A febre maculosa não tem alta incidência no Pará, mas o que pouca gente sabe é que essa doença, capaz até de levar uma pessoa ao óbito, é transmitida pelo carrapato. No Pará, o principal agente dessa enfermidade é o carrapato conhecido como Estrela (do tipo Amblyomma cajennensi), predominante na Região Amazônica, e, no Brasil, o Amblyomma sculptum. Esse transmissor é encontrado em animais domésticos e selvagens, como a capivara, cavalos e até em cachorros. Como em Belém as vias públicas costumam ser cortadas por matas, igarapés e rios, existe a circulação da capivara, que pode ter a bactéria e repassar ao carrapato, que pode levá-la para outros animais e aos seres humanos. Por isso, há necessidade de prevenção aos casos, cuidando-se dos animais, inclusive, o cachorro, em particular, presente em muitos lares e vias na capital paraense, como alertam os professores e pesquisadores da Universidade Federal Rural da Amazônia (Ufra), Fernanda Martins e Raimundo Benigno.
Segundo a Secretaria de Saúde Pública do Pará (Sespa), “em 2021 foi registrado 1 caso de febre maculosa em humano, sendo que se trata de caso importado, pois o paciente foi infectado na cidade de Gramado (RS)”. “Não houve registro da doença em 2020 e, até o momento, em 2022”, acrescenta a Secretaria.
Alerta
Fernanda Martins, professora associada de Parasitologia da Ufra, destaca que a febre maculosa é uma bactéria denominada Rickettsia rickettsii, transmitida pelo carrapato. “A única forma de você se contaminar é por meio da picada do carrapato, não pega de uma pessoa para outra, nem de um animal para outro”, ressalta. Ocorre que todas as fases de vida do carrapato, após o ovo, podem transmitir a bactéria da febre maculosa, inclusive, sendo transmitida entre gerações. A fêmea pode fazer postura de ovos já contaminados, passando para outra geração de carrapatos. As fases jovens podem transmitir também e geralmente são mais perigosas, porque como são menores a pessoa não sente muito a picada. Quando um carrapato adulto pica, a pessoa logo sente.
Professores Fernanda Martins e Raimundo Benigno: orientações sobre a febre maculosa (Foto: Eduardo Rocha / O Liberal)
Para transmitir a bactéria, o carrapato precisa ficar ataxado à pessoa, alimentando-se, durante um tempo. A alimentação dele se dá em pulsos, ou seja, suga e para e ejeta saliva. “Quando ele ejeta a saliva é que vai inocular a bactéria. Essa bactéria vai se disseminar no corpo e ataca as células dos vasos sanguíneos e, com isso, vai causar problemas no corpo todo, em todos os órgãos, como chama a atenção Fernanda Martins.
“O principal sintoma são manchas na pele, febre alta, dor de cabeça, sintomas de infecção geral; pode, por exemplo, causar coagulação intravascular, e aí a gente pode ter, no final da doença, até problemas neurológicos e morte”, enfatiza a professora Fernanda Martins. Por isso, é essencial começar o tratamento recente, a partir de um diagnóstico.
“Esse diagnóstico precisa ser precoce (feito rapidamente), mas, às vezes, as pessoas ficam esperando pelos sintomas típicos, e aí não se vai ter um tratamento a tempo”, alerta a professora. Aspectos da febre maculosa e a prevenção ao carrapato Estrela foram abordados, entre outros temas, na I Mostra Socioeducativa de Parasitologia – Exposições, Oficinas e Apresentações de Trabalho, na sexta-feira (18), na Ufra, quando estudantes de escolas do bairro da Terra Firme assimilaram conhecimentos a partir de trabalhos confeccionados por universitários.
Estudantes da Terra Firme aprendem sobre circulação de carrapatos em Mostra Científica na Ufra (Foto: Eduardo Rocha / O Liberal)
Cachorros
O carrapato se abriga em um hospedeiro, que pode ser um animal ou o ser humano. O reservatório são os hospedeiros que têm a bactéria mas não a doença, como explica o professor Raimundo Benigno, de Parasitologia e Doenças Parasitárias no curso de Medicina Veterinária da Ufra. O carrapato da febre maculosa chega ao ser humano, em geral, em uma área rural, como destaca o professor. No meio rural, existem vários doadores de sangue para esse carrapato, envolvendo aves e mamíferos.
“A principal espécie de carrapato não é esse da febre maculosa”, pontua o professor Raimundo Benigno. No entanto, como em Belém há matas e rios entrecortando ruas, já foi observada a presença do carrapato Estrela na capital paraense, pontua o docente.
Como frisa o professor, os hospedeiros primários (principais) desse carrapato são cavalos, búfalos. O cachorro é um doador de sangue para o carrapato, no entanto, os principais reservatórios da doença (hospedeiros resistentes à bactéria) são os animais selvagens, em especial, a capivara. Quando o carrapato, quando toma sangue das capivaras, existe grande possibilidade de ele se infectar com a bactéria e, então, transmiti-la para outro animal ou o ser humano. Abaixo da capivara, está o cavalo, e bem mais abaixo estão os cachorros, que são hospedeiros na ausência de outros animais.
“A prevenção (com relação aos cachorros, em particular) é você evitar de andar com seu animal em áreas com a presença desse carrapato, ou seja, áreas próximas de rios, regiões com facilidade de ter animais reservatórios. Um aspecto importante é que quando você vai para uma área de risco, por alguma necessidade, tem que se proteger, e a forma de proteção é usar botas, calça por dentro das botas, com meias, usar luvas, e outra forma é fazer investigações olhando o seu corpo a pelo menos a cada três minutos, tempo que o carrapato leva para tomar sangue”, destaca Raimundo Benigno.
É fundamental observar e lavar atentamente os cachorros e outros animais, a fim de identificar qualquer tipo de carrapato, o que inclui o vetor da febre maculosa. O paciente da doença é tratado com antibiótico específico e deve começar o tratamento logo depois da suspeita clínica, sem se ficar aguardando pelo resultado do laboratório.
Dicas de prevenção do Ministério da Saúde:
– Ficar longe do carrapato
– Usar roupas claras para ser mais fácil de se identificar o carrapato
– Proteger-se com calças, botas e blusas com mangas compridas em áreas com vegetação
– Evitar andar em locais com vegetação e grama alta
– Usar repelente com proteção contra carrapatos
– Controle com antiparasitário em animais domésticos
– Retirar, com uma pinça, os carrapatos eventualmente encontrados no corpo
– Não esmagar o carrapato com as unhas, porque ele pode contaminar partes do corpo ao liberar bactérias
– Retirar o quanto antes os carrapatos do corpo – quanto mais cedo, menor o risco de contrair a doença
Fonte: O Liberal