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Pesquisa sobre biodiversidade indica ameaça à savana amazônica em Alter do Chão, no Pará

Estudos na área já têm mais de 20 anos e revelam os impactos de queimadas à fauna e flora, e importância de incorporar moradores no planejamento de uso da terra da região.

Foto: Rodrigo Fadini/Arquivo pessoal
Foto: Rodrigo Fadini/Arquivo pessoal
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Um estudo que começou a ser feito há mais de 20 anos por pesquisadores do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) tem monitorado a biodiversidade da savana amazônica próximo a vila de Alter do Chão, em Santarém, no oeste do Pará.

A pesquisa piloto realizada para integrar os estudos ecológicos, a partir do final da década de 1990 se tornou o embrião para a criação do Sistema RAPELD (protocolo de pesquisas para estudos rápidos (RAP) em pesquisas ecológicas de longa duração (PELD)), que é utilizado no sítio de pesquisa ecológica de longa duração do Oeste do Pará (Pop).

Ao longo dos anos, os pesquisadores da Universidade Federal do Oeste do Pará (Ufopa) e do Inpa instalaram e mantiveram plots de monitoramento de pesquisa permanentes em uma mancha de savana amazônica localizada em Alter do Chão. Os “plots” são parcelas permanentes onde os pesquisadores retornam periodicamente para medir a biodiversidade e o que possivelmente a afeta.

As savanas amazônicas são formadas por uma vegetação de porte baixo, com árvores tortuosas e a maior parte de gramíneas, semelhantes às savanas presentes no cerrado brasileiro, mas com menor diversidade de espécies.

Atualmente, as savanas amazônicas constituem um ecossistema ameaçado, cobrindo apenas 6% do bioma Amazônia.

Segundo o estudo realizado na região, ao longo desses anos o foco dessas pesquisas foram três questões ecológicas de longo prazo, que remontam à época dos estudos originais: Quais são as forças ecológicas que mantém a tensão entre as savanas e florestas? Quais são as respostas de curto, médio e longo prazo da fauna ao fogo e outras variáveis ecológicas localmente e globalmente importantes? Quais são as influências naturais da fragmentação florestal natural e das características da paisagem sobre a flora e a fauna?

Loteamento que avançou sobre uma savana próxima à Alter do Chão, no PA — Foto: Rodrigo Fadini/Arquivo pessoal

Loteamento que avançou sobre uma savana próxima à Alter do Chão, no PA — Foto: Rodrigo Fadini/Arquivo pessoal

Ao longo de 20 anos, a pesquisa já soma a publicação de 70 artigos científicos e 31 dissertações de mestrado e teses de doutorado.

“Este estudo é importante porque sintetiza os esforços de pesquisa conduzidos por diversos grupos de pesquisadores. Pesquisa que resultou no avanço do conhecimento científico sobre a biodiversidade das savanas, na formação de jovens cientistas e no auxílio à criação de políticas públicas que beneficiam os moradores da região de Alter do Chão”, destaca o pesquisador da Ufopa, Rodrigo Fadini, que integra o PELD Popa.

Resultados

O estudo acaba de ganhar novo destaque com a publicação de mais um trabalho: o artigo Long-term standardized ecological research in na Amazonian savanna: a laboratory under threat (Pesquisa ecológica de longa duração em uma savana amazônica: um laboratório ameaçado, em tradução livre para o Português), publicado em dezembro de 2021 nos Anais da Academia Brasileira de Ciências, que sintetiza algumas respostas às três principais questões elaboradas pelos pesquisadores anos atrás.

De acordo com as conclusões publicadas, o fogo e o solo são importantes para a manutenção da tensão entre a floresta e a savana.

A textura do solo mais argilosa e a maior concentração de potássio nos solos das florestas do que das savanas beneficia a formação e manutenção de uma estrutura mais arbórea. O solo interage com o fogo, que só adentra às florestas em anos de estiagem prolongada.

O estudo aponta que o fogo parece não afetar populações de roedores e de lagartos que habitam as savanas da região. Esses animais desenvolvem estratégias comportamentais que permitem maior resiliência. Já a estrutura da vegetação das savanas é fortemente afetada pelo fogo, o que pode prejudicar alguns animais, indiretamente.

erva-de-passarinho (Psittacanthus biternatus), planta parasita que ocorre nas savanas e igapós e floresce o ano inteiro — Foto: Rodrigo Fadini/Arquivo pessoal

erva-de-passarinho (Psittacanthus biternatus), planta parasita que ocorre nas savanas e igapós e floresce o ano inteiro — Foto: Rodrigo Fadini/Arquivo pessoal

A pesquisa mostra também que ocorre uma “fragmentação natural” em fragmentos florestais na área estudada, que parece afetar alguns grupos de espécies (como árvores, aves e formigas), mas não outros (como morcegos e pequenos mamíferos não voadores).

Fadini explica que o desenvolvimento de pesquisas na região ajudou na criação da Área de Proteção Ambiental (APA) de Alter do Chão em 2003, iniciativa com forte participação popular. No entanto, ela não foi suficiente para ordenar a ocupação do território pelos empreendimentos imobiliários na região.

“Nos últimos anos, diversas parcelas foram destruídas por loteamentos clandestinos, construções irregulares, construção de estradas e outros empreendimentos que não levam em conta a existência de uma Unidade de Conservação ali”, enfatiza Fadini.

Após quase 20 anos de criação, a APA Alter do Chão ainda não produziu seu plano de manejo, o que gera insegurança para a continuidade das pesquisas.

“Apresentamos os resultados desses estudos padronizados realizados nas savanas e fragmentos florestais próximos a Alter do Chão, mas também discutimos os prospectos futuros e ameaças ao sítio de estudo, ressaltando a importância de incorporar os moradores de Alter do Chão no planejamento de uso da terra daquela região”, concluiu.

Fonte: G1 Santarém

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