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Inverno amazônico deve afetar oferta e preços de frutas

Condições climáticas, custos logísticos e menor produção de algumas culturas influenciam nos valores dos produtos

Cristino Martins / O Liberal
Cristino Martins / O Liberal
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A ocorrência de chuvas mais intensas no último mês de novembro anunciaram a aproximação do período popularmente conhecido como inverno amazônico, que coincide com a época de verão em regiões onde o clima é mais definido. Por um lado, as precipitações mais frequentes significam um alívio nas altas temperaturas, porém também alteram a colheita de frutos bastante consumidos no dia a dia, como a laranja e a tangerina.

De acordo com o mestre em agronomia e pesquisador da Embrapa Amazônia Oriental, José Urano de Carvalho, as frutas cítricas são produzidas ao longo de todo o ano, mas entre os meses de janeiro a junho as colheitas são menores com as chamadas safras temporãs. “A maior produção de laranja e tangerina ocorre no segundo semestre. Esse ano, a safra de tangerina não foi muito boa e, apesar do Pará ter uma boa produção de citrus, ainda importamos muita laranja de estados como São Paulo”, comenta o pesquisador.

Com diminuição da oferta aliada aos custos de transporte, a tendência natural do mercado é que essas frutas sofram com elevação de preços nos próximos meses. O mesmo efeito deve ser observado com o maracujá devido a influência do abastecimento do estado depender do Nordeste, apesar do fruto ser típico da Amazônia.

“O maracujá se produz em todos os meses, mas o pico de produção é entre agosto e outubro. Hoje, o preço da polpa custa, em média, de R$ 10 a R$ 12, sendo que era uma das mais baratas no início dos anos 2000 rivalizando com o caju. Nessa época, o Pará chegou a ser responsável por 40% da produção nacional, hoje respondemos por apenas 2%”, afirma Urano, que elenca alguns fatores que contribuíram para esse fenômeno.

“Alguns agrônomos atribuem isso a proliferação de doenças, mas nessas outras regiões também ocorreu e mesmo assim teve aumento da produtividade. Eu atribuo isso a expansão dos plantios de açaizeiro e cacaueiro, que foram eliminando outras culturas. Isso é uma questão de política estadual”, avalia o pesquisador.

Da mesma forma, a manga do tipo bacuri cultivada localmente tem perdido espaço para a variedade palmer, oriunda da região vizinha. “Se você entrar nos mercados e feiras livres, a variedade palmer é mais encontrada e é bastante aceita no mercado estrangeiro. Por aqui, ela é comercializada em torno de R$ 5,89, enquanto a manga bacuri é vendida por cerca de R$ 6,99, sendo que a palmer é importada de Pernambuco com todos os custos de irrigação, embalagem, transporte e mesmo assim chega aqui com preços mais competitivos”.

Nesse cenário, Urano de Carvalho acredita, inclusive, que tende a aumentar a participação de outros estados no abastecimento interno. “Eu asseguro que as indústrias de polpas vão importar mais goiaba, taperebá, caju e acerola porque não vai ter produção suficiente aqui no estado por conta dessa expansão do açaí em detrimento de outras culturas. Até mesmo a banana, que ainda tem grande importância, vem caindo a área de plantio. Nós tínhamos cerca de 50 mil hectares de plantio de banana e agora caiu para cerca de 40 mil hectares”.

No Mercado do Ver-o-Peso, a oferta de frutas é sempre grande, no entanto, mesmo por lá, os feirantes tem notado o encarecimento e até o “desaparecimento” de alguns alimentos comuns na dieta dos paraenses. “A manga vai dar uma quebrada agora. Vai cair mais o preço daqui pra janeiro e fevereiro, mas vai ser essa manga comum que a gente encontra por aqui pelas praças. A manga bacuri vai praticamente sumir de circulação nesse período”, confirma Pedro Paulo Ferreira, 56, que há 30 anos trabalha como feirante no local.

