Segundo a Sespa, há 949 receptores cadastrados na fila para transplante de córnea e outros 395 aptos para transplante de rins. Um dado animador é que caiu a recusa familiar para doação de órgãos no Pará
Em 2019 foram realizados no Pará 314 transplantes, dos quais 251 de córnea, 5 de esclera e 58 renais, com aumento de 77% na doação de córneas captadas no próprio Estado se comparado a 2018, segundo a Secretaria de Estado de Saúde Pública (Sespa). E um dado animador: houve redução no percentual de recusa familiar para doação no Estado de 2018 (66%) para 2019 (58%).
Muitas vezes, o transplante pode ser única esperança de vida ou a oportunidade de um recomeço para pessoas que precisam de doação. Até setembro do ano passado o Brasil tinha 45 mil pessoas na fila de espera por um transplante de órgão. Eram milhares de brasileiros esperando por um rim, coração, fígado ou córneas.
Hoje, no Pará, são realizados apenas transplantes de rim e de tecido ocular (córnea e esclera). De acordo com a Sespa, há 949 receptores cadastrados na fila para transplante de córnea e outros 395 aptos para transplante de rins, chegando a 1.344 pessoas nessas duas situações .
Essa maior conscientização da população paraense em relação ao ato de doar órgãos é uma esperança a mais para milhares de pessoas como a assistente social Tânia Souza Camelo, 36 anos. Ela faz sessões de hemodiálise 3 vezes por semana, desde março de 2011, em razão de problemas decorrentes da hipertensão.
“A vida do paciente renal é bastante difícil e complicada, pois não podemos faltar ao tratamento, para garantir melhor qualidade de vida. Na máquina passamos algumas vezes por uma série de situações como hipotensão e queda de glicose no qual nos deixam bem debilitados”, afirma.
A assistente está há 6 meses na fila de transplante à espera de um rim. “Para renais crônicos como eu o transplante é de suma importância, a única saída para podermos sair da dependência da máquina. Seria muito bom que a sociedade como um todo aumentasse a conscientização em relação a doação de órgãos. Infelizmente, por desinformação, muitas pessoas ainda são contra esse gesto de amor ao próximo”.
A doméstica Audélia Primo Melo, 38 anos, faz hemodiálise há 5 anos. Ela nasceu com os dois rins atrofiados, o que levou ao problema renal. “É uma situação muito difícil porque essa doença incapacita a gente para o trabalho. Sou uma mulher nova e tive que deixar de trabalhar”, diz ela, que hoje recebe um salário mínimo de auxílio doença do governo.
A hemodiálise é feita 3 vezes por semana, pelo Sistema Único de Saúde (SUS), no Hospital Divina Providência, em Marituba. São quatro horas ligada à máquina a cada sessão. “Após as sessões fico muito fraca, tonta, com dor de cabeça… Minhas pernas ficam bambas e chego muitas vezes a vomitar. A resistência cai para zero. Me sinto muito mal e não consigo fazer mais nada”, relata.
Audélia está há 3 anos na fila de transplante. Os exames estão sempre atualizados à espera da boa notícia. “Já fui chamada duas vezes para fazer a cirurgia, mas os rins que apareceram não eram compatíveis e voltei para a fila de espera, infelizmente. Mas mantenho a esperança. Sei que um dia vou me livrar desse problema. Só quem é paciente renal sabe o que é a nossa vida”, lamenta.
RENAIS
Belina Soares, diretora e fundadora da Associação dos Renais Crônicos e Transplantados do Pará avalia que a situação dos pacientes renais crônicos no Estado é crítica em algumas regiões, como no Oeste do Pará, Sudeste, Marajó, onde ainda não há esse tratamento, e o paciente tem que vir para Belém.
“A rejeição em doar ainda é alta no Pará por vários motivos, sendo um processo longo e complexo. Nossa maior resistência está nos profissionais dentro da UTI. Somente com muita capacitação e dedicação que poderemos reverter este quadro. Estados como Santa Catarina fizeram isso”, diz.
Por outro lado, ela avalia que a hemodiálise no Estado teve um grande progresso. “Neste momento na Região Metropolitana estamos sem fila de espera para diálise. O Hospital Regional Abelardo Santos já começou o serviço de Terapia Renal Substituta (TRS), Marabá também, e previsão de novos serviços este ano. O ideal é que nos transplantes fosse assim. Seria interessante abrir um Centro Transplantador aqui no Estado, credenciados e habilitados pelo Ministério da Saúde”, aconselha.
PARA SER UM DOADOR
Para ser doador de órgãos, basta avisar a família. A tendência é respeitar a vontade do doador manifestada em vida. A Sespa realiza campanhas para estimular a doação de órgãos. Além disso, a Central Estadual de Transplantes também tem atuado na capacitação de profissionais da rede de doação de órgãos, padronizando as rotinas e protocolos, além de promover o diagnóstico de morte encefálica, indispensável para possibilitar a doação.
DADOS NO BRASIL
Dados do Ministério da Saúde mostram aumento dos consentimentos familiares para a doação de órgãos. O aumento na taxa de autorização, chegou em 2019 a uma média de 60%, o que mostra uma sociedade mais consciente do seu papel e da importância de seu gesto.
Porém, ainda 40% das famílias dos possíveis doadores ainda dizem ‘não’ à doação. Por isso, é importante que os parentes e pessoas próximas saibam da vontade do seu familiar em ser doador.
O Brasil possui o maior programa público de transplante de órgãos, tecidos e células do mundo, que é garantido a toda a população por meio do Sistema Único de Saúde (SUS), responsável pelo financiamento de cerca de 95% dos transplantes do país.
O Sistema Nacional de Transplantes é formado pelas 27 Centrais Estaduais de Transplantes; 13 Câmaras Técnicas Nacionais; 619 estabelecimentos; 1.157 equipes de transplantes; 574 Comissões Intra-hospitalares de Doações e Transplantes; e 72 Organizações de Procura de Órgãos (OPOs).
O Ministério da Saúde repassa recursos para estados e municípios apoiando na qualificação dos profissionais de saúde envolvidos nos processos de doação e transplante.
Fonte: DOL