A onda de violência que atinge Belém tem causado não apenas insegurança, mas deixado famílias sem entes queridos e muitos filhos sem pais. Em vários casos, as vítimas são policiais militares e a ordem para matá-los sai de dentro da prisão. Para os familiares fica a sensação de impunidade e insegurança. Somente em 2018, um ex-policial e 22 militares foram assassinados, em todo ano de 2017 esse número foi de 29 PMs mortos no Pará.
“Ele chegou do trabalho e estava fazendo um serviço doméstico em um terreno perto de casa quando chegou alguém. Ele estava de cócoras, essa pessoa pediu que ele virasse de costas e deu o primeiro tiro nas costas. Colocou a arma no pescoço dele e deu o segundo tiro. Esse pegou na femoral. O terceiro tiro foi no ombro e o quarto no peito, mas o que matou mesmo foi o do pescoço. Ele teve hemorragia interna”, lembra o parente de um policial militar assassinado em Belém este ano.
Em entrevista ao G1, o parente pediu para não ser identificado. Para a segurança dos familiares, algumas informações como local e data do crime foram suprimidas do texto. A reportagem também entrou em contato com a Polícia Militar e aguarda posicionamento sobre as denúncias que serão expostas abaixo.
Segundo a família, o PM era casado há 33 anos e nunca havia recebido ameaças de morte. Mas, alguns dias antes do crime, ele teria se envolvido em uma discussão com o homem que teria mandado matá-lo.
“O cara que mandou matar fez xixi na porta do terreno. Ele chamou atenção do cara, disse que respeitava o comércio de drogas, que sempre viu drogas jogadas no terreno, mas que não urinasse, pois ali tinham famílias. Nesse dia, o homem mandou ele pra longe e falou muitos palavrões”, relata o parente, que acredita ter sido essa uma das motivações do crime.
O valor da vida
O suspeito de mandar matar o policial era vizinho da vítima, o executor teria sido contratado por ele e a ordem para executar o crime partido de dentro da prisão. “A ordem de matar saiu de dentro da cadeia. Mandaram matar ele em troca de R$ 10 mil. O cara que recebeu a ordem aqui fora conhecia o policial e ele designou uma terceira pessoa para cometer o crime. Que foi essa pessoa que chegou ao encontro dele e o matou”, conta o parente da vítima.
O crime chocou o bairro, muitas pessoas viram a execução. No velório, todos comentavam sobre quem tinha mandado e quem tinha matado. “Essa pessoa [vizinho mandante] foi presa e, acredite, não foi pelo assassinato. Ela foi presa por tráfico de drogas”. O bandido que fez os disparos não foi encontrado.
“Eles chegaram a fugir no dia seguinte após o crime. Eu liguei pra Polícia e avisei que ele ia fugir. Ouvi que nada podiam fazer. Até que o mandante voltou pra Belém”.
Ameaças
Além de toda dor e trauma da perda, a família do policial conta que sofre com o medo e a falta de apoio da corporação por quem o militar serviu por quase 30 anos. “A gente já sofreu várias ameaças”, desabafa.
Após uma entrevista concedida à imprensa local, um suspeito foi no mesmo carro que ajudou os assassinos a fugirem até a porta da casa da família. “Eu só consegui sair de casa nesse dia com a escolta da polícia”, lamenta.
Segundo os familiares, a viúva do PM está sobrevivendo com a solidariedade de parentes e amigos.
“Fica a situação de revolta e nenhuma esperança de que a Justiça será feita. Nos sentimos desamparados. Os familiares do cara que está preso disse que se ele saísse da cadeia e fosse morto, eles iam matar um de nós”.