Três etnias indígenas da região do Xingu uniram forças e bloquearam, nesta terça-feira (17/9), a BR-230, conhecida como Rodovia Transamazônica, entre Altamira e Belo Monte, no sudoeste do Pará. Segundo os indígenas, a manifestação tem como objetivo exigir melhorias para as comunidades que teriam sido afetadas pela construção da Usina Belo Monte.
Com a manifestação, rapidamente se formou uma fila de veículos em ambos os sentidos da estrada. O bloqueio, que começou com a chegada dos indígenas ao local, gerou transtornos e atrasos para quem precisava trafegar pelo trecho. Entre os afetados estava João Alves, agricultor da região, além de passageiros que estavam em transportes alternativos.
De acordo com os manifestantes, a principal reivindicação dos indígenas é o cumprimento das condicionantes da Usina Hidrelétrica Belo Monte, construída pela empresa Norte Energia. Segundo as lideranças, os serviços prestados pela empresa não têm atendido às necessidades das comunidades, que relatam uma drástica mudança em suas rotinas e habitats após a construção da usina. Entre os impactos, destacam a precariedade no atendimento médico, exigindo uma atenção especial às comunidades indígenas.
O bloqueio não afetou apenas os moradores locais. Marta Fagundes, esteticista grávida de dois meses, estava a caminho de Altamira quando foi surpreendida pela barreira. Ela relatou o desespero ao se deparar com o bloqueio, pois estava em uma situação delicada de saúde e precisava continuar a viagem.
Com o passar do tempo, o número de veículos parados na rodovia só aumentava. Motoristas e passageiros começaram a buscar abrigo no pátio de um posto de combustível localizado na entrada do km 27. Jhon, comerciante que transportava uma carga de verduras de São Paulo, estava preocupado com o destino de seus produtos devido ao tempo de viagem e à temperatura elevada.
Após quase nove horas de bloqueio total, os manifestantes começaram a liberar parcialmente a rodovia, permitindo a passagem de veículos a cada seis horas, sendo a primeira às 12h30, depois às 18h30 e por último às 22h. No entanto, as lideranças indígenas deixaram claro que não pretendem encerrar o protesto até que suas demandas sejam atendidas.
A Polícia Rodoviária Federal (PRF) de Altamira acompanha de perto a manifestação e tem procurado manter uma intermediação entre os manifestantes e as autoridades competentes. A PRF informou que a interdição no local continua na manhã desta quarta-feira (18/9).
Outros pontos bloqueados
Foto: A Voz do Xingu
A manifestação dos indígenas começou na última segunda-feira, com o bloqueio da estrada que dá acesso ao Aeroporto de Altamira, em frente ao escritório da empresa Norte Energia e também nas proximidades do aeroporto. Apesar dos bloqueios, até o momento, ninguém foi impedido de viajar de avião.
Posicionamento da Empresa Norte Energia
Em relação às alegações dos indígenas sobre serem “impactados pelo empreendimento, como a dificuldade de acesso ao rio e a escassez de pesca e caça”, a Norte Energia, concessionária da Usina Hidrelétrica Belo Monte, esclarece que:
No âmbito do Projeto Básico Ambiental do Componente Indígena (PBA-CI), a companhia investiu, até o momento, cerca de R$ 1,2 bilhão e executa 42 programas e projetos, aprovados pela Funai em 2012, com destaque em educação, saúde, preservação do patrimônio cultural, atividades produtivas, proteção territorial e ambiental. Além de outras benfeitorias.
Ainda de acordo com a nota emitida pela Norte Energia, no início da execução do Plano Básico Ambiental (PBA-CI), a população indígena do Médio Xingu estava distribuída em 34 aldeias, com cerca de 2 mil indígenas. Hoje, são 151 aldeias, com 5 mil indígenas, vivendo em um território de aproximadamente 5 milhões de hectares, muito além da área de influência direta do empreendimento. A companhia atua, presencialmente, em todas elas, na execução de seus compromissos. A Norte Energia atende ainda cerca de 3,5 mil indígenas em contexto urbano.
Quanto aos resultados de monitoramentos do Projeto Básico Ambiental (PBA) da usina, sobre os peixes, os estudos conduzidos pela Universidade Federal do Pará (UFPA), demonstram que a maioria das espécies manteve a proporção de peixes maduros ao longo de 12 anos de estudo na região da Volta Grande do Xingu. Algumas espécies tiveram mudanças no padrão de reprodução, cenário previsto no Estudo de Impacto Ambiental (EIA) do empreendimento. Contudo, não ocorreu a extinção de qualquer espécie de peixe nas áreas de influência do empreendimento.
Por Patrícia Pires e Wilson Soares (A Voz do Xingu / TV Vitória)