Moradias da coordenadora da Associação das Mulheres Munduruku Wakoborũn e de seus familiares foram queimadas por grupo pró-garimpo
Uma associação de mulheres indígenas contrárias à mineração ilegal e o Ministério Público Federal (MPF) lançaram nesta sexta-feira (28) campanha de arrecadação de recursos para a reconstrução das casas da família da coordenadora da associação, localizadas em Jacareacanga, no sudoeste do Pará.
As moradias foram incendiadas na última quarta-feira por grupo favorável ao garimpo em terras indígenas, como retaliação contra operação de forças federais para coibir esse crime em território Munduruku.
Os incendiários destruíram completamente uma das casas da família e parcialmente outra. Nas moradias viviam 19 pessoas, na aldeia Fazenda Tapajós, na Terra Indígena (TI) Munduruku.
As doações em dinheiro podem ser transferidas para o pix de chave tipo e-mail para [email protected] , em nome de Lays Branco Uchôa (por segurança, a Associação das Mulheres Munduruku Wakoborũn prefere que as doações sejam enviadas a uma apoiadora da associação e não diretamente para a conta-corrente da coordenadora da entidade, para evitar a divulgação de dados pessoais, como o CPF).
Ainda na quinta-feira o MPF enviou uma série de ofícios para autoridades federais e estaduais requisitando reforço na segurança pública na região de Jacareacanga e proteção para lideranças indígenas ameaçadas por garimpeiros.
Os ataques ocorreram no momento em que equipes de forças federais estavam na região em operação contra o garimpo. A própria Polícia Federal (PF) chegou a ser atacada, com tentativa de invasão na base de operações. Mesmo com a escalada de violência, as forças federais e estaduais se retiraram da região na quinta-feira.
Ataques em série – A queima das residências é apenas o mais recente de uma série de ataques que as indígenas vêm sofrendo este ano, quando a invasão garimpeira ao território Munduruku – que já vinha crescendo desde 2018 – foi intensificada.
Em março, na zona urbana de Jacareacanga, o grupo pró-garimpo depredou o prédio da associação Wakoborũn, destruindo documentos, móveis e equipamentos, além de produtos indígenas à venda no local.
Na época, o MPF e a associação de mulheres também divulgaram campanha para conseguir fundos para a reforma do prédio, reposição dos itens destruídos, e para a ampliação da mobilização e da luta contra o avanço da mineração ilegal. A campanha segue recebendo doações (detalhes em www.mpf.mp.br/pa/campanha-wakoborun).
Em abril, novamente na zona urbana de Jacareacanga, por duas vezes o grupo pró-garimpo roubou itens pertencentes à associação, como combustíveis e tanque de motor de barco.
Além desses ataques diretos às mulheres indígenas e de ameças frequentes contra elas, desde março o grupo favorável ao garimpo ilegal também violentou fisicamente homens indígenas contrários à mineração ilegal, e impediu trânsito de viatura de fiscalização ambiental.
O MPF abriu investigações sobre essa série de ataques dos garimpeiros, além de atuar em ações judiciais que desde 2018 cobram o combate contínuo e efetivo à mineração ilegal nas TIs Munduruku e Sai Cinza, em processos ou investigações sobre os grupos criminosos, e em apurações e investigações para verificar suspeitas de vazamento de informações sobre operação, sobre transporte de garimpeiros em aviões da Força Aérea Brasileira (FAB), sobre a ocorrência de improbidade administrativa por parte de autoridades responsáveis por evitar a invasão garimpeira, e sobre a ocorrência de dano coletivo aos indígenas.
Enfrentamento às forças federais – Os ataques levaram o ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal (STF), a decretar a adoção de medidas contra o avanço dos criminosos no território Munduruku. A ordem atendeu um pedido da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) para proteção dos povos Munduruku e Yanomami contra os ataques cada vez mais violentos de garimpeiros ilegais.
Batizada de Mundurukânia, a operação para cumprimento da ordem do STF foi deflagrada na terça-feira desta semana pela PF, Polícia Rodoviária Federal (PRF), Instituto Nacional do Meio Ambiente (Ibama) e Força Nacional.
Na quarta-feira, o grupo pró-garimpo atacou as forças federais na tentativa de depredar equipamentos que seriam utilizados na retirada dos garimpeiros. Houve confronto nas ruas de Jacareacanga.
Segundo a PF, os garimpeiros tentaram invadir a base montada pela corporação e incendiar carros, em uma tentativa de impedir a operação contra as dezenas de garimpos ilegais que invadiram o território Munduruku nos últimos anos.
Os garimpeiros são investigados por associação criminosa, exploração ilegal de matéria-prima pertencente à União e delito contra o meio ambiente.
Ascom – MPF/PA