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Fruta recordista em Vitamina C é usada em projeto inovador para a restauração da floresta amazônica

Apesar de ser pouco conhecido no Brasil, o camu-camu é considerado o “Rei da Vitamina C”, sendo 20 vezes mais rico do que a acerola

Foto :Divulgação/Norte Energia
Foto :Divulgação/Norte Energia
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Uma fruta da região amazônica riquíssima em Vitamina C vem sendo usada em um projeto de restauração de florestas no sudoeste do Pará. Trata-se do camu-camu (Myrciaria dubia), um alimento de casca roxinha, opaca e grossa. Para fins de comparação, de acordo com a Embrapa, o camu-camu possui 20 vezes mais vitamina C do que a acerola. Com teor de vitamina C de 2,7g em 100g de polpa, em média, equivale a quase 40 vezes ao da polpa de laranja ou 60 vezes ao suco de limão. O projeto tem como objetivo possibilitar alternativas para o enriquecimento nutricional da fauna e também o cultivo comercial voltado à população local.

Foto :Divulgação/Norte Energia

Apesar do alto valor nutritivo, o camu-camu ainda é pouco conhecido pelos brasileiros. Esse cenário pode mudar, no entanto, já que mudas do camucamuzeiro vêm contribuindo para ajudar a restaurar áreas da região amazônica do Médio Xingu. Através de um projeto de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) da Norte Energia, concessionária da Usina Hidrelétrica Belo Monte, em parceria com a Universidade Federal do Pará (UFPA), pesquisadores estudaram técnicas para melhorar a forma de coletar sementes, produzir mudas e realizar os plantios de diversas espécies, incluindo o camu-camu.

Cerca de 45 mil mudas, de aproximadamente 35 espécies nativas da região amazônica foram manejadas durante a execução do estudo e replantadas, restaurando até o momento 80 hectares – o equivalente a 112 campos de futebol.  Uma parte das mudas foi doada para a UFPA, para as comunidades locais envolvidas no projeto e para Secretaria de Meio Ambiente de Vitória do Xingu (PA) para ações de plantio na região, fomentando assim a produção sustentável. Já foram investidos mais de R$ 7 milhões no projeto, que vai até o final deste ano.

“Essa pesquisa foi uma troca de conhecimento muito importante, principalmente para mim, que venho de outra região, e para mostrar aos moradores que podem explorar melhor, de forma sustentável, tudo que temos aqui de biodiversidade”, disse o pesquisador Arthur Pace Stehling. Além de Arthur, outros 15 pesquisadores fazem parte da iniciativa de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) da Companhia.

O trabalho alia o conhecimento dos ribeirinhos em sua execução e acontece em 12 regiões ao longo da Volta Grande do Xingu.

“Com o envolvimento de pessoas das comunidades, foi possível mapear árvores adultas utilizadas como matrizes, desenvolver uma rede de coletores de sementes, e produzir mudas que foram utilizadas para estudar diferentes métodos de restauração. Além disso, a interação dos pesquisadores com as comunidades garantiu cenário de diálogos sobe a importância de áreas de floresta para a alimentação dos animais, bem como a possibilidade de atividade econômica sustentável”, avaliou Roberto Silva, Gerente de Meios Físico e Biótico da Norte Energia.

Iniciado em abril de 2021, o projeto já proporcionou a coleta de aproximadamente uma tonelada de sementes, de diversas espécies, pelos moradores da região.

“Em qualquer parte do mundo a pesquisa é um norteador de conhecimento, mas também de tecnologia. Quando unimos projetos de ciência e tecnologia e podemos contribuir para a capacitação de moradores da comunidade local, além resultados técnicos, também conseguimos gerar o que a comunidade precisa a curto prazo. O projeto permitiu formar capital humano e atender as necessidades das comunidades”, concluiu o professor Emil José Hernandez, doutor e coordenador do curso de Biologia da UFPA.

Morador da comunidade Kaituká, Marlison Lima da Silva atuou como auxiliar técnico ao longo do estudo, recebendo apoio financeiro e capacitação para trabalhar na coleta das sementes e no replantio.

“Meu entendimento era o de um ribeirinho. Hoje, eu consigo enxergar de forma diferente com o aprendizado que recebi. Estamos entrando em um ciclo de preservação, porque o mundo está pedindo e a gente tem que se habituar a isso para deixarmos um legado para nossos filhos e netos”, resumiu.

Sobre o camu-camu

A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) aponta que o camu-camu possui 20 vezes mais vitamina C do que a acerola. Com teor de vitamina C de 2,7g em 100g de polpa, em média, o que equivale a quase 40 vezes ao da polpa de laranja ou 60 vezes ao suco de limão, podendo chegar a 3,0g por 100g de polpa integral, apesar de seus inúmeros benefícios à saúde e de ser um fruto com grande potencial econômico, ainda não é amplamente consumido no Brasil.

O camu-camu tem despertado o interesse de diversos setores industriais como fármaco, cosmético, conservante natural e alimentício. Da casca extrai-se corante natural. Além disso, o tipo de vitamina C encontrado no camu-camu não é destruído pelo calor.  A produção de polpa se destina à exportação para países como a França e Japão, onde é utilizada na elaboração de bebidas alimentícias, preparo de sorvetes, geleia, doces, licores, novo sabor para refrigerantes, bem como na confecção de cápsulas e pastilhas de vitamina C.

O que é o P&D

Desenvolvido pela Norte Energia, empresa concessionária da Usina Hidrelétrica Belo Monte, regulado pela Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL), o Projeto de Pesquisa e Desenvolvimento PD-07427-0221/2021 foi intitulado de “Metodologias inovadoras de Restauração Ecológica com ênfase no enriquecimento nutricional para a fauna do Trecho de Vazão Reduzida da UHE Belo Monte: integrando modelos bioeconômicos à conservação dos ecossistemas amazônicos”.

Executado pela BIOCEV Serviços de Meio Ambiente e Fundação do Instituto de Biociências (FUNDIBIO), em parceria com a Universidade Federal do Pará (UFPA), o projeto obteve excelentes resultados.

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