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Paraense de sete anos entra para o grupo dos mais inteligentes do mundo

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Mesmo com Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH), Salomão Gomes da Silva Alves, de Belém, tem altas habilidades e entrou para a Mensa Internacional

Com apenas sete anos de idade e com o sonho de ser engenheiro mecatrônico e trabalhar com construção de robôs para ajudar as pessoas, o paraense Salomão Gomes da Silva Alves, de Belém, foi aceito, em março deste ano, na Mensa Internacional (na Inglaterra), sociedade que reúne pessoas com alto quociente de inteligência (QI) de vários países, e na Mensa Britânica, um dos grupos nacionais dessa sociedade. Com isso, ele tem vários benefícios, como acesso a publicações periódicas, encontros nacionais e internacionais, programa de intercâmbio, grupos de discussão, dentre outros.

Mesmo com Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH), com predomínio hiperativo em nível moderado; Transtorno Opositor Desafiador (TOD), caracterizado por comportamento desafiador e desobediente a figuras de autoridade; e Transtorno de Ansiedade com níveis moderados; ele apresenta altas habilidades de aprendizagem porque também se enquadra no diagnóstico de susperdotação, com idade mental correspondente a 12 anos.

João Paulo e Kátia Alves, os pais, explicam que ele não foi aceito na Mensa Brasil, onde há um critério de idade (ter mais de dez anos). Já o requisito para a organização internacional foi realizar um teste de QI e obter resultado superior a 98% da população já avaliada – em média, mais de 130 pontos.

O nível de inteligência foi identificado a partir de um teste chamado Escala Wechsler de Inteligência para Crianças (WISC-IV), instrumento clínico de aplicação individual que tem como objetivo avaliar a capacidade intelectual de crianças e adolescentes (6 anos e 0 meses a 16 anos e 11 meses) e o processo de resolução de problemas.

A maioria das pessoas tem um QI entre 85 e 115. No teste, com uma pontuação de 130 ou mais, a pessoa é considerada superdotada. O perfil cognitivo de Salomão apresenta capacidades classificadas na faixa superior, com QI total de 136, que representa um percentil de 99 em relação à população geral, ou seja, está entre 1% da população mundial com esse nível de inteligência.

Altas habilidades desde cedo

Os pais de Salomão perceberam desde cedo as altas habilidades dele, mas só descobriram do que se tratava no ano passado. Com pouco mais de um ano de idade, o menino aprendeu a falar e começou a identificar cores em português e inglês. Aos quatro, aprendeu a ler. Também demonstrou cedo a facilidade para desenhar traços em pinturas.

“Soubemos que o Salomão era diferente desde bebê, porque, acompanhando os livros sobre  desenvolvimento de bebês, sempre estava na frente. Falou muito cedo e procurava explicação lógica para tudo. Sempre foi muito questionador, do contra, mas, na pandemia, como ficou isolado, começou a demonstrar alguns traços, antes não tão evidentes, como a ansiedade. Procuramos ajuda profissional e descobrimos tudo. Agora continuaremos buscando ajuda especializada para que ele possa continuar o seu desenvolvimento de forma equilibrada e sem pressão”, contou a mãe, Kátia.Os pais de Salomão perceberam desde cedo as altas habilidades deleOs pais de Salomão perceberam desde cedo as altas habilidades dele (Akira Onuma / Grupo Liberal)

O belenense superdotado está cursando o terceiro ano do fundamental e é apaixonado por matemática, japonês e astronomia. Com desempenho que varia entre 9,5 e 10 nas disciplinas, também está participando como aluno do Núcleo de Astronomia da Universidade Federal do Pará (UFPA), o Nastro, e fez parte do Núcleo de Atividades de Altas Habilidades/Superdotação (NAAHS) em Belém, onde a família recebeu apoio pedagógico especializado quando ele era mais novo.

Em um jogo de cartas chamado baralho SET, com padrões que se assemelham a um tipo de questão de testes de lógica parecida com algumas usadas em testes de QI supervisionado, Salomão virou craque.

“No começo, ainda ganhava dele. Hoje em dia, nem minha esposa nem eu conseguimos ganhar mais. É um jogo que tem que achar padrões nas cartas apresentadas na mesa. De alguma forma, ele processa e enxerga muito rapidamente esses padrões. Já o coloquei para jogar com outras pessoas de 18 a 25 anos e não conseguiram ganhar dele”, observou o pai, João Paulo.

Inclusão

Conforme explicado pelo Ministério da Educação, a proposta de atendimento educacional especializado para os alunos com altas habilidades/superdotação tem fundamento nos princípios filosóficos que embasam a educação inclusiva e como objetivo formar professores e profissionais da educação para a identificação dos alunos com altas habilidades/superdotação, oportunizando a construção do processo de aprendizagem e ampliando o atendimento, com vistas ao pleno desenvolvimento das potencialidades desses alunos.

Apesar disso, existe muito preconceito por parte de quem acha que os alunos superdotados devem saber de tudo. “Aprende rápido, mas precisa estudar. Algumas pessoas não entendem isso e acham que a criança tem que saber tudo de tudo, e se não souber, criticam”, contou o pai de Salomão.

