Por Wilson Soares – A Voz do Xingu

Foto: Wilson Soares / A Voz do Xingu
A produtora paraense Valdete Silva sempre teve um sonho: diversificar a produção em sua propriedade e agregar valor aos recursos naturais disponíveis. Há 15 anos, ela se dedica ao cultivo do cacau em Senador José Porfírio, no Baixo Xingu. Desde 2021, ela é também chocolatier, e, como tantos outros produtores da região, ela viu na capacitação oferecida pelo Sebrae e parceiros uma chance de transformar esse sonho em realidade. “Estou montando uma empresa e fui convidada pelo Ipam e Sebrae para participar deste curso. Foi uma experiência enriquecedora, pois aprendemos a diversificar nossa produção e valorizar ainda mais os recursos que temos em nossas propriedades”, contou Valdete, uma das 23 participantes do curso de Bioeconomia do Cacau em Sistemas Agroflorestais, realizado em Altamira, entre os dias 27 e 29 de janeiro.

O curso, que aconteceu nas instalações da Abelha e Cacau, teve uma carga horária de 24 horas e combinou aulas teóricas e práticas, voltadas para a maximização do uso do cacau e seus derivados. Ao longo de três dias, produtores e empreendedores de diferentes municípios da região do Xingu, como Altamira, Brasil Novo, Senador José Porfírio, Anapu e Medicilândia, tiveram a oportunidade de aprender técnicas inovadoras para aproveitar integralmente o fruto, criando novos produtos e impulsionando seus negócios.

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Entre os produtos que os alunos aprenderam a fazer estavam geleias, trufas, licores, xaropes, balas e bolos, todos produzidos com a polpa e a casca do cacau, demonstrando que há muito mais a ser aproveitado além das amêndoas.

José Janilson, da Ceplac, um dos responsáveis pela capacitação, explicou o objetivo do curso: “Chamamos este curso de Bioeconomia do Cacau porque ele visa o aproveitamento integral do fruto. Normalmente, os agricultores usam apenas 8% do cacau – a semente. Nosso foco aqui foi ensinar como aproveitar os outros 92%, agregando valor à produção e criando novas oportunidades de renda.”

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Para Márcia Carneiro, analista técnica do Sebrae – Agência Xingu, o curso representa um avanço na busca por negócios sustentáveis na região. “Nosso propósito é desenvolver modelos de negócios sustentáveis. Em parceria com a Ceplac, promovemos este curso para que os produtores aprendam a trabalhar com todos os derivados do cacau, não apenas com a amêndoa”, destacou.
A capacitação também teve uma vertente voltada à conscientização sobre doenças que ameaçam a produção cacaueira. Pedro Paulo, engenheiro agrônomo da Adepará, ministrou uma palestra sobre a Monilíase, doença que afeta o cacau e chegou ao Brasil em 2021. “Essa doença ainda não foi identificada na nossa região, mas é considerada a principal praga da cultura do cacau. Nosso objetivo foi alertar os produtores sobre os sintomas e fornecer informações sobre manejo e controle”, explicou o especialista.

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Além dos aspectos técnicos, a capacitação se transformou em um espaço de troca de saberes e experiências. Jandira Carneiro, moradora de Altamira, destacou a importância de aprender a utilizar todas as partes do cacau. “Chegamos aqui sem saber como aproveitar partes como a testa, a casca e a sibirra do cacau. Aprendemos a extrair pectina de outras frutas para aplicar no cacau, e o resultado foi excelente. Tudo o que fizemos foi aprovado por todos”, relatou.

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Kassandra Renê, proprietária da Abelha e Cacau e anfitriã do evento, também se emocionou com o impacto da capacitação. “Para nós, compartilhar conhecimentos significa impulsionar a economia local. Assim como as abelhas multiplicam, nosso empreendimento busca expandir o saber e promover um desenvolvimento regional sustentável, garantindo a preservação da Amazônia”, afirmou, destacando o papel fundamental da educação na transformação da região.

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O curso foi encerrado na tarde desta quinta-feira (30 janeiro 2025) com a entrega dos certificados aos participantes, em uma cerimônia que contou com a presença de representantes da Ceplac, Sebrae, Sindicato dos Produtores Rurais de Altamira (Siralta), Rotary Club e outros convidados. Ao final, os presentes puderam degustar algumas das delícias produzidas pelos formandos, como trufas e bolos, fruto da capacitação e do empenho de todos.

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Com o encerramento do curso, a região do Xingu se fortalece ainda mais como uma das principais produtoras de cacau do Brasil. A região da Transamazônica é responsável por cerca de 86% da produção cacaueira do Estado e se destaca também por possuir algumas das melhores amêndoas do Brasil, que são transformadas em chocolates artesanais com alto teor de cacau, ganhando cada vez mais espaço no mercado nacional e internacional.

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“Durante esses três dias, adquirimos conhecimento com várias marcas de chocolatiers para aprender mais sobre os benefícios e os produtos derivados do cacau, buscando um aproveitamento total do fruto. Hoje, na lavoura cacaueira, ainda não conseguimos esse aproveitamento completo. Extraímos a polpa, às vezes para a produção de mel ou suco, e utilizamos as amêndoas na secagem e fermentação para fazer um bom chocolate. No entanto, o restante, como a sibirra, a casca e as folhas, na maioria das vezes acabam sendo desperdiçados”, questionou Kassandra Renê, reforçando o compromisso de sua empresa com a sustentabilidade e o aproveitamento integral do cacau.
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