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Um mês após assassinato de família de ambientalistas no PA, MPF denuncia omissão de autoridades e avalia federalizar investigações

Família foi assassinada a tiros em São Félix do Xingu. Ninguém foi preso pelo triplo homicídio.

Foto: Divulgação
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Um mês após o assassinato de uma família de ambientalistas em São Félix do Xingu, no sudeste do Pará, o crime permanece sem respostas. Até então, nenhum suspeito foi identificado ou preso. O Ministério Público Federal (MPF) afirma que guarda há mais de 15 dias por informações das autoridades sobre as investigações da morte de José Gomes, Márcia Nunes Lisboa e a filha deles, Joene Nunes Lisboa. Diante da omissão das autoridades estaduais, o MPF, em reunião nesta quarta-feira (9), anunciou que avalia federalizar o caso.

A família de José Gomes, conhecido como Zé do Lago, vivia há mais de 20 anos na localidade conhecida como Cachoeira da Mucura e desenvolvia um projeto ambiental de proteção de quelônios, repovoando as águas do Xingu com filhotes de tartarugas todos os anos. Os corpos foram encontrados no dia 9 de janeiro deste ano e, pelo estado de decomposição das vítimas, o crime teria ocorrido cerca de três dias antes. As suspeitas iniciais são de que os autores do crime sejam pistoleiros. A motivação segue sendo apurada.

Para o MPF, os fatos são de extrema gravidade e se inserem em um contexto de reiterados ataques a ambientalistas e defensores de direitos humanos no país. Os fatos são investigados pela Divisão de Homicídios do município de Marabá e pelo Núcleo de Apoio à Investigação da Polícia Civil de Redenção e são acompanhados por órgãos de proteção aos direitos humanos, como a Anistia Internacional.

Sem informações

O MPF enviou em 14 de janeiro pedidos de informações ao Núcleo de Apoio a Investigações da Polícia Civil, à Delegacia de Homicídios e à Polícia Militar do Pará. De acordo com o MPF, apenas a PM respondeu aos ofícios, informando que ofereceu proteção policial aos familiares das vítimas da chacina.

Entidades de defesa de direitos humanos também pediram informações às autoridades estaduais sem receber resposta. A Comissão de Defesa dos Direitos Humanos Dom Paulo Evaristo Arns enviou ofício à Secretaria de Segurança Pública do Pará (Segup) e ao chefe da Casa Civil, pedindo a apuração célere e eficiente, com equipe técnica qualificada e recursos disponibilizados.

A Sociedade Paraense de Defesa dos Direitos Humanos (SDDH) também pediu, em ofício ao delegado geral da Polícia Civil, que fossem disponibilizados os recursos necessários para a investigação e que as providências adotadas fossem informadas. Não houve nenhuma resposta.

Federalização

Em reunião nesta quarta-feira (9), as entidades alertaram o MPF sobre o silêncio das autoridades estaduais a respeito do crime e novas providências podem ser adotadas. Não está descartada a hipótese de um Incidente de Deslocamento de Competência (IDC), figura jurídica que prevê, excepcionalmente em caso de omissão das autoridades estaduais, que o caso passe a ser investigado na esfera federal.

Em outra frente, o MPF também abriu um procedimento específico para apurar por que a Secretaria de Segurança Pública do Pará deixa de responder os pedidos de informação feitos por entidades defensoras de direitos humanos. No ano passado, a Comissão Pastoral da Terra (CPT) e a SDDH já tiveram documentos deixados sem resposta pelas autoridades estaduais.

Levantamentos da CPT nas últimas quatro décadas apontam para o assassinato de 62 trabalhadores rurais e lideranças em conflitos de terra no município de São Félix do Xingu e até agora nenhum dos casos foi resolvido pelas autoridades do sistema de Justiça.

Em relatório do ano passado da organização não governamental Global Witness, o Brasil aparece como o 4º do mundo com maior número de ambientalistas assassinados. No procedimento que abriu para acompanhar o caso, o MPF deve cobrar das autoridades providências e investigações céleres sobre os crimes dessa semana.

Fonte: G1 Pará

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