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Metade das mulheres no Pará não tem acesso à água tratada, diz Trata Brasil

Cosanpa pontua que investe mais de R$ 1 bi e garante custeio mensal para 170 mil famílias

Foto: Ivan Duarte / O Liberal
Foto: Ivan Duarte / O Liberal
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O desafio do saneamento básico no Brasil tem reflexos também no Pará, onde metade das mulheres não têm acesso à água tratada, como indica estudo feito pelo Instituto Trata Brasil. A pesquisa foi conduzida pelo Instituto e EX Ante Consultoria Econômica, em parceria com a BRK Ambiental e apoio da Rede Brasil do Pacto Global, para mensurar o impacto negativo da falta de saneamento na vida das mulheres brasileiras ainda é latente.

No Brasil, segundo o levantamento, o número de mulheres que residem em casas sem coleta de esgoto saltou de 26,9 milhões para 41,4 milhões entre 2016 e 2019, ou seja, uma taxa de crescimento de 15,5% ao ano do número de brasileiras afetadas pelo problema. Nesse mesmo período, a população feminina prejudicada pela falta de água tratada passou de 15,2 milhões para 15,8 milhões e a ausência do serviço regular afeta 24,7 milhões. Já o índice de mulheres sem banheiro em casa cresceu 56,3% no acumulado do período, passando de 1,6 milhão para 2,5 milhões.

Estes dados são da segunda edição do estudo “O Saneamento e a Vida da Mulher Brasileira”. O primeiro relatório foi lançado em 2018. Os estudos completos estão disponíveis no site do Instituto Trata Brasil. O levantamento atual se baseia nas informações da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Continuada do IBGE (PNADC), da Pesquisa Nacional de Saúde do IBGE e do Sistema Único de Saúde (DATASUS), considerando os dados de 2016 (base para o primeiro estudo) e 2019 (dados mais recentes do PNADC e do DATASUS).

Água

De acordo com o estudo, a falta de acesso à água tratada abrange:  no Brasil  – 15,8 milhões de mulheres sem água tratada; 14,6% da população e 40,7% Norte. As taxas de mulheres sem acesso a esse produto na Região Norte envolvem: Rondônia – 54,7%; Pará – 50,1%; Amapá – 44,8%;  Acre – 43,1%; Amazonas – 26,1%; Tocantins – 16,4% e Roraima – 11,6%.

No Brasil, sem água tratada são: 15,8 milhões de mulheres; 14,6% da população;  40,7% no Norte.

No Pará, são 568 mil mulheres sem banheiro em casa; 3,8 milhões sem coleta de esgoto. As doenças por veiculação hídrica em mulheres no Pará reúnem: Afastamentos: 210,8 mil;  Acamadas: 115 mil;  Internações no SUS: 3,2 mil; Mortes: 961. Outras 121 mil foram afastadas por problemas ginecológicos relacionados ao saneamento.

Investimentos

A Companhia de Saneamento do Pará (Cosanpa) informa que os dados utilizados na pesquisa são de 2016 e 2019, portanto, ainda não refletem as ações iniciadas pela atual gestão do Governo do Estado. 

“A partir de 2019, a Cosanpa retomou 13 projetos parados e iniciou novas obras nos municípios paraenses. Mais de R$ 1 bilhão estão sendo investidos pela Companhia. Além disso, em setembro do ano passado, a companhia lançou o programa Água Pará que garante o custeio mensal de até 20 metros cúbicos para população de baixa renda, atualmente mais de 170 mil famílias já estão cadastradas, o que representa 700 mil pessoas beneficiadas”, acrescenta o órgão estadual.

Alerta

O médico clínico geral William Rodrigues Costa, residente em Clínica Médica no Hospital de Clínicas Gaspar Vianna, destaca que a população feminina representa mais da metade da população brasileira, o que traduz a extrema necessidade de uma abordagem com maior cuidado sobre a relação do saneamento básico com esse público. ”A qualidade da água é sinônimo de qualidade de vida, e a forma de garantir isso ocorre por meio do sistema de saneamento básico. Mas quando falamos de água tratada, também falamos de serviços em esgotamento sanitário, limpeza urbana e manejo de resíduos sólidos. Diversas são as patologias que podem acometer as mulheres que não têm acesso à água de qualidade, como quadros de diarreia, perda de apetite, náuseas e anemia, causados por verminoses e protozoários, as quais podem evoluir a quadros graves de obstrução intestinal ou infecções respiratórias”, observa.

