O avanço da vacinação contra a covid-19 em Belém abre espaço para que as empresas voltem às suas atividades presenciais, com menos riscos para a saúde de seus colaboradores. Após cerca de um ano e meio longe dos colegas de trabalho, profissionais devem retomar suas rotinas e precisarão se adaptar a ambientes diferentes do período pré-pandemia.
Coordenadora da Escola de Negócios e do Núcleo de Responsabilidade Social da Universidade da Amazônia (Unama), a professora doutora Regina Cleide Teixeira diz que, antes de voltar ao trabalho presencial, é preciso primeiro avaliar a qual setor econômico cada empresa pertence. No caso da educação, por exemplo, em instituições de ensino, uma volta integral agora poderia ser traumática, já que os casos da covid-19 poderiam até crescer. A mesma coisa para bares, restaurantes e casas de evento, cujos proprietários precisam verificar se é possível voltar em segurança, protegendo a saúde dos colaboradores e clientes.
Plano de ação
Um dos passos iniciais para as empresas é preparar um plano de ação para receber novamente o público de forma presencial. “A volta ao ambiente de trabalho deve ser feita respeitando os protocolos estabelecidos pelos estados e municípios. Não adianta fazer o retorno sem respeitar, porque é a maneira de voltar sem muitos transtornos. Dentro disso, precisamos trabalhar muito o processo educacional. O ser humano, por natureza, busca se relacionar, então é preciso tomar cuidado com a aglomeração em momentos de descanso, manter a higiene e o uso de máscara, evitar abraços e contato físico e até restringir a quantidade de pessoas em cada setor. O colaborador vacinado pode achar que está 100% protegido com a vacina, mas não é bem assim, e por isso a importância de fazer essa campanha de conscientização”, orienta.
Além disso, Regina afirma que as empresas devem, neste momento, pensar em um processo de reestruturação organizacional para manter suas atividades no mercado. Para que essa nova fase dê certo, essas organizações precisarão ter um plano de ação estabelecido previamente, envolvendo todos os colaboradores e incentivando a compreensão da nova rotina para que a produtividade não caia. Segundo a especialista, as empresas de grande e médio porte têm mais facilidade com esse tipo de pensamento estratégico, e a preocupação é com as empresas de pequeno porto e as microempresas, que não têm um aporte para grandes planejamentos.
Rotima mantida
Já no caso do funcionário, a professora doutora alerta que os profissionais que mais vão se adaptar a essa transição ao trabalho presencial são aqueles que conseguiram criar uma rotina realmente adequada ao ambiente de trabalho remoto, como se estivesse indo à empresa presencialmente. “Muitas pessoas se preocupavam até com a vestimenta, mesmo estando em casa, e cumpriram suas oito horas diárias de trabalho com concentração e dedicação. O profissional que trabalhou com esse foco está muito mais receptivo ao processo de retorno ao trabalho e tem maior adoração. Quem não buscou trabalhar nessa dinâmica, que misturou o trabalho com a rotina e não cumpriu horário, vai sentir mais dificuldade”, comenta. O primeiro passo para recuperar o tempo perdido, na avaliação de Regina, é entrar na rotina – começar a acordar no horário certo de antes da pandemia, se organizar na rotina familiar e analisar a responsabilidade de cada membro da casa.
Em uma análise entre o período de pré-pandemia e agora, a professora doutora avalia que muitas adaptações vieram para ficar. A primeira delas é o próprio home office, em que muitas empresas deixarão seus funcionários trabalhar de casa. O sistema híbrido, intercalando os dias na empresa e em casa, também fará parte do novo modelo de trabalho. Outra tendência é a flexibilização de horários dos colaboradores, para evitar que muitas pessoas fiquem dentro dos ambientes da empresa ao mesmo tempo.
Uma das empresas que estavam em sistema remoto e agora preparam a volta dos funcionários é a Inteceleri Tecnologia para Educação, no mercado desde 2014, com produtos autorais e mais de 350 mil alunos alcançando essas criações. O sócio-diretor da organização, professor e engenheiro da computação Walter dos Santos Oliveira Júnior, de 46 anos, conta que, mesmo antes da pandemia, a empresa já tinha um sistema híbrido, em que 50% do expediente funcionava de forma presencial e 50% em casa.
Com a decisão de que todos os trabalhadores executassem suas funções remotamente, Walter diz que a empresa não teve muitas dificuldades, pois já faziam isso metade da semana. A maior perda, segundo ele, foi na gestão criativa. “Faz falta a presença, a conexão presencial. Tem toda uma questão da necessidade de se encontrar com o outro, fazer contato. Sem isso, vimos a criatividade da equipe diminuir, porque não tinha mais tanto contato. Por isso decidimos voltar, para que isso não tenha impacto nas nossas criações, já que somos uma empresa de inovação”, explica.
Mesmo com a necessidade de voltar ao ambiente presencial, especialmente porque os funcionários já foram vacinados, Walter acredita que o modelo online também é positivo nesse momento de crise sanitária. Por isso, a gestão quer usar o que há de melhor em cada um desses sistemas e estabelecer um novo modelo de trabalho. Agora, na nova fase, as atividades da empresa serão executadas de maneira híbrida, em que haverá alguns horários de trabalho dentro da empresa e outros fora, em casa. A intenção é fazer rodízio, sem perder a integração da equipe. O grupo também vai fazer um esquema de revezamento, para que os colaboradores não fiquem na empresa no mesmo horário, para não criar aglomerações.
Disciplina
Entre os trabalhadores da empresa, o diretor de criação Dilmar Cunha, de 53 anos, vê a mudança com bons olhos. Ele está na empresa desde a fundação, antes indo ao trabalho presencial e agora exercendo sua função de casa, desde que a pandemia começou. “Foi um tempo de medo, em que pessoas partiram de perto de nós e não tinha como ir. Tive que me adaptar. Como eu já fazia um trabalho em casa, de artes, me ajudou”, lembra.
Para trabalhar em casa durante a pandemia, é preciso ter disciplina, avalia Dilmar. Para ele, muita coisa mudou dentro da rotina. “No início, às vezes acordava tarde por conta daquela pressão da pandemia, ninguém sabia o que ia acontecer, todo mundo neurado com a situação. Antes, saía de casa, ia para o escritório, universidade. Você tinha todo um trajeto do dia e de repente passa um dia em casa, dois dias, uma semana, um mês, dois meses, e começa a seguir outro sistema, outra rotina. Mas tivemos que nos adaptar ao novo sistema de trabalho, que agora vai ficar para todo sempre”.
Em casa, onde moram ele, a esposa e duas filhas, Dilmar ainda conciliou o trabalho com as atividades domésticas, papel que sempre desempenhou junto com a família, e na pandemia não foi diferente. Para ele, essa era uma forma de ocupar o tempo e aos poucos voltar à normalidade.
Fonte: O Liberal