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Projeto inédito na região forma professores na temática étnico-racial sobre cultura indígena

Educadores da rede municipal de Altamira terão capacitação que visa à melhor compreensão histórica e geográfica dos povos tradicionais

Foto: Divulgação/Norte Energia
Foto: Divulgação/Norte Energia
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As salas de aula de Altamira serão instrumentos de uma inédita iniciativa, em que dez professores indígenas darão aulas para 48 professores não indígenas da rede pública de Altamira. Um projeto piloto lançado nesta quinta-feira (03) tem como objetivo capacitar o corpo docente sobre a temática étnico-racial da cultura indígena, levando genuíno conhecimento desses povos originário.

Fruto de uma parceria entre a Norte Energia, empresa privada concessionária da Usina Hidrelétrica Belo Monte, e a Prefeitura de Altamira, o PERMEAR está alinhado aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), estabelecidos pela Organização das Nações Unidas (ONU), um apelo global ao enfrentamento da pobreza, proteção do meio ambiente e do clima, garantia de paz e de prosperidade a todas as pessoas, em todos os lugares, como parte da Agenda 2030.

A iniciativa segue as diretrizes, principalmente, dos ODS 4 e 17, que estabelecem, respectivamente, ações que assegurem educação de qualidade e a busca de parcerias e meios de implementação de ações que contribuem com o desenvolvimento socioeconômico sustentável.

Além disso, o PERMEAR segue os conceitos da Década Internacional das Línguas Indígenas 2022-2032 (DILI), instituída pela Assembleia Geral das Nações Unidas, como resultado do Ano Internacional das Línguas Indígenas, proclamado pela UNESCO em 2019. Segue a linha do Plano de Ação Global para a DILI, tendo como princípio norteador a participação efetiva dos povos indígenas na tomada de decisão, consulta, planejamento e implementação, com o lema “Nada para nós sem nós”.

O projeto, que será executado pelo Belo Monte Comunidade, iniciativa da UHE Belo Monte, e pela Secretaria Municipal de Educação (Semed), consiste na capacitação de educadores do ensino Fundamental Maior, do 6º ao 9º ano e foi idealizado pelo consultor linguista Nelivaldo Santana, professor da Universidade Federal do Pará (UFPA) e doutorando da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), e por Vanessa Caldeira, antropóloga da Norte Energia. Ambos também atuarão em sala de aula, na capacitação dos professores.

O lançamento ocorreu no auditório da Semed e contou com a presença dos professores que integram direta e indiretamente o projeto, além de representantes da Universidade Federal do Pará (UFPA), Secretaria de Estado de Educação (Seduc), Fundação Nacional dos Povos Indígenas (FUNAI), entre outros representantes da sociedade civil organização e da Norte Energia.

Silvia Cabral – Superintendente de Sustentabilidade da Norte Energia

Silvia Cabral, superintendente de Sustentabilidade da Norte Energia, explicou que o PERMEAR é um projeto que tem a participação de professores indígenas de todo o Médio Xingu e é uma ação extremamente relevante no combate ao racismo e na inclusão étnico-racial, ao trazer mais conhecimento sobre a cultura indígena, sobre o modo de vida, sobre toda a riqueza cultural desses povos.

“Esse é um projeto da agenda de sustentabilidade da Norte Energia, que vem para combater o racismo, trazer mais informação sobre os povos indígenas. A ideia dessa parceria com a Secretaria Municipal de Educação de Altamira é que seja um projetopiloto e que demonstre o sucesso da iniciativa, que possa ser, então, replicada também para outros municípios, paro o Estado, enfim, para todas as esferas que tiverem interesse no programa”, concluiu.

Maria das Neves Morais de Azevedo, secretária municipal de Educação de Altamira, falou da importância do PERMEAR como um acontecimento histórico na educação brasileira, especialmente na região do Xingu. “O conhecimento é algo infinito, que não tem limites, e trabalhar hoje com o nosso povo na zona urbana e na zona rural, dando ênfase para disciplinas como essas da cultura, história, geografia, dos estudos das raízes do nosso povo, dos nossos indígenas, é algo histórico para esta cidade”, reflete a secretária, ao explicar que o PERMEAR foi construído a partir de um diálogo interno com a Norte Energia, que já é parceira da Semed.

EDUCAÇÃO INCLUSIVA – O PERMEAR já teve suas primeiras atividades teóricas na tarde desta quinta-feira. A execução do projeto, com previsão para ser concluído em dezembro, envolve quatro módulos e carga horária total de 112 horas. O conteúdo programático será voltado aos professores das disciplinas de história, geografia e estudos amazônicos. Além disso, a capacitação oferece o desenvolvimento de material didático para ser usado em sala pelos docentes e alunos do Fundamental Maior.

Para o coordenador Regional de Centro Leste do Pará na FUNAI, Luís Xipaia, a parceria entre a Norte Energia e a Prefeitura de Altamira servirá para levar a diversidade cultural dos povos indígenas ao corpo docente e discente das escolas. “É um projeto que tem muito a ganhar para história, para o município e na Era da educação, porque os livros didáticos de hoje trabalham com a realidade muito diferente do que são os povos indígenas. Esse projeto vai trazer uma demanda específica para que os professores do nosso município comecem a entender o que é o ser indígena e como tratar essa forma de educação e respeito, sem um olhar discriminatório”.

Professor indígena Kwazady Xipaya Mendes

O professor indígena Kwazady Xipaya Mendes, um dos ministrantes da formação, falou da importância na relação de pertencimento dos indígenas e não indígenas com seu território. “Agora, a gente quer fazer o inverso. Há a necessidade de se fazer o inverso, de formar a sociedade não indígena, para que ela entenda o nosso mundo também. A forma de educação que a gente está propondo e brigando para ser é para quebrar um preconceito que existe entre a sociedade não indígena”, afirmou o professor, que reconheceu a importância da aliança entre o povo indígena, a gestão municipal e a Norte Energia.

Também participaram da solenidade representantes do Território Etnoeducacional do Médio Xingu (TEEMX), da Universidade do Estado do Pará (UEPA) e da Secretaria de Estado de Educação do Pará (Seduc), entre outros.

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