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Onda de violência em Altamira: 12 mortes ligadas a facções criminosas continuam sem respostas no Pará

Foto: Reprodução das Redes Sociais
Foto: Reprodução das Redes Sociais
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A onda de violência em Altamira, sudeste do Pará, que deixou 12 pessoas executadas a tiros em duas semanas, continua sem respostas das autoridades em segurança. Uma força-tarefa foi montada na cidade à época dos crimes, mas até então, ninguém foi preso.

A Polícia Civil informou nesta sexta-feira (27) que “todos os casos estão sendo investigados”. A corporação disse que alguns dos envolvidos foram identificados, mas não afirmou quantos.

Ainda segundo a PC, “diligências estão sendo realizadas para ouvir testemunhas e localizar os demais responsáveis pelos crimes”.

Um suspeito de envolvimento em assassinato ocorrido em uma barbearia da cidade foi morto em tiroteio com a Polícia. Ele não teve a identidade divulgada.

Os assassinatos foram entre 2 a 14 de maio – veja a cronologia no infográfico. A maioria das vítimas foram mortas a tiros na porta de casa, sem chance de defesa. Todos os crimes possuem características de execução e estão ligados a facções criminosas, segundo o governador Helder Barbalho (MDB).

Um dos casos que mais chocou os moradores foi uma chacina em uma distribuidora de bebidas, na noite de sábado (14). Quatro pessoas foram mortas e quatro ficaram feridas.

Outro assassinato neste mesmo dia foi o de Marcelino Souza, de 31 anos, morto a tiros dentro de casa.

Marcelino Souza durante uma ação de distribuição de alimentos para comunidades carentes. — Foto: Divulgação
Marcelino Souza durante uma ação de distribuição de alimentos para comunidades carentes. — Foto: Divulgação

Marcelino trabalhava na Associação dos Moradores da Reserva Extrativistas do Iriri (Amoreri). Segundo um dos coordenadores, que preferiu não se identificar, o rapaz chegou em 2019 na associação e sempre foi uma pessoa dedicada ao trabalho.

Fui eu quem contratou ele. Nunca vimos uma má conduta nas suas ações. Pelo contrário, ele sempre foi dedicado ao trabalho e à igreja”, afirma o coordenador.

A Amoreri ajuda a promover produtos da sociobiodiversidade da região, como a castanha-do-Pará, borracha natural, babaçu e sementes nativas. Marcelino Souza era responsável por receber, registrar e organizar esses produtos.

Ele organizava para depois distribuímos esses produtos para nossos clientes. Infelizmente, naquele dia estava na companhia de um amigo, lavando a moto. De repente, alguns homens já chegaram atirando e ele morreu no local. O amigo conseguiu escapar”, conta o coordenador da Amoreri.

Amoreri emitiu nota de pesar pela morte do extrativista Marcelino de Sousa — Foto: Reprodução
Amoreri emitiu nota de pesar pela morte do extrativista Marcelino de Sousa — Foto: Reprodução

A esposa da vítima diz que a família está até agora se perguntando por que isso aconteceu com ele. Ela também pediu para não ser identificada.

O povo dizia que o rapaz que estava com ele era errado. Quando esse rapaz se sentia aflito, ele ia atrás do meu esposo, para conversar, falar de Deus. O rapaz falou para o meu esposo que estava com muito medo. Meu marido mal sabia que iria morrer para salvar aquela pessoa aflita”, lamenta.

Conflitos entre facções

De acordo com o governo do Pará, as doze execuções registradas em duas semanas em Altamira podem estar ligadas a conflito entre facções criminosas na cidade.

Para o pesquisador Aiala Colares, do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, a cidade de Altamira está em uma zona de conflito por conta do crescimento urbano espontâneo e da falta de políticas públicas.

Isso favoreceu o surgimento e fortalecimento de facções criminosas, pois a cidade destaca-se enquanto uma importante rota do tráfico de cocaína que entra pelo Amazonas”, explica.

Aiala Colares explica que a zona de conflitos presente em Altamira é uma “das heranças perversas da construção de Belo Monte”.

O Pará é um estado que ainda sofre com a violência por conta de questões fundiárias. Os últimos dados sobre mortes violentas destacam uma interiorização da violência”, afirma.

Em resposta às ações do Estado sobre a chacina na distribuidora de bebidas, o governador Helder Barbalho disse que a Divisão de Homicídios e também o Núcleo de Inteligência para reforçar a estratégia investigativa na cidade. Os agentes, que saíram de Belém para Altamira, já deixaram a cidade.

As linhas já previamente estabelecidas de investigação nos levam a perspectivas reais de punição e apreensão dos criminosos neste conflito entre facções criminosas“, havia afirmado o governador.

Segundo o pesquisador do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, a série de assassinatos que vêm ocorrendo em Altamira reforçam a necessidade de uma presença mais efetiva do Estado.

Essa presença não pode ser apenas das forças de segurança pública, mas também, uma afirmação a partir de projetos sociais e políticas públicas que gerem oportunidades e cidadania”, afirma.

Crimes em sequência

Na noite de sábado (14), uma câmera de segurança registrou um grupo de pessoas sentadas em um bar, quando atiradores chegam e disparam à queima roupa atingido oito vítimas (veja no vídeo abaixo – IMAGENS FORTES).

Vídeo mostra chacina que deixou, ao menos, 4 mortos em Altamira

Na chacina, três vitimas morreram no local, uma no hospital e outras quatro foram levadas para unidades de saúde. Um outro crime havia ocorrido horas antes deixando uma pessoa morta.

Segundo a Polícia local, o tipo de armamento utilizado nos crimes é parecido entre os casos, que ainda têm a relação investigada pelas autoridades de segurança.

Os crimes foram nos seguintes locais:

– cinco na casa das vítimas;

– quatro na chacina em bar; duas em uma barbearia;

– e uma em chácara na zona rural de Altamira. 

Sobre o aumento da criminalidade, o governador afirma que a cidade de Altamira, que já figurou entre as mais violentas do país, apresentou redução na criminalidade. Ele considerou a onda de violência como “situação atípica”, mas pediu celeridade ao Judiciário e à promotoria de Justiça nos casos.

“É fundamental o diálogo com o Poder Judiciário e o Ministério Público para que haja celeridade nas decisões de cautelares, já que as linhas investigativas proferidas pela Polícia Civil já nos colocam o que está gerando aumento de criminalidade, especificamente em Altamira”.

No entanto, os inquéritos policiais ainda estão avançando, segundo a PC.

Execuções em Altamira: Infográfico mostra quem são as vítimas e onde crimes ocorreram. — Foto: Arte / g1
Execuções em Altamira: Infográfico mostra quem são as vítimas e onde crimes ocorreram. — Foto: Arte / g1

Fonte: G1 PA

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