Medalha de ouro em astronomia

Em dezembro de 2020, Salomão conquistou medalha de ouro na 23ª Olimpíada Brasileira de Astronomia e Astronáutica (OBA), organizada pela Sociedade Astronômica Brasileira (SAB) e pela Agência Espacial Brasileira (AEB). Atualmente, está concorrendo a mais três medalhas: na 24ª OBA, com prova realizada na quinta-feira (27); e na Mostra Brasileira de Foguetes (Mobfog) real e virtual, com participação na sexta-feira (28).O belenense superdotado ganhou medalha de ouro na 23ª Olimpíada Brasileira de Astronomia e AstronáuticaO belenense superdotado ganhou medalha de ouro na 23ª Olimpíada Brasileira de Astronomia e Astronáutica (Arquivo pessoal)

A diretora do centro educacional onde Salomão estuda em período integral, Kyoto Oti, comentou que ele sempre se destacou nas atividades. “Nossos pedagogos acompanham sempre os alunos com atividades diferenciadas. Temos língua japonesa, inglês, espanhol, música, esportes japoneses, reforço escolar e outros. E o Salomão, que está conosco desde o maternal I, sempre se destacou como superdotado. Fizemos uma cerimônia no colégio para entregar a medalha de ouro que ele ganhou na OBA”.

Especialistas orientam sobre TDAH e superdotação 

O Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH) é um transtorno neurobiológico, de causas genéticas, que aparece na infância e frequentemente acompanha o indivíduo por toda a sua vida, ele se caracteriza por um padrão persistente de desatenção e/ou hiperatividade-impulsividade que interfere em várias áreas da vida, nas atividades sociais e acadêmicas/profissionais, conforme explicou a neuropsicóloga Jessica Mara Lopes de Matos Neves, de Belém.

“O TDAH é mais frequente no sexo masculino, atinge 5% das crianças e 2,5% dos adultos. Na infância, as características do TDAH podem ser identificadas nas crianças com perfil mais desatento, aquelas tidas como ‘avoadas’, ‘vivendo no mundo da lua’ e as crianças com perfil hiperativa/impulsiva são geralmente caracterizadas como ‘estabanadas’ e com ‘bicho carpinteiro’ ou ‘ligados por um motor’, isto é, não param quietas por muito tempo”, detalhou.

As crianças e adolescentes com TDAH podem apresentar dificuldades com regras e limites. Em adultos, são caracterizados como pessoas mais distraídas, com dificuldades para lidar com várias tarefas ao mesmo tempo, as vezes inicia uma atividade e não consegue concluir, mais desorganizados, e o perfil hiperativo/impulsivo são considerados mais inquietos (parece que só relaxam dormindo), ficam com pensamento mais acelerado, vivem mudando de uma coisa para outra e são impulsivos. “Eles têm uma grande frequência de outros problemas associados, tais como o uso de drogas e álcool, ansiedade e depressão”, ponderou a neuropsicóloga.Neuropsicóloga Jessica Mara Lopes de Matos Neves explica a diferença entre TDAH e superdotaçãoNeuropsicóloga Jessica Mara Lopes de Matos Neves explica a diferença entre TDAH e superdotação (Arquivo pessoal)

Já o termo superdotação é mais conhecido como altas habilidades. É quando os indivíduos demonstram alto grau de potencialidades, grande envolvimento com áreas diversas, sempre com desempenho elevado associado a um alto grau de motivação para a aprendizagem e para a realização de tarefas em assuntos de seu interesse.

Sobre uma criança com TDAH e com altas habilidades, a neuropsicóloga comentou que é importante definir o conceito de “dupla excepcionalidade”, que é a presença de alta performance, talento, habilidade ou potencial, ocorrendo em conjunto com uma desordem psiquiátrica, educacional, sensorial e física. Envolve, também, a ideia de que pessoas que demonstram capacidades superiores em uma ou mais áreas poderiam apresentar ao mesmo tempo deficiências ou condições incompatíveis com essas características.

“Como exemplo, na área cognitiva, pode-se citar casos em que crianças possuem Altas Habilidades/Superdotação (AH/SD) juntamente com transtornos do neurodesenvolvimento, como a Síndrome de Asperger (SA), Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), Transtornos de Aprendizagem (TA), dentre outros, portanto, pode ter correlação superdotação/altas habilidades, TDAH e dupla-excepcionalidade, mas deve-se ressaltar que não é frequente”, concluiu Jessica Mara.

Cuidados

A psicóloga Niamey Granhen, professora da Universidade Federal do Pará (UFPA), explicou que o diagnóstico dessas condições é feito por uma equipe multiprofissional geralmente composta por neurologista, psiquiatra, neuropsicólogo e psicólogo, mediante entrevistas, exames e testes neuropsicológicos. Ela reforçou que, quando se fala em altas habilidades, é necessário desmistificar que não significa que a pessoa será hábil em tudo, mas existem especificidades.

“Pelo desconhecimento e pelo preconceito, existem expectativas e pressões sociais que prejudicam potencializando ansiedade e baixa autoconfiança. Os pais necessitam compreender o diagnóstico e fortalecer a criança evitando pressão”, recomendou.

Entre as orientações: “ter clareza do diagnóstico; desmistificar preconceitos; compreender a singularidade de cada caso; fortalecer a autoconfiança, reforçando as potencialidades e respeitando os limites; evitar focar nas dificuldades; buscar ajuda profissional; e estimular a parceria família escola no acompanhamento das necessidades singulares de cada criança”, orientou Niamey.

Fonte: O Liberal

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