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IRMÃ DOROTHY – 16 anos da morte brutal, em Anapu : comitê homenageia memória

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Com o tema “Amazônia: lugar de luta e utopia. 16 anos do Martírio de Dorothy Stang”, o comitê Dorothy organiza uma série de atividades virtuais como forma de dialogar com a sociedade sobre o legado da missionária norte-americana, de 73 anos, assassinada em uma estrada de Anapu, Pará, com seis tiros, a mando de fazendeiros, no dia 12 fevereiro de 2005.

São momentos construídos a partir das cartas da missionária que levam a denúncia, celebração, arte, memória e ocorrem desde ontem, 10, até amanhã, 12, na página Facebook do Comitê Dorothy, em conjunto com outros movimentos sociais e organizações parceiras.

Segundo nota enviada ao Ver-o-Fato, ela era defensora dos direitos ambientais, agrárias e de direitos humanos. “Irmã Dorothy abraçou, em parceria com representantes de sindicatos rurais e da Pastoral da Terra, a missão de desenvolver projetos sustentáveis para a geração de emprego e renda com reflorestamento em áreas degradadas. Seu objetivo era promover melhores condições de vida e de trabalho para a população de Anapu, pequena cidade do Pará a 600 quilômetro de Belém. O nome de Dorothy Stang se tornou sinônimo de resistência no campo, inspirando novas gerações de ambientalistas e abrindo caminho para a consolidação dos assentamentos do Projeto de Desenvolvimento Sustentável (PDS) Esperança e Virola Jatobá, em Anapu (PA), com mais de 600 famílias”.

Para Alcidema Coelho, organizadora do evento na Internet, “a Amazônia não consegue respirar, está sufocada pelo avanço das queimadas. De acordo com o INPE, a Amazônia foi o bioma mais afetado pelas queimadas em 2020, 45% dos casos registrados no país durante o ano, ocorreram na região e teve também o maior desmatamento dos últimos 5 anos”.

O relatório da Comissão Pastoral da Terra (2020), por outro lado, registrou 1.489 conflitos no campo em todo o Brasil, sendo que 56% desses conflitos concentraram-se na Amazônia; 482 mulheres sofreram violência em conflitos no campo. Dos 28 assassinatos em decorrência dos conflitos agrários, 24 foram na Amazônia. No dia 26 de janeiro de 2021 foi brutalmente assassinado Fernando dos Santos Araújo, sobrevivente e principal testemunha do Massacre de Pau D’arco. Diz Alcidema Coelho que o maior legado da Dorothy é “a luta e a organização do povo em defesa da floresta, da Amazônia. Em tempos de sufocamento da Amazônia, o nosso oxigênio é a luta”

História de luta

Freira norte-americana naturalizada brasileira, Dorothy pertencia à congregação católica internacional Irmãs de Nossa Senhora de Namur, ao lado de mais de 2 mil mulheres que realizam trabalho pastoral pelo mundo. Ela começou a atuar no Brasil em 1966, em Coroatá (MA). Em 1972, foi para a Amazônia e se instalou na Vila de Sucupira, berço da pequena cidade de Anapu (PA), inaugurada em 1972 para abrigar trabalhadores que construíam a Rodovia Transamazônica (BR-230).

A sua missão ali era promover uma vida digna, por meio da agricultura camponesa, às pessoas que passaram a habitar a região. Ela ajudou a fundar Escola Brasil Grande, primeira dedicada à formação de professores do município, em parceria com a Comissão Pastoral da Terra (CPT). Uma de suas principais iniciativas — e a que mais incomodava os poderosos da área — foi o Projeto de Desenvolvimento Sustentável (PDS) Esperança.

Com área de 32 mil hectares e ligado ao Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), a proposta tem como objetivo beneficiar 400 famílias ao reverter a lógica de desenvolvimento focado em crescimento econômico pela adoção de um modelo capaz de conciliar a atividade produtiva e o respeito ao ambiente. Por quatro décadas de atuação, ela foi premiada, em 2004, pela Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-Pará) pela luta em defesa dos direitos humanos.

O assassinato

Irmã Dorothy foi assassinada com seis tiros, aos 73 anos, em 12 de fevereiro de 2005. Ela sofreu uma emboscada na estrada que leva ao lote 55 do PDS Esperança, onde se encontraria com técnicos do Incra para discutir detalhes do projeto. O crime foi encomendado por dois fazendeiros: Vitalmiro Bastos de Moura, o Bida, e Regivaldo Pereira Galvão, o Taradão, grileiros que brigavam por posse de terras pertencentes à União.

Ambos foram condenados a 30 anos de detenção. Bida está em prisão domiciliar desde 2015. Taradão foi preso somente em abril do ano passado, depois de aguardar a maior parte dos catorze anos em liberdade. O intermediário do assassinato, Amair Feijoli da Cunha, o Tato, foi condenado a 18 anos de prisão — e em 2010 passou a cumprir a pena em domicílio.

O autor dos disparos, Rayfran das Neves Sales, foi condenado a 27 anos. Em 2013, ele passou a cumprir prisão domiciliar e, em 2014, cometeu outro assassinato. Seu comparsa, Clodoaldo Carlos Batista, o Eduardo, teve pena de 17 anos e a cumpre em regime semi-aberto. Saiba mais sobre Bida e Taradão na série De Olho nos Desmatadores: “Multas do Ibama para assassinos de Dorothy Stang prescreveram ou ainda não foram pagas“.

Fonte: Ver-o-Fato

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