O médico pontua que a dificuldade ao acesso de condições de higiene adequadas favorece a riscos aumentados de infecções urinárias ou mesmo doenças inflamatórias pélvicas, as quais podem evoluir de forma mais grave e necessitar de internação hospitalar para tratamento adequado. Sem esquecer das infecções virais, como a Hepatite A.

“Podemos, então, perceber que o acesso à água de qualidade, bem como a adequação da estrutura sanitária em geral, coleta regular de lixo, drenagem dos esgotos, melhoria habitacional e melhoria no acesso aos serviços de saúde básica, sobretudo nas áreas mais carentes e periféricas, são de fundamental importância para salvaguardar a população feminina em geral”, arremata William Rodrigues. 

Desafios

Com quase 100 milhões de pessoas ainda sem acesso à coleta de esgoto e 35 milhões de brasileiros sem acesso à água tratada, o Brasil coleciona desafios quando o assunto é o acesso ao saneamento básico. Com o Marco Legal do Saneamento (Lei Federal 14.026/2020) aprovado em julho de 2020, o país prevê reverter este cenário preocupante. 

A pesquisa do Instituto Trata Brasil faz um recorte da população feminina para mostrar que a desigualdade de gênero está presente em todos os estágios da vida da mulher, com reflexos na vida pessoal e profissional. Além das atividades do dia a dia, as mulheres costumam ser as responsáveis pelas tarefas domésticas e os cuidados com a família e, ao serem afetadas por problemas relacionados ao saneamento, precisam se dedicar exclusivamente aos cuidados com a família. Com o bem-estar limitado, elas sofrem consequências na saúde, na educação e no tempo dedicados às atividades domésticas e econômicas.

Nesta edição, o Instituto mostra que as mulheres mais pobres têm um esforço econômico 16 vezes maior para conseguir comprar produtos de higiene pessoal, comparado com a população feminina de maior renda. Mulheres sem acesso à água tratada comprometem uma parcela maior da renda com a compra de absorventes e coletores menstruais, o impacto é 36% superior. Para aquelas que vivem sem banheiro em casa, o esforço econômico é 64% maior. 

Para a ginecologista Ana Paula Fonseca, “mulheres em seu período de vida considerado fértil, (que acaba sendo uma grande parcela da vida delas), principalmente sendo pobres necessitam de o mínimo de estrutura sanitária e programas de apoio que possam garantir o acesso não só a água tratada , mas a meios que garantam a higiene e saúde tanto quanto a informação! Sendo importante o apoio dessa forma a políticas públicas que visem minimamente diminuir o “peso” mensal,  financeiramente falando, que é suportado por tantas, pelo simples fato de serem mulheres”.

O estudo reforça que o acesso universal ao abastecimento de água e coleta e tratamento de esgoto pode tirar mais de 18 milhões de mulheres da condição de pobreza. “A ausência do saneamento básico é devastadora em todo o país. Não é de hoje que estudamos os impactos que a falta deste serviço essencial causa na sociedade brasileira. Quando olhamos com uma lupa o que acontece na vida das mulheres brasileiras, é mais preocupante ainda. A saúde da mulher é comprometida quando ela habita em áreas sem cobertura de saneamento básico e isso coloca em risco toda uma geração de estudantes e profissionais”,  afirma a presidente executiva do Instituto Trata Brasil, Luana Siewert Pretto.

Confira alguns dados do estudo do Trata Brasil:

Mulheres abaixo da linha da pobreza (milhões)

Bahia 2,685

São Paulo 2,361

Minas Gerais 1,641

Pará 1,632

Maranhão 1,610

Norte – total: 3,270

Brasil: 21,752

Água tratada

15,8 milhões de mulheres sem água tratada

14,6% da população

40,7% Norte

Rondônia 54,7%

Pará 50,1%

Amapá 44,8%

Acre 43,1%

Amazonas 26,1%

Tocantins 16,4%

Roraima 11,6%

Mulheres e o Saneamento no Pará:

568 mil sem banheiro em casa

3,8 milhões sem coleta de esgoto

Doenças por veiculação hídrica em mulheres no Pará

Afastamentos: 210,8 mil

Acamadas: 115 mil

Internações no SUS: 3,2 mil

Mortes: 961

Outras 121 mil foram afastadas por problemas ginecológicos relacionados ao saneamento.

Fonte: O Liberal

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