Entre 1º de janeiro e 1º de abril deste ano, foram confirmados 31 casos de doença de Chagas no Estado do Pará, de acordo com dados registrados pela Secretaria Estadual de Saúde (Sespa). Metade dos casos da doença no Brasil, são registrados no Estado do Pará.
O número pode espantar, mas no mesmo período de 2018, os casos registrados foram bem maiores, 56. Porém, durante todo o ano passado, foram registrados no Pará 326 casos de doença de Chagas no Estado, número maior que em 2017, que foi de 308 casos.
No próximo domingo, dia 14, se comemora Dia Mundial de Combate à Doença de Chagas, uma data criada para servir de alerta à população e para prevenção contra a doença. A data foi escolhida por ter sido o dia em que o pesquisador brasileiro, Carlos Chagas, informou sua descoberta à comunidade científica em 1910.
A Doença de Chagas é considerada pela Organização Mundial de Saúde (OMS), uma das 17 doenças negligenciadas em todo o planeta.
A doença de Chagas, ou tripanossomíase americana, é causada pelo parasito Trypanosoma Cruzi. Sua transmissão para seres humanos e outros mamíferos ocorre principalmente pelo inseto vetor conhecido como barbeiro, transfusões de sangue, de mãe para filho durante a gestação ou parto e por alimentos, hoje considerada a principal forma de transmissão através da ingestão de açaí e de cana-de-açúcar.
A coordenadora de Protocolos Clínicos da Doença de Chagas, do Instituto Evandro Chagas, Ana Yecê das Neves Pinto, lembra que a maior incidência da doença acontece nos meses mais quentes na região, ou seja, a partir de julho.
Brasil é campeão em mortes por doença de Chagas em todo o mundo
O Brasil responde por 70% das mortes no mundo por doença de Chagas. Os fatores apontados pelos especialistas para amargar esse índice são: falta de investimentos em pesquisas voltadas para prevenção e controle; falta de conhecimento pelos profissionais de saúde sobre métodos de diagnóstico e tratamento e o desconhecimento da população infectada, já que a estimativa é que em todo continente americano 6 milhões de pessoas são portadoras da doença de Chagas, mas a maioria não sabe que está infectada.
Segundo o relatório G-Finder, ligado à Fundação Bill e Melinda Gates, o Brasil saiu do grupo dos 12 maiores financiadores globais do setor para pesquisas de prevenção e controle da doença de Chagas desde 2017, uma das razões seria à Emenda Constitucional 95 que congelou os gastos públicos no país.
Um estudo realizado pela Fundação Oswaldo Cruz em parceria com a organização Médico Sem Fronteiras (MSF), divulgado em 2018, revelou que apenas 32% dos profissionais ouvidos conheciam os procedimentos para o diagnóstico da doença e 41% sabiam que existe um medicamento específico para o tratamento dos pacientes, mas não lembravam qual era.
De acordo com informação da Sespa, a Coordenação Estadual do Programa de Controle da Doença de Chagas, intensifica as ações em todos os Centros Regionais de Saúde, para que orientem municípios de abrangência sobre monitoramento, treinamentos em investigação epidemiológica de Chagas, orientações de educação em saúde e mobilização social, inclusive, aos batedores de açaí.
A Sespa também informa, que atua no combate à doença como orientadora, através de treinamentos e recomendações técnicas às secretarias municipais de Saúde, cujas equipes de vigilância sanitárias são as designadas para execução da vigilância de boas práticas de higiene em locais de vendas e processamento de alimentos.
Para debater soluções de combate à doença de Chagas, especialistas se reunirão em Belo Horizonte – de 27 a 31 de junho -, em realização simultânea do 55º Congresso da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical, o MEDTROP2019, o XXVI Congresso Brasileiro de Parasitologia e a 34a Reunião de Pesquisa Aplicada em Doença de Chagas e 22ª Reunião de Pesquisa Aplicada em Leishmanioses, o CHAGASLEISH 2019.
O tema do congresso “Convergência e inclusão: em busca de soluções sustentáveis para o diagnóstico, tratamento e controle das doenças tropicais” abre perspectivas para integração da ciência, educação e tecnologia buscando, na interdisciplinaridade, benefícios para a saúde, para o desenvolvimento do indivíduo e da sociedade.
Casos de doença de Chagas registrados no Pará:
Nos doze meses de 2018 foram registrados 326 casos de doença de Chagas no Estado. Em 2017 o Pará registrou 308 casos. Em anos anteriores o cenário da doença de Chagas no Pará foi o seguinte:
2016 (371 casos)
2015 (254 casos)
2014 (156 casos)
2013 (133 casos)
2012 (156 casos)
2011 (141 casos)
2010 (81 casos) Fonte: Sespa
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