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Possível mudança em vazão de Belo Monte preocupa e exigiria mais térmicas, diz ONS

Foto: Divulgação/Norte Energia
Foto: Divulgação/Norte Energia
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Uma eventual mudança a partir de 2021 na vazão da hidrelétrica de Belo Monte, em avaliação no Ibama por questões ambientais, tem sido motivo de grande preocupação para o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), que gerencia o acionamento de usinas e linhas de transmissão para atendimento à demanda por energia.

O diretor-geral do órgão, Luiz Carlos Ciocchi, disse à Reuters que a medida –que se aprovada liberaria mais água para um trecho do rio Xingu e reduziria a geração da usina– seria inadequada em um momento de chuvas fracas, em que o Brasil já tem recorrido intensamente ao uso de termelétricas.

A Reuters publicou na semana passada que o Ibama estuda a necessidade de alteração na vazão como forma de mitigar impactos ambientais de Belo Monte, o que causou tensão na Norte Energia, empresa que reúne sócios do empreendimento, como a Eletrobras (ELET3; ELET6).

“É uma preocupação bastante grande para o setor elétrico e ele está mobilizado”, disse o diretor-geral do ONS em entrevista nesta segunda-feira.

“Já mostramos ao ministério (de Minas e Energia) a criticidade disso, mas esperamos bom senso, já que é uma usina muito importante para o sistema”, adicionou.

A afirmação confirma informações da Reuters de que a Norte Energia busca envolver o governo na disputa sobre Belo Monte devido ao porte do empreendimento e à pressão estatal para que ele fosse construído. A usina recebeu investimentos de mais de 30 bilhões de reais.

Se a decisão do Ibama for pela mudança, no entanto, o caminho para o ONS será acionar mais térmicas para compensar a perda. O acionamento dessas usinas, mais caras que as hídricas, gera custos repassados para os consumidores, parte por um mecanismo nas contas de luz conhecido como “bandeira tarifária” e parte nos reajustes anuais das distribuidoras.

“O caminho alternativo se não tenho o recurso hidrelétrico será o recurso térmico… não pretendíamos utilizar as termelétricas mais caras (no começo de 2021), mas se isso se concretizar, e no período úmido ainda, vamos ter que fazer isso… não poder contar com a energia de Belo Monte é preocupante”, complementou Ciocchi.

Para ele, seria preciso esgotar todas as alternativas que possam minimizar os impactos da usina sobre populações ribeirinhas no Xingu antes de se falar e pensar em redução da vazão, que afetaria a usina da região Norte bem em sua época de maior aproveitamento.

A perda média calculada com a redução na vazão entre janeiro e julho poderia somar entre 17,4 mil e 21,18 mil megawatts médios, de acordo com os cálculos do ONS. A carga que poderia ser perdida seria suficiente para abastecer o Sudeste/Centro-Oeste por até 15 dias, conforme projeções do operador para o consumo neste mês.

O impacto ainda viria após o país ter precisado acionar térmicas a toda carga para atender à demanda na reta final deste ano, mesmo depois de meses de carga fraca devido à pandemia de coronavírus, uma vez que a recuperação no consumo coincidiu com chuvas fracas na região das hidrelétricas.

“Entendemos a preocupação do Ibama com as populações ali ao longo do rio, da piracema, mas justamente em um ano que se tem nível mais baixo de reservatórios, uma carga retomando já batendo (níveis de) 2019… este ano é complicado e o próximo pode ser também bastante complexo em recursos hídricos”, destacou o diretor do ONS.

A vazão que Belo Monte deve manter no trecho do rio conhecido como Volta Grande do Xingu foi discutida no processo de licenciamento ambiental do projeto. Mas o Ibama disse que passou a estudar possíveis mudanças ao identificar impactos ambientais e sobre populações ribeirinhas maiores que os previstos depois das operações da usina, uma das maiores do mundo.

Térmicas e Oferta

O ONS projeta o último trimestre de 2020 como o pior da história para o período em termos de chuvas nos reservatórios hidrelétricos, o que ainda ocorre em paralelo à retomada da atividade econômica e consequente aumento da carga de energia.

Com essa expectativa, o ONS prevê utilizar o parque térmico no limite até pelo menos o final do mês, mas não há risco de desabastecimento, disse Ciocchi.

“É esperado e possível que continuemos usando mais intensamente as térmicas para armazenar (água nas hidrelétricas) e dar tranquilidade maior para o fim do ano”, afirmou.

“Em vez de usar a água que está chegando agora para lá na frente utilizar termelétricas, vamos usar agora, garantir um nível bom para ter segurança energética lá na frente.”

Ele acrescentou ainda que a partir de janeiro há expectativa de poder desligar as usinas mais caras devido à chegada de chuvas de verão, mantendo acionadas as térmicas com custo menor.

O ONS espera aumento de 3,4% na carga do sistema elétrico interligado (SIN) em 2021, em dado que considera uma elevação do PIB de 3,3%.

Por Reuters

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