Outro produto bastante comum é a banana, que a despeito da expressão popular “a preço de banana”, tem tido reajustes expressivos ao longo do ano. “A banana pegou preço mais alto. Nós chegávamos a comprar de R$ 25 a 30, agora nós estamos pagando R$ 50 por uma caixa de banana com oito dúzias de banana. Quer dizer que a gente tem que repassar para o freguês. Procuramos vender um pouco mais caro pra ter um pouquinho de lucro e tentamos compensar em outras mercadorias”, conta Wilson Rodrigues, 71, que tem mais de 40 anos de serviço na feira.

Período chuvoso favorece frutas regionais

No entanto, o inverno amazônico não é sinônimo apenas de inflação, já que nos próximos meses inicia a safra de frutas típicas, como cupuaçu, bacuri, castanha e pupunha, que aos poucos já começam a ganhar espaço nas barracas dos feirantes da capital. Além desses, outras exóticas, como o rambutã e mangostão, que são típicas da Ásia, também tem lugar de destaque.

Nesta semana, os cachos de pupunha nas diferentes cores e tamanhos na barraca de Pedro Paulo Ferreira já chamava atenção de muitos clientes que passavam pelo Ver-o-Peso. “A gente ainda não tá na safra. Vai começar mesmo a partir de janeiro com pupunha boa e o preço também vai estar bom. A tendência é que o preço vai ser o mesmo do ano passado, que é R$ 10 reais o quilo. Agora nós estamos comprando no quilo. Daqui a uns meses a gente vai começar a comprar sem pesar. As melhores que a gente de R$ 5 a 7, conforme a gente compra do fornecedor”, adianta o feirante.

O feirante Pedro Paulo Ferreira já oferta grandes quantidades de pupunha antes mesmo do início da safra do frutoO feirante Pedro Paulo Ferreira já oferta grandes quantidades de pupunha antes mesmo do início da safra do fruto (Cristino Martins / O Liberal)

castanha-do-pará é outro produto beneficiado por essa época do ano com preços baixando mais de 50%. “No momento ainda temos castanha desse ano e o preço está razoável, saindo a R$ 70 o quilo. Mas daqui pra janeiro ela vai baixar porque começa a safra. Se hoje, o litro dela está entre R$ 10 e R$ 15, quando chega na safra baixa pra R$ 7. Aí fica melhor para nós e para o cliente comprar mais ainda”, diz Rosimar Ferreira, 50, que há 12 anos trabalha vendendo a amêndoa, méis e coco no Ver-o-Peso.

“A safra desse ano de 2022-2023 deve ser melhor que 2021-2022, principalmente para as frutas nativas e algumas produzidas em outros continentes. A maioria delas precisa de um período seco de sete a 15 dias para produzir bem. Esse ano, tivemos condições mais favoráveis, apesar de fatores como a guerra na Ucrânia, que elevou os preços dos adubos”, esclarece o pesquisador Urano de Carvalho.

Frutas típicas, como a castanha-do-Pará, tem produção elevada no período chuvosoFrutas típicas, como a castanha-do-Pará, tem produção elevada no período chuvoso (Cristino Martins / O Liberal)

Conheça o período de safra de algumas fruteiras na Amazônia

  • Abiu – De junho a julho
  • Abricó – De agosto a outubro
  • Açai – De agosto a dezembro
  • Araça-boi – De janeiro a dezembro
  • Bacuri – De janeiro a abril
  • Bacupari – De janeiro a março
  • Camu-camu – De novembro a maio
  • Carambola – De janeiro a dezembro
  • Castanha-do-Pará – De janeiro a abril
  • Cupuaçu – De dezembro a abril
  • Muruci – De setembro a janeiro
  • Pitanga – De janeiro a dezembro
  • Sapotilha – De janeiro a dezembro
  • Taperebá – De outubro a dezembro
  • Uxi – De janeiro a fevereiro
  • Fonte: Embrapa Amazônia Oriental

Fonte: O Liberal

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