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Audiência pública discutiu impactos da doença de Haff

Assembleia Legislativa do Pará recebeu representantes do setor para avaliar situação econômica provocada pelos casos suspeitos

Foto: Balthazar Costa/Alepa
Foto: Balthazar Costa/Alepa
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A Assembleia Legislativa do Estado do Pará sediou uma audiência pública na manhã desta quarta-feira (22) sobre os impactos da síndrome de Haff no Pará, em especial para o setor dos pescados.

Os comerciantes têm observado queda nas vendas desde que os primeiros casos foram confirmados no território paraense, tendo espécies como o pacu, o tambaqui e a pirapitinga como suspeitas de propagarem a doença.

O debate ocorreu no auditório João Batista, que estava lotado para a ocasião, e foi proposto pelo deputado Orlando Lobato (PMN), que também preside a Comissão Permanente de Apoio à Pesca e Aquicultura, implantada este ano na casa.

Segundo ele, o encontro teve como objetivo esclarecer dúvidas sob um ponto de vista científico e ouvir a cadeia econômica do pescado.

“Estamos diante de um problema grave, instalado em um setor importantíssimo para o nosso estado, que dá posto de trabalho para milhares, move a economia. Estamos todos apavorados”, relatou ele. 

Lobato também teceu críticas às fake news nas redes sociais e à cobertura noticiosa da imprensa paraense.

Ele afirmou que tudo ainda é muito especulativo e sem comprovação. Já o deputado Jacques Neves (PSC), por ser médico, preferiu se ater às reflexões técnicas sobre o tema, mas também concordou com o colega de parlamento.

“A gente já vive tão assoberbado pela pandemia e esse alarde foi criado pelo mundo globalizado, pelas redes sociais e pela imprensa, mas não há motivo para isso. Nossos casos são muito diminutos. É importante lembrar também que outras doenças renais também apresentam sintomas parecidos”, ponderou o deputado.

Pelo lado científico da audiência, estiveram presentes Rosário Furtado, coordenadora do curso de engenharia de pesca da Universidade Federal Rural da Amazônia, Veronilce Borges, do Centro de Informações Estratégicas em Vigilância em Saúde do governo estadual, e Marcos Mota, pesquisador do Instituto Evandro Chagas.

Mota destacou que no momento todos os esforços do instituto estão dedicados para investigar e elaborar pareceres que esclareçam as dúvidas sobre a doença.

Ele lembrou que, por enquanto, se sabe que de fato a absoluta maioria dos casos é proveniente do consumo de peixe, mas é preciso entender melhor quais peixes, o porquê deles estarem potencializando esta doença, o que comem e onde vivem.

“É uma doença inusitada, com característica de surto. Mas a grande maioria das pessoas que a adquirem evoluem bem. Alguns casos são inclusive descartados quando chega um diagnóstico positivo para outra doença”, afirmou. 

Não há diagnóstico específico ainda para a doença de Haff, mas o exame de taxa de creatinofosfoquinase (enzima conhecida pela sigla CPK) é o que mais se aproxima disso. Ao causar qualquer necrose muscular, essa enzima é liberada em quantidades acima da média considerada normal.

Enquanto pessoas não infectadas mantêm taxas entre 30 a 200 CPK, pacientes da síndrome de Haff batem a casa dos 1000 no teste.

“É o instrumento que temos no momento. De qualquer forma, sempre é suspeita de doença de Haff qualquer dor muscular combinada com urina concentrada e escura quando observado que a pessoa comeu peixe nas últimas 24 horas, sem apresentar febre. O tempo de incubação da doença é entre 6 e 8 horas”, explicou Veronilce Borges. 

Ela enumerou que até o momento há 10 casos suspeitos registrados no Pará: cinco em Santarém, três em Belém, um em Trairão e outro em Almerim: “em Belém tivemos um registro positivo para pescada amarela.

Já outro, de um paciente que consumiu filhote, foi descartado. Os sintomas eram os mesmos, mas ele diagnosticou positivo para leptospirose”.

Todos os três concordaram que evitar o consumo de pescado é uma medida desproporcional considerando o número de casos e que, no momento, o ideal seria garantir a rastreabilidade dos pacientes e peixes consumidos para que as pesquisas se aprofundem na missão de verificar as causas da síndrome. 


Também fizeram parte da audiência Daniel Bandeira, presidente da Associação de Balanceiros e Comerciantes de Pescado, e Fernando Souza, presidente do Sindicato de Peixeiros de Belém.

Bandeira afirmou que todas as informações técnicas devem ser espalhadas para toda a sociedade, seja por campanhas educativas ou pelas redes sociais e imprensa. 

“O setor dorme e acorda preocupado. Eu também. Não é fácil você comercializar um pescado. Belém tinha 90 toneladas vendidas por dia e agora tem 10. Não quero culpar ninguém. Fechamos a Castilho França e a avenida Portugal pois tínhamos que ter voz, era a única maneira disso [a audiência] acontecer aqui hoje. Tem balanceiro perdendo de dois a três mil reais por dia e a gente não teve um apoio”, conta. 

Já Fernando Souza tem 42 anos como comerciante no Ver-o-Peso e diz nunca ter visto nada parecido.

Ele acha que a imprensa precisa dar um tempo no assunto e que os pescadores e entidades do setor precisam ser incluídos nos grupos de trabalho que o governo estadual instaurou sobre o tema.

“Nesse período de 20 dias tivemos muitas dúvidas e podemos tirar muitas delas aqui. Foi uma ótima iniciativa. 90% das nossas vendas caíram. E gente, é uma cadeia. Um efeito dominó na categoria. Do balanceiro ao dono da embarcação. Precisamos combater as fake news, mostrar a verdade para que a população volte a consumir o pescado”, afirmou.
 

Fonte: O Liberal

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