior crescimento de renda em 2020: as classes D e E, no Brasil. A renda média dessas camadas sociais deve encolher quase 15% ainda esse ano, enquanto que a arrecadação da classe A deve apresentar aumento de quase 4%.
A economista e conselheira do Conselho Regional de Economia do Pará e Amapá (CoreconPA/AP), Hellen Bentes, explica que este cenário compõe um ciclo econômico típico que consiste em um período de expansão econômica, seguido de uma recessão e de um período de depressão, para posteriormente a economia ascender.
“Estamos passando pela recessão durante a pandemia e após isso iremos para a depressão, por isso esse aumento nas classes menos favorecidas. Ainda não se sabe se o governo irá intervir nesse movimento para tentar conter esse efeito, já que a previsão é de que o auxílio emergencial permaneça, mas a retomada tende a ser gradual e com toda certeza isso significa um atraso no desenvolvimento da economia paraense. E a recuperação é sempre mais lenta para quem tem renda mais reduzida, porque sofre mais com os impactos causados,”.
As classes D e E foram as que mais registraram crescimento positivo no ano de 2020, na comparação com o ano imediatamente anterior, 23,5%, enquanto que as classes intermediárias, B e C, apresentaram desempenho negativo de 2,8% e 1,3%, nesta ordem. A classe A também apontou alta de 2,1%, no ano passado.
Em contrapartida, a especulação para o ano de 2021 foi de alavancada para as classes mais ricas A, 3,8% e B, 2,5%, e arrefecimento para as classes D e E, estando mais acentuada a variação para a classe menos favorecida, 1,8% e 14,7%, na devida ordem.
Alguns fatores contribuíram negativamente para esse arrefecimento. O desemprego causado pelo período de crise, a redução pela metade no valor do auxílio emergencial pago pelo Governo Federal, o reajuste do salário mínimo para uma quantia abaixo da inflação e a baixa expectativa de retomada do mercado de trabalho, são pontos desfavoráveis para a economia brasileira.
“O declínio da atividade econômica, caracterizada pela queda da produção, o aumento do desemprego, a diminuição da taxa de lucros e o crescimento dos índices de falências, são situações que podem ser superadas num período breve ou estender-se de forma prolongada”, comenta a economista.
A estimativa no Brasil, é que até o fim de 2021 mais de 1 milhão de famílias retornem à pobreza. A Classe A foi a única a não registrar nenhum arrefecimento nas comparações de 2019, 2020 e 2021.
Ana Oliveira, 33 anos, jornalista, ficou desempregada em maio deste ano e agora passa por dificuldades financeiras. “A minha demissão me abalou, porque era a única fonte de renda que eu tinha. De lá para cá eu consegui fazer alguns freelas e meus pais me ajudaram também”, afirma a jovem.
É com a expectativa de recebimento do benefício federal, de forma mais imediata, e com o fim da pandemia, a longo prazo, que Ana projeta retornar à vida normal. “Eu estou vendo se consigo receber o auxílio emergencial, pois depois de uma nova lei que saiu semana passada, eu teria direito a receber retroativo, uma vez que estou sem vínculo empregatício. Eu também tenho a esperança de que quando a pandemia acabar a economia possa voltar a crescer e os empregos voltem a surgir. É muito sombrio esse momento que estamos vivendo aqui no Brasil, parece que não tem luz no fim do túnel. Bate um desespero muito grande. Você olha pra um lado é a covid levando vidas, olha para para o outro é desemprego, é crise” lamenta a jornalista.
Fonte: O Liberal