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“Nossa dor não naufragou”: tragédia da embarcação Anna Karoline 3 completa dois anos

Navio naufragou por excesso de carga e outros erros, segundo a Polícia Federal, que indiciou cinco pessoas por homicídio e prevaricação.

Foto: Divulgação
Foto: Divulgação
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Uma tragédia no dia 29 de fevereiro de 2020 mudou para sempre a vida de dezenas de famílias no Amapá e no Pará, que sofrem até hoje com a dor da saudade. O naufrágio da embarcação Anna Karoline 3 deixou 40 pessoas mortas, duas desaparecidos e 51 sobreviventes. Na memória de quem ficou, ainda segue a saudade e a busca por justiça pelos passageiros. 

A empresária Rosa Cardoso conta que entrou em choque quando recebeu a notícia de que o filho, a nora e a neta estavam entre as vítimas mortas do desastre. 

“É um dia de cada vez. Às vezes é mais difícil, vamos só tentando levar. São dois anos… a saudade só aumenta. Às vezes a dor ameniza um pouco, mas nós vamos continuar lutando por justiça. Só nos resta correr atrás dela, porque a nossa dor não naufragou, continuamos sentindo-a cada dia mais forte”,

lamentou a empresária.
Foto: Reprodução Redes Sociais

A neta, Maria Luiza, de 7 anos, foi a 40ª vítima a ser encontrada morta. Os resquícios foram achados mais de um mês depois do naufrágio, durante vistoria depois que a embarcação já havia sido retirada do fundo do rio e já estava atracada em um porto de Santarém, no Oeste do Pará.

A viagem partiu de Santana, a 17 quilômetros de Macapá, em direção a Santarém, no Sudoeste do Pará. A tragédia aconteceu no meio do caminho, entre os rios Amazonas e Jari.

O navio foi ao fundo do rio após uma série de erros. A Polícia Civil indicou 6 pessoas em 2020, e em 2021, após o caso ser encaminhado para a esfera federal, a Polícia Federal (PF) decidiu pelo indiciamento de 5 investigados, por homicídio e ainda por crime de perigo e prevaricação.

A data, que ficou marcada como um dia de tristeza e luto, também é repleta de homenagens aos familiares que partiram de forma trágica. Rosa Cardoso relembra que o ofício do filho, Helton Cardoso Brito, incluía viagens constantes pelas rotas fluviais da região. “Os rios são nossas ruas. A maioria das pessoas vive como o meu filho vivia, dentro de um navio, viajando. O trabalho dele era esse, viver em um lugar que era sua opção, onde não tinha outro meio de transporte a não ser a navegação”, completou.

O casal formado pelo motorista de caminhão Paulo Roberto Bahia e a esposa dele conseguiu sobreviver ao naufrágio. Como muitas pessoas, ele passou mais de uma semana no local para mobilizar o resgate e reconhecer os corpos. “É uma coisa surreal, que ninguém espera o que vai acontecer de uma viagem. No momento todos pensavam que era um roubo de ‘ratos d’água’, mas quando a gente viu o navio tombar, apagou tudo”, comentou Bahia.

Mas, para além das memórias do que eles viram acontecer em sua frente, há a dor do luto. É que familiares da esposa do motorista de caminhão viajavam junto com ele e faleceram na tragédia. No cemitério, em Macapá, próximo à data do naufrágio, as lembranças voltam com força. “É esse o vazio, da gente vir aqui chorar os nossos mortos, nossos entes queridos. É esse o vazio. Num fim de semana você pode ter essas pessoas com você, brincando, vivendo alegrias. No outro, não. Hoje, sinceramente, a gente perdeu uma parte do nosso coração”, citou.

Já se passaram dois anos, e as famílias compartilham o mesmo pensamento: correr atrás de justiça:

“Todos nós sabemos que um dia vamos partir, só que no caso deles foi um crime. A ganância, a irresponsabilidade e a vontade de ganhar cada vez mais, não pensam no ser humano e nem na dor de quem fica. A nossa família se desestruturou. Nós tentamos, mas é muito difícil conseguir levar a vida normal. Esperamos justiça e mais fiscalização”, 

pediu Rosa.
Foto: Reprodução Redes Sociais

Caso na justiça

Seis pessoas são réus desde junho de 2021 na Justiça Federal pelo naufrágio. Até esta segunda-feira (28), não foi realizada nenhuma audiência sobre o caso. Todos eles aguardam em liberdade o progresso da ação.

Confira os principais pontos do que a Polícia Civil apurou na época e elencou no inquérito:

  • o navio estava com 70% de sobrecarga: a embarcação deveria carregar, no máximo, 100 toneladas, mas no dia do naufrágio, transportava cerca de 175 toneladas;
  • disco de plimsoll, que é uma marcação de segurança pintada no casco, que indica o limite de carga do navio, estava adulterado;
  • a maioria da carga estava no convés, o que foi determinante para o naufrágio;
  • foi descartada a hipótese de superlotação;
  • a rota feita pela embarcação não era autorizada pela Capitania do Portos;
  • o despachante do porto emitiu documento com informações falsas sobre a carga;
  • militares da Marinha não passaram mais de 5 minutos fiscalizando o navio;
  • a embarcação fez um abastecimento irregular no meio da rota;
  • as condições climáticas não eram favoráveis para tal manobra;
  • quem conduzia o barco no momento do abastecimento era o tripulante indiciado e não o comandante.

Fonte: PORTAL AMAZÔNIA, COM INFORMAÇÕES DO G1 AMAPÁ

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