O Pará tem 12 produtores de alimentos e bebidas originárias da Amazônia com potencial de conquistar o mercado exterior. Dados são da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil), que divulgou um estudo apontando que a produção da Amazônia Legal tem força para cativar os Estados Unidos, China, Japão e países europeus, como Alemanha.
Foram identificados pela pesquisa as empresas capazes de focar na exportação de Benevides, Santa Bárbara do Pará, Castanhal, Inhangapi, Capitão-Poço, Tomé-Açú, duas em Abaetetuba, Uruará, Óbidos, Oriximiná e Belém; todas com selo de sustentabilidade.
O estudo, intitulado “Alimentos e Bebidas da Amazônia Legal – Oportunidades e Apelos Globais”, foi realizado pela área de Inteligência de Mercado da ApexBrasil, em parceria com 15 empresas da Amazônia Legal, como a Fazenda Panorama, no município de Uruará, no Pará, que produz cacau; e a Manioca, de Belém, que produz molhos, farinhas e granolas à base de ingredientes originários do bioma.
O trabalho também analisou o segmento alimentício a partir de produtos específicos, divididos em: feijão, gergelim e pimenta-do-reino; café e cacau; açaí, guaraná e abacaxi; castanhas-do-pará; farinhas e preparos de mandioca; e peixes. Os produtos têm como apelo especialmente a saúde e a qualidade.
De acordo com o levantamento, todas as produções têm em comum o fato de serem compatíveis com as características do bioma e, desse modo, serem sustentáveis em sua produção, “o que faz jus ao objetivo da efeméride: celebrar a importância desse bioma para o Brasil e também fazer uma conscientização acerca de sua preservação”.
Floresta em pé
Os produtos amazônicos analisados tendem a produzir externalidades positivas, como a manutenção da floresta em pé e ao gerarem renda para povos ribeirinhos, por exemplo –, além de serem compatíveis com os apelos globais mais recentemente em voga.
A ApexBrasil explica que o consumidor de hoje está cada vez mais consciente em termos de qualidade, sustentabilidade, saudabilidade e comércio. Por isso, a cadeia de produção torna-se cada vez mais relevante para a tomada de decisão das empresas. Nesse sentido, o estudo aponta uma convergência entre os atributos dos produtos analisados e as preocupações desse novo perfil de consumidor que emerge.
“De maneira geral, os produtos aqui analisados possuem como características o fato de serem típicos da região amazônica, favorecendo a preservação da floresta; de serem tradicionalmente cultivados pela agricultura familiar, ribeirinhos, quilombolas, e povos tradicionais, potencialmente gerando renda em regiões de menor desenvolvimento relativo; e de naturalmente oferecerem alguns dos atributos nutritivos mais buscados por esse novo perfil de consumidor”, diz a pesquisa.
O estudo indica que o apelo mais comum em alimentos e bebidas foi “orgânico”, que foi encontrado em 6,4% de todos os produtos mapeados no setor. Em segundo lugar, está o “sem glúten”, com 3,2% de participação. Em alguns segmentos mais específicos, a prevalência de um apelo pode chegar a 25%, como no caso do rótulo “orgânico” no setor de pulses.
“Em países com maior poder de consumo, como é o caso dos europeus, a presença dos apelos globais em alimentos e bebidas, com destaques para opções saudáveis e sustentáveis, é mais forte. Da mesma forma, em países com hábitos particulares de consumo, como a Índia, apelos como “vegetarianismo” se destacam por fazerem parte da tradição cultural”, continua.
Ainda segundo a ApexBrasil, embora os produtos amazônicos tenham alto grau de compatibilidade com esses apelos, resta o desafio de tornar essa associação conhecida, ao promover a disseminação de informações sobre os produtos em mercados estratégicos. A comunicação com o mercado de destino por meio de selos indicativos de indicação geográfica e de certificações privadas pode ser instrumental como parte dessa tarefa.
“Diversas empresas da Amazônia Legal já estão atentas para esse potencial, investindo em certificações privadas, no desenvolvimento de indicações geográficas, e na estratégia de comunicação dos apelos dos produtos”, conclui a pesquisa.
Produtores do Pará
A assessora técnica da Federação da Agricultura e Pecuária do Pará (Faepa) Eliana Zacca, afirma que a tendência é que todos os produtores do Estado se adaptem ao estilo de produção sustentável, atendendo ao apelo global, em prol da floresta amazônica.
“Essa é a única direção. Nós já temos a marca Amazônia, e precisamos avançar ainda mais com o selo de sustentabilidade, o que não se dá apenas com pela produção, mas também de boas práticas, como a não contratação de mão de obra infantil e ação social nas comunidades. Quanto a isso, os pequenos e médios produtores precisam ter mais incentivo e capacitação para melhorar essa produção para se adequar às exigências do mercado exterior que, quase todos, exigem justamente esse selo de sustentabilidade”, esclarece a especialista.
Ela salienta ainda que o Pará ainda não usa todo seu potencial para a exportação. “Temos produtos com muito apelo de mercado. Mas precisamos investir mais no processo para garantir o aumento da escala de produção, certificados de qualidade para que possamos ter acesso aos mercados internacionais, que são mais exigentes que o mercado brasileiro”, critica.
“A grande preocupação do mundo hoje é com a questão ambiental. Não basta apenas exportar a Amazônia, os produtores devem garantir a permanência da Amazônia em pé, com práticas sociais e ambientais. Assim, podemos ganhar o mundo”, pontua Eliana Zacca.
Para o presidente da Cooperativa Agrícola Mista de Tomé-Açu (Camta), Alberto Oppata, que é referência em produção de cacau e pimenta-do-reino no nordeste paraense, o caminho para alavancar a produção e exportação na Amazônia é usar as áreas desmatadas com boas práticas de cultivo.
“A Camta nesse longo dos 90 anos, aprendeu muito com erros e acertos. Hoje, nosso sistema de agricultura vem trabalhando em harmonia com o meio ambiente. Tanto é que, nossos clientes até pagam a mais pelo sistema agroflorestal. Estamos hoje trabalhando com a Embrapa buscando novas formas de abrir novos campos para plantio, fomentando a agricultura sem queimada, renovando os espaços desmatados, é uma boa forma de melhorar nossa economia”, conta.
Outro produtor referência é a Manioca, empresa que exporta para Europa e América do Norte, contando inclusive com parceiros distribuidores na França e Estados Unidos que atendem seus respectivos continentes. A assistente de exportação Àgatha Glin conta que a demanda no exterior só tem aumentado. “Também temos sido procurados pelo mercado oriental, tendo atendido Japão, Hong Kong, Singapura e também a região dos Emirados Árabes”, confidencia.
A empresa diz que para atender esse mercado exigente, já adaptou sua produção. “Buscamos garantir o nosso impacto positivo para o meio ambiente e para as comunidades que atuam conosco, por isso, recentemente fomos certificados como Empresa B, selo internacional que garante o nosso comprometimento com o desenvolvimento sustentável social e econômico. Além dos selos e certificações, o nosso contato direto com fornecedores e produtores, apoio técnico e financeiro que possibilitamos garante o compromisso com a sustentabilidade”, finaliza.
Fonte: O Liberal