Pouco mais de dois anos depois, começa um dos capítulos finais do crime que ficou conhecido como a “chacina de Pioz”. François Patrick Nogueira Gouveia, aos 21 anos, assassino confesso dos seus tios e primos brasileiros, na cidade de Pioz, na Espanha, começa a ser julgado pelo tribunal do júri espanhol a partir da quarta-feira (24). A acusação acredita na pena máxima permitida no país, de prisão permanente revisável, enquanto a defesa do réu afirma que o crime foi motivado por problemas psicológicos.
A Justiça espanhola marcou o júri para os dias 24, 25, 26, 29, 30 e 31 de outubro. As sessões do julgamento acontecem pela manhã e à tarde e, segundo o tio de Patrick, Walfran Campos, vão ser totalmente digitais, sem uso de papel.
Patrick Nogueira está preso na Espanha desde outubro de 2016, quando se entregou às autoridades espanholas e confessou ter matado os tios e dois primos, de 1 e 4 anos de idade, em um chalé na pequena cidade de Pioz em agosto de 2016. Desde então, o acusado e réu confesso segue aguardando pelo julgamento. Em março deste ano, a promotoria de Guadalajara pediu à Justiça a pena de prisão permanente revisável ao assassino confesso, uma condenação perpétua que pode ser revista a cada 25 anos.
Para Walfran Campos, a expectativa é de que o sobrinho seja condenado à pena máxima, tendo em vista a gravidade e a repercussão do crime. “Nunca pensei em passar por isso, ver minha família passando por isso. Ninguém sabe como surgiu uma pessoa que cometeu uma barbaridade dessas com nossa família. Todos estão super abatidos. Estarei pela primeira vez com Patrick frente a frente, uma pessoa que tanto amei e cuidei, que teve capacidade de matar meu irmão”, explicou.
Walfran Campos relembra que a morte do seu irmão, cunhada e dois sobrinhos fragilizou a família inteira, pelo fato de um parente querido, como era Patrick para todos, ter a capacidade de matar os próprios parentes a sangue frio e esquartejá-los. Ele conta que sua mãe, avó do assassino confesso e mãe do pai da família assassinada, não superou o caso mesmo dois anos depois.
“Às vezes fico imaginando quando estou no trânsito e começo a chorar. Para mim foi muito mais desgastante, porque eu tive que ver fotos dos corpos, participar da reconstituição, aguentar pressão da imprensa, afirmando que meu irmão era traficante, estar à frente da cremação, para mim, foi sempre mais dolorido”, lamentou.
Chacina de Pioz
Janaína Américo, Marcos Campos Nogueira e os filhos do casal, de 1 e 4 anos, foram encontrados mortos e esquartejados em um chalé na cidade espanhola de Pioz em 18 de setembro de 2016, cerca de um mês após o crime.
Patrick Gouveia, sobrinho de Marcos, se entregou à polícia da Espanha e confessou o crime em 19 de outubro. Ele segue preso até esta quarta-feira no complexo penitenciário de Estremera, na Espanha.
As urnas com as cinzas da família chegaram em João Pessoa em 10 de janeiro, quatro meses depois, quando as vítimas foram enterradas. Mais de dois anos depois do crime, a família das vítimas e do assassino confesso ainda sofre com o episódio.
Problemas psicológicos
Notícias da imprensa espanhola e informações obtidas pelo advogado de acusação, contratado por Walfran Campos, indicam que a estratégia da defesa de Patrick é alegar que ele estava sob graves problemas psicológicos no dia do crime, e que, portanto, não estaria dentro de suas faculdades mentais.
Para traçar essa linha de argumentação, a defesa do assassino confesso de Pioz se apega a um laudo emitido por médicos do governo espanhol que indicaram que Patrick Nogueira tem traços comportamentais de psicopatia. No lado oposto, o Ministério Público e o advogado de acusação pedem a pena máxima ao assassino confesso.
O júri popular é formado por nove jurados que devem decidir se acatam o pedido de incapacidade de mental da defesa ou seguem o entendimento da acusação de faculdade mental.
Prisão preventiva prorrogada
Em julho de 2018, Patrick Nogueira teve sua prisão preventiva prorrogada pelo prazo máximo de quatro anos, até 2020. A decisão foi tomada pela juíza Maria Elena Mayor Rodrigo, da província de Guadalajara, após pedido feito pela procuradoria da província e pelo advogado de acusação do tio de Patrick e irmão do pai da família assassinado, Walfran Campos.
Cúmplice em liberdade
A participação de Marvin Henriques Correia, amigo de Patrick, foi comprovada em conversas de Whatsapp entre os dois, conforme levantamento feito pela Polícia Civil da Paraíba com base em provas colhidas pela Polícia Federal. O jovem acusado de dar dicas a Patrick do que fazer durante a chacina foi preso em João Pessoa, se tornou réu como partícipe do homicído de Marcos Nogueira, mas está em liberdade desde que sua prisão preventiva foi revogada pela juíza Francilucy Rejane de Souza. Ele segue à espera de julgamento.
Walfran Campos reclama nos mecanismos que acabam protelando uma definição jurídica a respeito da participação de Marvin Henriques no caso da morte da família paraibana na Espanha. “As autoridades espanholas têm em Marvin mais um culpado, tanto quanto Patrick. Se ele tivesse sido extraditado para a Espanha, já estaria preso. Estamos muito longe de sermos um país sério”, comentou.
Ainda de acordo com o tio do assassino confesso, o processo que tramita no Tribunal de Justiça da Paraíba está parado, impedido que o desdobramento do caso no estado tenha o mesmo destino do episódio na Espanha.
“Será que vão esperar ele participar de um outro crime para ir preso? Nossas famílias estão revoltadas, o processo está parado, alguém está segurando ao máximo esse processo. Esse material já deveria ser avaliado. Estão tentando livrar Marvin. Usam o argumento de doença mental, querem retirá-lo do júri popular. Eu, sinceramente, me sinto envergonhado”, reclamou Walfran Campos.