O Brasil registrou 89.028 acidentes de trânsito entre os meses de janeiro e março do ano passado, antes do isolamento social provocado pela pandemia da covid-19. Com este resultado, houve alta de 14,3 mil registros em relação ao que foi verificado no mesmo período, em 2019, segundo o Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM), ligado ao Ministério da Saúde. Os acidentes de trânsito, portanto, figuram como a segunda maior causa externa de morte no Brasil, que tem uma média anual de 30 mil óbitos causados por acidentes. Isto significa que cerca de 80 pessoas morrem por dia no Brasil por esta causa.
Para alertar sobre os cuidados no trânsito e evitar mais acidentes, anualmente é realizada a campanha Maio Amarelo, que inclui atividades de conscientização à sociedade no geral. A nível estadual, o Departamento de Trânsito do Estado (Detran) contabilizou 22 mil casos de acidentes no trânsito entre janeiro e setembro do ano passado, último dado disponível. Aqui, o órgão tem organizado, desde o início do mês, uma série de atividades relativas à campanha.
Na programação constam as blitz educativas na capital e nas cidades do interior, além de lives sobre educação e psicologia de trânsito e campanhas de sinalização. O diretor-geral do Detran, Marcelo Guedes, afirma que, por conta da pandemia, não estão sendo feitas muitas ações presenciais, como as palestras, que antes eram realizadas em universidades. O foco tem sido nas lives com outros órgãos de trânsito, campanhas na mídia e a interiorização de ações educativas nas ruas, em que agentes do Departamento conversam diretamente com condutores.
“Às vezes, acaba ficando estigmatizado que atuamos apenas na fiscalização. Esse é o lado ‘ruim’ do trabalho, porque fiscalizar resulta em multas, previstas em lei, e as pessoas não gostam. Mas o trabalho de educação e conscientização é preventivo da fiscalização e precisa ser encarado de frente. Não é novidade que o motorista não pode beber quando dirige, tem que usar cinto e capacete, e muitas outras instruções, mas, às vezes, a pessoa faz isso mesmo sabendo, e uma palavra dessa cai bem como um alerta. Por isso é amarelo, para alertar. Que a gente repense todos esses fatores de risco”, aponta Marcelo.
O diretor também destaca que um dos grandes problemas para quem dirige é o excesso de velocidade, o que causa boa parte dos acidentes de trânsito. Para ele, o controle da velocidade é algo muito importante para reduzir esses números e para que não haja engarrafamentos. “Geralmente, o radar repercute mal, mas o papel desses equipamentos não é só multar, é controlar. Se todo mundo passar pelo local abaixo da velocidade indicada ninguém é multado. O Brasil está na contramão do mundo, com o governo federal desligando radar, e os acidentes cresceram. Já o Pará implanta os radares para ir junto com outros países”.
Além disso, também está sendo realizado um projeto de sinalização em cidades do interior do Estado. Até agora, já foram firmados 10 convênios com 10 municípios paraenses, com o objetivo de trabalhar a sinalização nesses locais. Na avaliação de Marcelo, há muito desrespeito e desinformação, além de falta de infraestrutura nas ruas. “Não podemos imaginar punir alguém se não está demarcado que algo é proibido. Faz parte do Maio Amarelo levar essa infraestrutura para os municípios”, diz.
Ciclistas têm dificuldades no trânsito
Um dos grupos que mais sofrem com a falta de respeito de motoristas nas ruas é o de ciclistas. Mesmo com as ciclofaixas garantidas, nem todas as cidades possuem – e quando possui, não são todas as ruas que têm o espaço exclusivo para quem pedala. Para piorar, em muitos casos os motoristas de carro, caminhão, ônibus e outros veículos grandes não respeitam as ciclofaixas; param em cima na hora de estacionar, desconsiderando o direito de quem anda de bicicleta.
A servidora pública estadual Ádila Varela, de 48 anos, pedala por lazer há 25 anos e faz deslocamentos cotidianos há pelo menos 20. “Comecei a pedalar como hobby e atividade física. Com o tempo, ao perceber que era possível usar a bicicleta com eficiência nas demais atividades, passei a pedalar para ir e vir ao trabalho e para a aula, levar e buscar filhos na escola, ir ao médico, fazer feira e supermercado, visitar amigos e todos os demais compromissos que demandavam deslocamento”, conta.
Hoje, ela participa de três coletivos: ParáCiclo, Bike Anjo e Pedala Mana. Segundo Ádila, a intenção foi somar forças em busca de uma cidade mais inclusiva, justa, respeitosa e acolhedora com os demais modais de deslocamento, para além da escala do automóvel. O coletivo ParáCiclo, por exemplo, tem por objetivo organizar, promover e desenvolver atividades, ações e projetos que fomentem cada vez mais a mobilidade ativa, principalmente a bicicleta, buscando incidir em políticas públicas, por meio de campanhas, divulgação de ações sobre bicicleta, geração de dados por pesquisas, elaboração de projetos de educação e intervenção urbana.
“Não há respeito no trânsito, este que deveria começar por parte do poder público, implantando ações sérias e comprometidas com outros agentes do trânsito além dos carros. O desrespeito se estende aos motoristas e motociclistas, que não exercem a empatia e disputam um espaço (a rua) onde a condição é desigual, considerando a fragilidade do veículo do ciclista, a bicicleta. Até onde há a segregação do espaço, objetivando uma área exclusiva para o ciclista, existe o desrespeito por parte dos pedestres, carros e motos, além da ausência do poder público, quando este não fiscaliza, não conscientiza, não dá manutenção na pavimentação, pintura e elementos de separação. Os acidentes são a consequência do descaso e desrespeito”, pontua a ciclista.
Ádila faz mestrado em arquitetura e urbanismo na Universidade Federal do Pará (UFPA) e decidiu abordar nas pesquisas da dissertação os deslocamentos cotidianos por bicicleta em Belém e Região Metropolitana. Ela acredita que é preciso pensar a cidade para todos. “Após a revolução industrial, com a explosão da vida nas cidades e depois com o advento do automóvel, a cidade priorizou as tomadas de decisões pautada nos veículos automotores. Hoje percebemos que essa escolha é falha. Cada vez mais temos a cidade se espalhando, as periferias mais distantes e populosas, obrigando a população a enfrentar grandes distâncias, aliadas às ineficiências do transporte público. O desenho da cidade vai nesse movimento que tenta absorver mais e mais carros e motos, em detrimento dos demais modais de transporte, como bicicletas, pedestres, patins, skate”.
Confira algumas dicas para melhorar o trânsito:
1. Dar preferência ao pedestre, não invadir a faixa e aguardar a travessia com calma
2. Dar passagem ao outro motorista que está sinalizando a intenção de mudar de faixa
3. Não gritar com os demais usuários do trânsito, nem reagir a xingamentos ou provocações
4. Pedir desculpas quando errar e relevar os erros dos outros motoristas
5. Ter paciência com idosos e condutores sem experiência
6. Não estacionar em fila dupla, nem em frente a garagens
7. Não usar a buzina insistentemente ou sem necessidade
8. Sempre usar a seta para mudar de faixa, para fazer conversões ou para indicar a intenção de estacionar
9. Manter distância segura e respeitar o ciclista
10. Não trafegar pelo acostamento
11. Respeitar as vagas especiais (deficientes, idosos e gestantes)
12. Ser educado ao pedir passagem para outro veículo
13. Respeitar a sinalização e os limites de velocidade
14. Não ultrapassar pela direita
15. Não usar farol alto sem necessidade
16. Dar espaço e aguardar, sem pressionar, o motorista que precisa estacionar
Fonte: Detran de São Paulo