Subir ao lugar mais alto do pódio e ergue a medalha de ouro deve ser a melhor sensação para a um atleta. Agora, junte o fato de que, além de ser a medalha mais cobiçada, você acaba de ser consagrado campeão internacional. Pode comemorar, Enthonny, porque isso é realidade.
Enthonny Enzo de Souza Conceição, 16 anos, é o mais novo vencedor do mundial de Jiu-jitsu no Gran Slam Goiânia International Championship. Nas duas últimas lutas teve desempenho irretocável na categoria peso leve, para atletas com até 60 quilos.
O garoto tem apenas um metro e meio de altura, era o mais ‘baixinho’ da competição, como ele mesmo detalha, mas nem a altura e nem o peso foram obstáculos para se tornar gigante no campeonato realizado no fim de março, em Goiânia, capital de Goiás.
Enthonny é natural de Porto de Moz, município localizado às margens do Rio Xingu, no Pará. Mas ele também se considera filho de Altamira, outra cidade paraense, onde morou desde que era criança. Há dois anos, o endereço do adolescente é Bom Jesus do Araguaia, no Mato Grosso. Lá, mora com os 7 irmãos, a mãe e o padrasto, Berg, um dos principais incentivadores do agora campeão mundial.
Para conseguir a medalha no Slam Goiânia International Championship, o garoto desceu um pouco mais o mapa até Goiás. Quem disse que foi apenas pegar o ônibus e seguir viagem? Como a maioria dos atletas brasileiros, mesmo os hoje mundialmente conhecidos, Enthonny ralou pra juntar dinheiro das passagens.
Pelas ruas de Bom Jesus, o atleta caminhou entre carros e pedestres para pedir qualquer ajuda que fosse de bom coração. Foi assim que conseguiu parte do dinheiro. Enthonny ainda não acredita na vitória. “Não caiu a ficha. Mesmo sabendo que agora sou campeão mundial, é difícil acreditar no que aconteceu”, comenta.
“De todos os títulos que já ganhei, o internacional foi o mais impactante porque as pessoas reconheceram meu potencial. Foi uma coisa que eu construí, corri atrás e que eu consegui”, emenda o medalha de ouro, que também ficou surpreso com o clima de fama que pintou depois do título.
“Nunca pensei que meu nome ia tá em redes de notícias, que um dia um jornal ia entrar em contato comigo para marcar uma matéria”. Enthonny Enzo, paraense, ouro em mundial de Jiu-jitsu,

Família, Jiu-jitsu e conquistas
Enthonny Enzo é o retrato do menino do interior do Brasil que quer vencer, mesmo que o caminho esteja cheio de espinhos e a vida não seja nada fácil. Nascido em Porto de Moz, o garoto conviveu pouco com o pai biológico. Foi criado desde pequeno pela mãe e pelo padrasto, a quem chama carinhosamente de tio.
Vivendo em casa simples, com recursos escassos, o pouco que a mãe e o padrasto conseguiam era fruto de trabalho exaustivo e ‘bicos’. Berg, o tio-padrasto, colocava comida em casa com trabalhos avulsos, como segurança ou auxiliar em algum serviço braçal. Lena, a mãe, também é virada. Já vendeu tacacá, churrasquinho e até artesanato.
A mãe, claro, guarda com orgulho a conquita do filho e garante que “Enthonny sempre foi um menino focado, centrado nas coisas, tem um aprendizado bom. Quando entrou pro Jiu-jitsu, foi um dos que se destacaram mais”, comemora Lena, que torce por novas conquistas.
O exemplo dentro de casa foi o norte para Enthonny, terceiro de 8 filhos e enteados que o casal cria junto. Com o alicerce, o menino cresceu cercado de exemplos de superação e partilha. Roupas dos mais velhos eram reutilizadas por ele que, enquanto crescia, repassava para os menores. Comida nunca foi problema, mesmo que o que consideramos fartura também não fosse a realidade para uma família pobre e com 8 filhos para alimentar.
Como já citado, Enthonny é fascinado por esportes desde muito pequeno e foi dentro de casa que encontrou estímulo para se tornar atleta, primeiro amador, depois profissional, e, agora, medalhista internacional. Berg, que também pratica Jiu-jitsu, carregava o enteado para academias e arenas onde Enthonny tinha contato direto com praticantes e podia ensaiar alguns movimentos para iniciantes.

O garoto é tão bom no esporte que a primeira conquista veio quando ainda tinha apenas 10 anos. Enthonny, sempre o menorzinho da turma, encarou etapas do Campeonato Altamirense de Jiu-jitsu e conquistou, adivinha, medalha de ouro, surpreendendo a todos, especialmente os veteranos. Para Enthonny, que hoje coleciona 15 medalhas, o Jiu-jitsu não é apenas um esporte, mas ferramenta social.
“No esporte foi onde me reconstruí como jovem, minha segunda família até hoje. É onde você alivia seus problemas no tatame, tem amigos e mestres que dão conselho pra gente prosseguir, pra gente continuar. Sempre lutei e consegui”. Enthonny Enzo, paraense, ouro em mundial de Jiu-jitsu.
Com uma medalha de mundial no peito, o atleta se prepara para novas competições e sonha conquistar mais um título mundial e, dessa vez, em terras gringas.
Políticas públicas de inclusão
Em Bom Jesus do Araguaia (MT), onde mora atualmente, Enthonny Enzo é um dos adolescentes assistidos pelo Centro de Referência de Assistência Social (CRAS). No 2º ano do Ensino Médio, o atleta estuda de manhã e dedica a tarde às atividades oferecidas pelo projeto da prefeitura local. Tendo preferência, sempre, pelos esportes, Enthonny desenvolve habilidades que, sem políticas públicas, não teria acesso.
O medalhista mundial é cria de projetos sociais. Ainda quando morava em Altamira, participou de um oferecido pela Prefeitura em parceria com a Norte Energia (empresa responsável pela Usina Hidrelétrica Belo Monte), no bairro Laranjeiras.

Incentivar a inclusão social de meninos e meninas deveria ser obrigação de toda administração pública, mas nem todos os municípios brasileiros, especialmente os localizados em regiões consideradas periféricas, investem em programas afins, obrigando milhões de Enthonnys a abandonarem os estudos e os forçando a enfrentarem a vida adulta quando são apenas crianças carregando o sonho de um dia também subirem ao pódio.
Interessante a história do nosso atleta campeão mundial. Concorda? Que tal ajudar o Enthonny a se preparar e custear as próximas competições? Segue contato: (66) 98122-0605.
Por: Rômulo D’Castro